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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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o sistema (figura <strong>de</strong> Ricar<strong>do</strong> Luis Lorenz<strong>et</strong>ti). Vejamos tais visu<strong>al</strong>izações, <strong>de</strong> forma esquematizada:<br />

Deve ficar claro, contu<strong>do</strong>, e <strong>de</strong> antemão, que, apesar <strong>do</strong> termo “Código”, o CDC não tem um papel centr<strong>al</strong> no <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong>,<br />

como tem o Código Civil Brasileiro. Isso porque os conceitos fundamentais priva<strong>do</strong>s constam da codificação privada, e não da Lei<br />

Consumerista. A título <strong>de</strong> exemplo, o CDC trata da prescrição e da <strong>de</strong>cadência, <strong>do</strong>s contratos <strong>de</strong> consumo e da responsabilida<strong>de</strong><br />

civil consumerista. Todavia, os conceitos estruturantes <strong>de</strong> tais institutos constam <strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 2002, como se verá na<br />

presente obra.<br />

Pois bem, Claudia Lima Marques <strong>de</strong>monstra três diálogos possíveis a partir da teoria exposta:23<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

Haven<strong>do</strong> aplicação simultânea das duas leis, se uma lei servir <strong>de</strong> base conceitu<strong>al</strong> para a outra, estará presente o<br />

diálogo sistemático <strong>de</strong> coerência. Exemplo: os conceitos <strong>do</strong>s contratos <strong>de</strong> espécie po<strong>de</strong>m ser r<strong>et</strong>ira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Código<br />

Civil, mesmo sen<strong>do</strong> o contrato <strong>de</strong> consumo, caso <strong>de</strong> uma compra e venda (art. 481 <strong>do</strong> CC).<br />

Se o caso for <strong>de</strong> aplicação coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> duas leis, uma norma po<strong>de</strong> compl<strong>et</strong>ar a outra, <strong>de</strong> forma dir<strong>et</strong>a (diálogo <strong>de</strong><br />

complementarida<strong>de</strong>) ou indir<strong>et</strong>a (diálogo <strong>de</strong> subsidiarieda<strong>de</strong>). O exemplo típico ocorre com os contratos <strong>de</strong> consumo<br />

que também são <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são. Em relação às cláusulas abusivas, po<strong>de</strong> ser invocada a proteção <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res<br />

constante <strong>do</strong> art. 51 <strong>do</strong> CDC e, ainda, a proteção <strong>do</strong>s a<strong>de</strong>rentes constante <strong>do</strong> art. 424 <strong>do</strong> CC.<br />

Os diálogos <strong>de</strong> influências recíprocas sistemáticas estão presentes quan<strong>do</strong> os conceitos estruturais <strong>de</strong> uma<br />

d<strong>et</strong>erminada lei sofrem influências da outra. Assim, o conceito <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> sofrer influências <strong>do</strong> próprio<br />

Código Civil. Como afirma a própria Claudia Lima Marques, “é a influência <strong>do</strong> sistema especi<strong>al</strong> no ger<strong>al</strong> e <strong>do</strong> ger<strong>al</strong><br />

no especi<strong>al</strong>, um diálogo <strong>de</strong> <strong>do</strong>ublé sens (diálogo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e adaptação sistemática)”.<br />

An<strong>al</strong>isadas tais premissas fundamentais, é interessante trazer à colação, com os <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s comentários, <strong>al</strong>guns julga<strong>do</strong>s<br />

nacionais que aplicaram a teoria <strong>do</strong> diálogo das fontes, propon<strong>do</strong> uma interação entre o Código Civil <strong>de</strong> 2002 e o Código <strong>de</strong><br />

Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. De imediato, da recente jurisprudência <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, colaciona-se a seguinte ementa:<br />

“Ação civil pública. Contrato <strong>de</strong> arrendamento mercantil – leasing. Cláusula <strong>de</strong> seguro. Abusivida<strong>de</strong>. Inocorrência. 1. Não se po<strong>de</strong><br />

interpr<strong>et</strong>ar o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a tornar qu<strong>al</strong>quer encargo contratu<strong>al</strong> atribuí<strong>do</strong> ao consumi<strong>do</strong>r como<br />

abusivo, sem observar que as relações contratuais se estabelecem, igu<strong>al</strong>mente, através <strong>de</strong> regras <strong>de</strong> direito civil. 2. O CDC não<br />

exclui a principiologia <strong>do</strong>s contratos <strong>de</strong> direito civil. Entre as normas consumeristas e as regras gerais <strong>do</strong>s contratos, insertas no<br />

Código Civil e legislação extravagante, <strong>de</strong>ve haver complementação e não exclusão. É o que a <strong>do</strong>utrina chama <strong>de</strong> Diálogo das<br />

Fontes. 3. Ante a natureza <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> arrendamento mercantil ou leasing, em que pese a empresa arrendante figurar como<br />

propri<strong>et</strong>ária <strong>do</strong> bem, o arrendatário possui o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> conservar o bem arrenda<strong>do</strong>, para que ao fin<strong>al</strong> da avença, exercen<strong>do</strong> o seu<br />

direito, prorrogue o contrato, compre ou <strong>de</strong>volva o bem. 4. A cláusula que obriga o arrendatário a contratar seguro em nome da<br />

arrendante não é abusiva, pois aquele possui <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> conservação <strong>do</strong> bem, usufruin<strong>do</strong> da coisa como se <strong>do</strong>no fosse, suportan<strong>do</strong>, em<br />

razão disso, riscos e encargos inerentes a sua obrigação. O seguro, nessas circunstâncias, é garantia para o cumprimento da avença,<br />

protegen<strong>do</strong> o patrimônio <strong>do</strong> arrendante, bem como o indivíduo <strong>de</strong> infortúnios. 5. Rejeita-se, contu<strong>do</strong>, a venda casada, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o<br />

seguro ser re<strong>al</strong>iza<strong>do</strong> em qu<strong>al</strong>quer segura<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> livre escolha <strong>do</strong> interessa<strong>do</strong> 6. Recurso especi<strong>al</strong> parci<strong>al</strong>mente conheci<strong>do</strong> e, nessa

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