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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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“Serviço <strong>de</strong> transporte individu<strong>al</strong> <strong>de</strong> passageiro, com prévia contratação entre as partes, não passível <strong>de</strong> benefícios outorga<strong>do</strong>s aos<br />

permissionários <strong>de</strong> condução <strong>de</strong> táxis. Ativida<strong>de</strong> econômica <strong>de</strong>sempenhada pelo postulante que <strong>de</strong>ve observar o princípio da livre<br />

concorrência e a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, encontran<strong>do</strong> previsão nos artigos 3º e 4º da Lei Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> nº 12.587/12 (Lei <strong>de</strong> Dir<strong>et</strong>rizes <strong>de</strong><br />

Mobilida<strong>de</strong> Urbana), que admite a natureza <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> transporte individu<strong>al</strong> priva<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vigilância e fisc<strong>al</strong>ização outorga<strong>do</strong><br />

aos entes públicos que <strong>de</strong>ve se restringir às condições <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> segurança <strong>do</strong> veículo, sua regularida<strong>de</strong> <strong>do</strong>cument<strong>al</strong>,<br />

aplicação das Leis <strong>de</strong> trânsito, coibição <strong>de</strong> embriaguez ao volante <strong>et</strong>c., não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a Administração Municip<strong>al</strong> apreen<strong>de</strong>r veículos<br />

apenas porque o motorista não é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> ofici<strong>al</strong>mente taxista. Inteligência <strong>do</strong>s artigos 1º e 22, §§ 1º e 2º, da Lei Municip<strong>al</strong> nº<br />

13.775/2010, 1º, IV, 30, V, 170, IV e V, parágrafo único, to<strong>do</strong>s da Constituição Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, e 3º, 4º e 12-A da Lei Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> nº<br />

12.587/2012, com <strong>al</strong>terações da Lei nº 12.865/2013. Decisão reformada para conce<strong>de</strong>r a liminar pleiteada. Recurso provi<strong>do</strong>” (TJSP<br />

– Agravo <strong>de</strong> Instrumento 2110453-72.2016.8.26.0000, Campinas – Acórdão 9745297 – Décima Terceira Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Público<br />

– Rel. Des. Dj<strong>al</strong>ma Lofrano – j. 24.08.2016 – DJESP 29.09.2016).<br />

Deve ser esclareci<strong>do</strong> o teor <strong>do</strong> art. 732 <strong>do</strong> CC, segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> “Aos contratos <strong>de</strong> transporte, em ger<strong>al</strong>, são aplicáveis, quan<strong>do</strong><br />

couber, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não contrariem as disposições <strong>de</strong>ste Código, os preceitos constantes da legislação especi<strong>al</strong> e <strong>de</strong> trata<strong>do</strong>s e<br />

convenções internacionais”. Compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o teor <strong>do</strong> coman<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong> ele trazer a conclusão <strong>de</strong> que o Código Civil exclui a<br />

incidência <strong>do</strong> CDC, presentes no contrato <strong>de</strong> transporte os elementos da relação <strong>de</strong> consumo. Nesse senti<strong>do</strong>, vejamos o teor <strong>do</strong><br />

Enuncia<strong>do</strong> n. 369 <strong>do</strong> CJF/STJ, aprova<strong>do</strong> na IV Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Civil:<br />

“Diante <strong>do</strong> preceito constante no art. 732 <strong>do</strong> Código Civil, teleologicamente e em uma visão constitucion<strong>al</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sistema,<br />

quan<strong>do</strong> o contrato <strong>de</strong> transporte constituir uma relação <strong>de</strong> consumo, aplicam-se as normas <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r que<br />

forem mais benéficas a este”.<br />

Sem prejuízo <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os casos aponta<strong>do</strong>s, nas hipóteses em que o transporte for utiliza<strong>do</strong> com intuito dir<strong>et</strong>o <strong>de</strong> lucro, <strong>de</strong>ntro<br />

da máquina produtiva <strong>de</strong> uma empresa, não haverá relação <strong>de</strong> consumo. Nessa linha, vejamos publicação constante <strong>do</strong> Informativo<br />

n. 442 <strong>do</strong> STJ:<br />

“A Turma negou provimento ao recurso especi<strong>al</strong>, manten<strong>do</strong> a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> tribun<strong>al</strong> a quo, que enten<strong>de</strong>u inexistir, na espécie, relação<br />

<strong>de</strong> consumo entre, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, reven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra <strong>de</strong> máquinas e equipamentos e, <strong>do</strong> outro, transporta<strong>do</strong>ra. Cui<strong>do</strong>u-se, na origem, <strong>de</strong> ação<br />

in<strong>de</strong>nizatória ajuizada pela ora recorrente sob a <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> que um gera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> energia, obj<strong>et</strong>o <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> transporte firma<strong>do</strong><br />

com a empresa recorrida, teria sofri<strong>do</strong> avarias durante o traj<strong>et</strong>o. O STJ aplica ao caso a teoria fin<strong>al</strong>ista, segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong> se consi<strong>de</strong>ra<br />

consumi<strong>do</strong>r aquele que adquire ou utiliza produto ou serviço como <strong>de</strong>stinatário fin<strong>al</strong>. Na espécie, ress<strong>al</strong>tou-se que o produto não<br />

seria <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à recorrida, mas a cliente da reven<strong>de</strong><strong>do</strong>ra, motivo pelo qu<strong>al</strong> foi afastada a regra especi<strong>al</strong> <strong>de</strong> comp<strong>et</strong>ência <strong>do</strong> art. 101,<br />

