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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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disponibilida<strong>de</strong>s e os costumes gerais. A menção aos costumes está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o atu<strong>al</strong> sistema ger<strong>al</strong> civil, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a<br />

notória aproximação entre os diplomas, pois, entre outros, há menção a eles no art. 113 <strong>do</strong> CC/2002.10<br />

Os parâm<strong>et</strong>ros <strong>de</strong>scritos na norma são leva<strong>do</strong>s em conta no problema relativo à limitação para aquisição <strong>de</strong> produtos,<br />

especi<strong>al</strong>mente em supermerca<strong>do</strong>s em dias <strong>de</strong> promoção. Na opinião <strong>do</strong> presente autor, a restrição para a aquisição é possível <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que haja comunicação prévia <strong>do</strong>s estoques, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um limite razoável, o que aten<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> informar <strong>de</strong>corrente da boa-fé<br />

obj<strong>et</strong>iva. Porém, mesmo não haven<strong>do</strong> t<strong>al</strong> comunicação, a jurisprudência superior posiciona-se no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que o consumi<strong>do</strong>r não<br />

tem o direito <strong>de</strong> exigir o produto que está em promoção em quantida<strong>de</strong> incompatível com o consumo pesso<strong>al</strong> ou familiar. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, colaciona-se notória ementa <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça:<br />

“Recurso especi<strong>al</strong>. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Dano mor<strong>al</strong>. Venda <strong>de</strong> produto a varejo. Restrição quantitativa. F<strong>al</strong>ta <strong>de</strong><br />

indicação na oferta. Dano mor<strong>al</strong>. Inocorrência. Quantida<strong>de</strong> exigida incompatível com o consumo pesso<strong>al</strong> e familiar. Aborrecimentos<br />

que não configuram ofensa à dignida<strong>de</strong> ou ao foro íntimo <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. 1. A f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> indicação <strong>de</strong> restrição quantitativa relativa à<br />

oferta <strong>de</strong> d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong> produto, pelo fornece<strong>do</strong>r, não autoriza o consumi<strong>do</strong>r a exigir quantida<strong>de</strong> incompatível com o consumo<br />

individu<strong>al</strong> ou familiar, nem, tampouco, configura dano ao seu patrimônio extramateri<strong>al</strong>. 2. Os aborrecimentos vivencia<strong>do</strong>s pelo<br />

consumi<strong>do</strong>r, na hipótese, <strong>de</strong>vem ser interpr<strong>et</strong>a<strong>do</strong>s como ‘fatos <strong>do</strong> cotidiano’, que não extrapolam as raias das relações comerciais, e,<br />

portanto, não po<strong>de</strong>m ser entendi<strong>do</strong>s como ofensivos ao foro íntimo ou à dignida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cidadão. Recurso especi<strong>al</strong>, ress<strong>al</strong>vada a<br />

terminologia, não conheci<strong>do</strong>” (STJ – REsp 595.734/RS – Terceira Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi – Rel. p/Acórdão Min. Castro<br />

Filho – j. 02.08.2005 – DJ 28.11.2005, p. 275).<br />

Outra questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate refere-se à viabilida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong> os fornece<strong>do</strong>res e presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong>s<br />

consumi<strong>do</strong>res, por não aceitarem d<strong>et</strong>erminada forma <strong>de</strong> pagamento, caso <strong>do</strong> cheque. Em uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lanchon<strong>et</strong>es fast food<br />

é bem conhecida a placa com os dizeres: “Não aceitamos cheques. Art. 5º, inc. II, da CF/1988”. Como se nota, a informação<br />

menciona o princípio constitucion<strong>al</strong> da leg<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> ninguém será obriga<strong>do</strong> a fazer ou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazer <strong>al</strong>guma coisa<br />

senão em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> lei. A respeito da questão, o PROCONSP tem orientação no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a aceitação <strong>de</strong> cheque é opcion<strong>al</strong><br />

por parte <strong>do</strong> estabelecimento, conforme se observa da seguinte resposta, r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> site da instituição:<br />

“O fornece<strong>do</strong>r é obriga<strong>do</strong> a aceitar cheque como forma <strong>de</strong> pagamento? Não. A aceitação <strong>de</strong> cheque é opcion<strong>al</strong>. O meio <strong>de</strong><br />

pagamento obrigatório é a moeda corrente nacion<strong>al</strong> (art. 315 <strong>do</strong> Código Civil). Se o fornece<strong>do</strong>r não quiser aceitar cheque como<br />

forma <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong>verá informar <strong>de</strong> maneira clara, precisa e princip<strong>al</strong>mente ostensiva, com cartazes em loc<strong>al</strong> <strong>de</strong> fácil<br />

visu<strong>al</strong>ização, sobre a restrição (art. 6º, inc. III, e art. 31, ambos <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r)”.11<br />

