05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

fornece<strong>do</strong>res169. Dessa maneira, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> a culpa não ser <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong>manda<strong>do</strong>, ou não ser <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os fornece<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong>manda<strong>do</strong>s, haverá a con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> quem estiver no polo passivo a in<strong>de</strong>nizar o consumi<strong>do</strong>r; assim, é inviável imaginar, em uma<br />

situação tratada à luz <strong>do</strong> dispositivo leg<strong>al</strong> comenta<strong>do</strong>, uma sentença terminativa por ilegitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parte se for comprova<strong>do</strong> que a<br />

culpa não foi daquele fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong>manda<strong>do</strong>.<br />

Em razão da solidarieda<strong>de</strong> entre to<strong>do</strong>s os fornece<strong>do</strong>res e <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva, o consumi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong>rá optar contra<br />

quem pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong> litigar. Po<strong>de</strong>rá propor a <strong>de</strong>manda para buscar o ressarcimento <strong>de</strong> seu dano somente contra um <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res,<br />

<strong>al</strong>guns, ou to<strong>do</strong>s eles. A <strong>do</strong>utrina que já enfrentou o tema aponta, acertadamente, para a hipótese <strong>de</strong> litisconsórcio facultativo,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> ser a vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r que <strong>de</strong>finirá a formação ou não da plur<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos no polo passivo e mesmo,<br />

quan<strong>do</strong> se formar o litisconsórcio, qu<strong>al</strong> a extensão subj<strong>et</strong>iva da plur<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> 170 .<br />

Nesse caso, portanto, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> solidária e obj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res, não será aplicável o instituto <strong>do</strong> litisconsórcio<br />

<strong>al</strong>ternativo, pois, ainda que exista uma dúvida fundada por parte <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r sobre quem foi o causa<strong>do</strong>r dir<strong>et</strong>o <strong>de</strong> seu dano, a<br />

legislação consumerista, expressamente, atribui a responsabilida<strong>de</strong> a qu<strong>al</strong>quer <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res que tenha participa<strong>do</strong> da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

produção <strong>do</strong> produto ou da prestação <strong>do</strong> serviço. Por ser inviável antever a ilegitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qu<strong>al</strong>quer <strong>de</strong>les, ainda que nenhuma<br />

culpa tenha no evento danoso, pouco importa, para os fins <strong>do</strong> processo, a individu<strong>al</strong>ização <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r que tenha si<strong>do</strong> o<br />

responsável dir<strong>et</strong>o pelo dano, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que é inconcebível, nesse caso, f<strong>al</strong>ar em litisconsórcio <strong>al</strong>ternativo.<br />

Essa disposição <strong>do</strong> CDC, rep<strong>et</strong>ida em outras normas <strong>do</strong> diploma consumerista – como os arts. 18, caput, 19, caput, 25, §§ 1.º e<br />

2.º, art. 28, § 3.º, e art. 34 –, é <strong>de</strong>monstração clara <strong>de</strong> proteção ao consumi<strong>do</strong>r, que não po<strong>de</strong>ria ser af<strong>et</strong>a<strong>do</strong> por incertezas a respeito<br />

<strong>de</strong> qu<strong>al</strong> <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res foi o responsável dir<strong>et</strong>o pela ofensa aos seus direitos. A i<strong>de</strong>ia é que os fornece<strong>do</strong>res, solidariamente,<br />

respondam perante o consumi<strong>do</strong>r in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua culpa no caso concr<strong>et</strong>o; assim, é lícito àquele que pagou e que não teve<br />

culpa ingressar com ação <strong>de</strong> rep<strong>et</strong>ição <strong>de</strong> indébito contra o fornece<strong>do</strong>r causa<strong>do</strong>r dir<strong>et</strong>o <strong>do</strong> dano. A proteção <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, ao criar<br />

um litisconsórcio facultativo entre os fornece<strong>do</strong>res, afasta, por compl<strong>et</strong>o, a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> litisconsórcio <strong>al</strong>ternativo.<br />

Registre-se que a melhor <strong>do</strong>utrina aponta para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o fornece<strong>do</strong>r con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> a satisfazer o consumi<strong>do</strong>r, caso não<br />

tenha ti<strong>do</strong> culpa no evento danoso, ou ainda que a culpa não tenha si<strong>do</strong> exclusivamente sua, ingressar com outro processo perante o<br />

fornece<strong>do</strong>r culpa<strong>do</strong> pelo dano para receber aquilo que pagou ao consumi<strong>do</strong>r171. O direito <strong>de</strong> regresso, entr<strong>et</strong>anto, não po<strong>de</strong>rá ser<br />

exerci<strong>do</strong> no próprio processo, em virtu<strong>de</strong> da proibição explícita <strong>do</strong> art. 88 <strong>do</strong> CDC, que impe<strong>de</strong> a <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong> nas<br />