I, <strong>do</strong> CDC para fazer incidir a <strong>do</strong> art. 100, IV, a, <strong>do</strong> CPC” (STJ – REsp 836.823/PR – Rel. Min. Sidnei Ben<strong>et</strong>i – j. 12.08.2010).<br />

Mais recentemente, <strong>de</strong>cidiu a mesma Corte Superior que, “para efeito <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por danos à merca<strong>do</strong>ria<br />

ocorri<strong>do</strong>s em transporte aéreo internacion<strong>al</strong>, o CDC não prev<strong>al</strong>ece sobre a Convenção <strong>de</strong> Varsóvia quan<strong>do</strong> o contrato <strong>de</strong> transporte<br />

tiver por obj<strong>et</strong>o equipamento adquiri<strong>do</strong> no exterior para incrementar a ativida<strong>de</strong> comerci<strong>al</strong> <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> empresária que não se<br />

afigure vulnerável na relação jurídico-obrigacion<strong>al</strong>. Na hipótese em foco, a merca<strong>do</strong>ria transportada <strong>de</strong>stinava-se a ampliar e a<br />

melhorar a prestação <strong>do</strong> serviço e, por conseguinte, aumentar os lucros. Sob esse enfoque, não se po<strong>de</strong> conceber o contrato <strong>de</strong><br />

transporte isoladamente. Na verda<strong>de</strong>, a importação da merca<strong>do</strong>ria tem natureza <strong>de</strong> ato complexo, envolven<strong>do</strong> (i) a compra e venda<br />

propriamente dita, (ii) o <strong>de</strong>sembaraço para r<strong>et</strong>irar o bem <strong>do</strong> país <strong>de</strong> origem, (iii) o eventu<strong>al</strong> seguro, (iv) o transporte e (v) o<br />

<strong>de</strong>sembaraço no país <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino mediante o recolhimento <strong>de</strong> taxas, impostos <strong>et</strong>c. Essas <strong>et</strong>apas <strong>do</strong> ato complexo <strong>de</strong> importação,<br />

conforme o caso, po<strong>de</strong>m ser ef<strong>et</strong>ivadas dir<strong>et</strong>amente por agentes da própria empresa adquirente ou envolver terceiros contrata<strong>do</strong>s<br />

para cada fim específico. Mas essa última possibilida<strong>de</strong> – contratação <strong>de</strong> terceiros –, por si, não permite que se aplique<br />

separadamente, a cada <strong>et</strong>apa, normas legais diversas da inci<strong>de</strong>nte sobre o ciclo compl<strong>et</strong>o da importação. Desse mo<strong>do</strong>, não há como<br />

consi<strong>de</strong>rar a importa<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>stinatária fin<strong>al</strong> <strong>do</strong> ato complexo <strong>de</strong> importação nem <strong>do</strong>s atos e contratos intermediários, entre eles o<br />

contrato <strong>de</strong> transporte, para o propósito da tutela prot<strong>et</strong>iva da legislação consumerista, sobr<strong>et</strong>u<strong>do</strong> porque a merca<strong>do</strong>ria importada irá<br />

integrar a ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s pela empresa contratante <strong>do</strong> transporte. (…). A<strong>de</strong>mais, não se <strong>de</strong>sconhece que o<br />

STJ tem atenua<strong>do</strong> a incidência da teoria fin<strong>al</strong>ista, aplican<strong>do</strong> o CDC quan<strong>do</strong>, apesar <strong>de</strong> relação jurídico-obrigacion<strong>al</strong> entre<br />

comerciantes ou profissionais, estiver caracterizada situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ou hipossuficiência. Entr<strong>et</strong>anto, a empresa<br />

importa<strong>do</strong>ra não apresenta vulnerabilida<strong>de</strong> ou hipossuficiência, o que afasta a incidência das normas <strong>do</strong> CDC. Dessa forma,<br />

inexistin<strong>do</strong> relação <strong>de</strong> consumo, circunstância que impe<strong>de</strong> a aplicação das regras específicas <strong>do</strong> CDC, há que ser observada a<br />

Convenção <strong>de</strong> Varsóvia, que regula especificamente o transporte aéreo internacion<strong>al</strong>” (STJ – REsp 1.162.649/SP – Rel. originário<br />

Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão – Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira – j. 13.05.2014 – publica<strong>do</strong> no seu Informativo n.<br />

541).<br />

Como está claro da última <strong>de</strong>cisum, as <strong>de</strong>duções merecem ser ress<strong>al</strong>vadas para as hipóteses envolven<strong>do</strong> pessoas vulneráveis ou

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