A orientação parece corr<strong>et</strong>a, estan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> bom senso e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a principiologia <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r. O que parece estar equivoca<strong>do</strong> é a citação constante daquela famosa placa que, em vez <strong>de</strong> mencionar a leg<strong>al</strong>ida<strong>de</strong><br />

pura, po<strong>de</strong>ria fazer uso <strong>de</strong> dispositivos <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

7.2.3.<br />

Enviar ou entregar ao consumi<strong>do</strong>r, sem solicitação prévia, qu<strong>al</strong>quer produto, ou fornecer<br />

qu<strong>al</strong>quer serviço (art. 39, inc. III, <strong>do</strong> CDC)<br />

O envio <strong>de</strong> produto sem solicitação é prática abusiva bem comum no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> consumo. Em complemento à proibição,<br />

estabelece o parágrafo único <strong>do</strong> art. 39 <strong>do</strong> CDC que os serviços presta<strong>do</strong>s e os produtos rem<strong>et</strong>i<strong>do</strong>s ou entregues ao consumi<strong>do</strong>r sem<br />

a <strong>de</strong>vida solicitação equiparam-se às amostras grátis, inexistin<strong>do</strong> obrigação <strong>de</strong> pagamento.<br />

A hipótese leg<strong>al</strong> aqui abordada se faz presente em especi<strong>al</strong> no envio <strong>de</strong> cartão <strong>de</strong> crédito sem que haja qu<strong>al</strong>quer pedi<strong>do</strong> por<br />

parte <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Presentes danos advin<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa conduta ilícita, surge o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> reparar por parte da empresa emitente. Nessa<br />

linha <strong>de</strong> conclusão, por to<strong>do</strong>s:<br />

“Recurso especi<strong>al</strong>. Consumi<strong>do</strong>r. Ação civil pública. Envio <strong>de</strong> cartão <strong>de</strong> crédito não solicita<strong>do</strong>. Prática comerci<strong>al</strong> abusiva. Abuso <strong>de</strong><br />

direito configura<strong>do</strong>. 1. O envio <strong>do</strong> cartão <strong>de</strong> crédito, ainda que bloquea<strong>do</strong>, sem pedi<strong>do</strong> pr<strong>et</strong>érito e expresso <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,<br />

caracteriza prática comerci<strong>al</strong> abusiva, violan<strong>do</strong> front<strong>al</strong>mente o disposto no artigo 39, III, <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 2.<br />

Doutrina e jurisprudência acerca <strong>do</strong> tema. 3. Recurso especi<strong>al</strong> provi<strong>do</strong>” (STJ – REsp 1.199.117/SP – Rel. Min. Paulo <strong>de</strong> Tarso<br />

Sanseverino – Terceira Turma – j. 18.12.2012 – DJe 04.03.2013).<br />

“Recurso especi<strong>al</strong>. Responsabilida<strong>de</strong> civil. Ação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por danos morais. Envio <strong>de</strong> cartão <strong>de</strong> crédito não solicita<strong>do</strong> e <strong>de</strong><br />

faturas cobran<strong>do</strong> anuida<strong>de</strong>. Dano mor<strong>al</strong> configura<strong>do</strong>. I. Para se presumir o dano mor<strong>al</strong> pela simples comprovação <strong>do</strong> ato ilícito, esse<br />

ato <strong>de</strong>ve ser obj<strong>et</strong>ivamente capaz <strong>de</strong> acarr<strong>et</strong>ar a <strong>do</strong>r, o sofrimento, a lesão aos sentimentos íntimos juridicamente protegi<strong>do</strong>s. II. O<br />

envio <strong>de</strong> cartão <strong>de</strong> crédito não solicita<strong>do</strong>, conduta consi<strong>de</strong>rada pelo Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r como prática abusiva (art. 39,<br />

III), adiciona<strong>do</strong> aos incômo<strong>do</strong>s <strong>de</strong>correntes das providências notoriamente dificultosas para o cancelamento <strong>do</strong> cartão, causam dano<br />

mor<strong>al</strong> ao consumi<strong>do</strong>r, mormente em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoa <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> avançada, próxima <strong>do</strong>s cem anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> à época <strong>do</strong>s fatos,<br />

circunstância que agrava o sofrimento mor<strong>al</strong>. Recurso especi<strong>al</strong> não conheci<strong>do</strong>” (STJ – REsp 1061500/RS – Terceira Turma – Rel.

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