<strong>de</strong>mandas consumeristas. A disposição tem o fim <strong>de</strong> evitar complicações procedimentais naturais da ampliação subj<strong>et</strong>iva da<br />

relação jurídica processu<strong>al</strong>, o que po<strong>de</strong>ria trazer <strong>de</strong>svantagens ao consumi<strong>do</strong>r 172 .<br />

Questão mais interessante vem da aplicação conjunta <strong>do</strong>s arts. 12 e 13 <strong>do</strong> CDC; indica o primeiro a responsabilida<strong>de</strong> solidária<br />

<strong>do</strong> fabricante, produtor, construtor e importa<strong>do</strong>r pela reparação <strong>de</strong> danos causa<strong>do</strong>s aos consumi<strong>do</strong>res por <strong>de</strong>feito no produto; já o<br />

segun<strong>do</strong> dispositivo prevê uma responsabilida<strong>de</strong> subsidiária <strong>do</strong> comerciante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que: “I – o fabricante, o construtor, o produtor<br />

ou o importa<strong>do</strong>r não pu<strong>de</strong>rem ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s; II – o produto for forneci<strong>do</strong> sem i<strong>de</strong>ntificação clara <strong>do</strong> seu fabricante, produtor,<br />

construtor ou importa<strong>do</strong>r; III – não conservar a<strong>de</strong>quadamente os produtos perecíveis”.<br />

Apesar <strong>de</strong> forte corrente <strong>do</strong>utrinária enten<strong>de</strong>r que, nesse caso, o comerciante também terá responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ressarcir o<br />

consumi<strong>do</strong>r, ainda que possa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> satisfazê-lo, pleitear o ressarcimento perante o fabricante, produtor, construtor e<br />

importa<strong>do</strong>r 173 , a leitura conjunta <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is dispositivos legais anteriormente referi<strong>do</strong>s <strong>de</strong>monstra que, ao ser verificada uma das<br />

hipóteses previstas pelo art. 13 <strong>do</strong> código consumerista, o comerciante não respon<strong>de</strong>rá perante o consumi<strong>do</strong>r, por ser parte<br />

ilegítima para figurar no polo passivo <strong>do</strong> processo, em razão <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> somente subsidiária, não solidária174. A<br />

hipótese que mais interesse traz ao presente trab<strong>al</strong>ho é certamente aquela prevista pelo referi<strong>do</strong> art. 13, III, <strong>do</strong> CDC, que trata da<br />

causa exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> comerciante nos casos em que tenha conserva<strong>do</strong> a<strong>de</strong>quadamente produtos perecíveis.<br />

Nessa hipótese, estar-se-á diante <strong>de</strong> típica situação em que o instituto <strong>do</strong> litisconsórcio <strong>al</strong>ternativo po<strong>de</strong>rá ser aplica<strong>do</strong>. É<br />

evi<strong>de</strong>nte que, em relação ao consumi<strong>do</strong>r, existirão situações em que dificilmente conseguirá d<strong>et</strong>erminar, com exatidão, o<br />

responsável pelos <strong>de</strong>feitos <strong>do</strong> produto, saben<strong>do</strong> somente que adquiriu <strong>de</strong> um d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong> comerciante um produto perecível, o<br />

qu<strong>al</strong>, por não estar no esta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>, causou-lhe um dano. Ao dar o exemplo <strong>de</strong> um iogurte estraga<strong>do</strong> ingeri<strong>do</strong> pelo filho <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r, Luiz Antonio Rizzatto Nunes 175 afirma que, em casos como esse, “não é tão simples d<strong>et</strong>erminar quan<strong>do</strong> e on<strong>de</strong><br />

ocorreu a d<strong>et</strong>erioração <strong>do</strong> produto perecível”.<br />

Resta evi<strong>de</strong>nte que essa seria uma hipótese em que a fixação da legitimida<strong>de</strong> passiva somente po<strong>de</strong>rá ser clarificada com a<br />

produção da prova perici<strong>al</strong>, pela qu<strong>al</strong> se <strong>de</strong>scobrirá, afin<strong>al</strong>, se o comerciante teve os cuida<strong>do</strong>s necessários na conservação <strong>do</strong>s<br />

produtos perecíveis. Caso a prova técnica a ser produzida indique que o <strong>de</strong>feito <strong>do</strong> produto nada teve a ver com a conservação<br />

<strong>de</strong>ste pelo comerciante, não haverá qu<strong>al</strong>quer responsabilida<strong>de</strong> em ressarcir o consumi<strong>do</strong>r, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> até mesmo sua<br />

ilegitimida<strong>de</strong> passiva para figurar na <strong>de</strong>manda judici<strong>al</strong>. O consumi<strong>do</strong>r, nesse caso, ingressaria com o processo contra os sujeitos<br />

que participaram da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção <strong>do</strong> produto, forman<strong>do</strong> um litisconsórcio <strong>al</strong>ternativo em razão da dificulda<strong>de</strong> em aferir, no

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!