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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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<strong>de</strong>mais direitos, já que sem ele não há vida, nem saú<strong>de</strong>, nem trab<strong>al</strong>ho, tampouco lazer. 313<br />

Registre-se, entr<strong>et</strong>anto, que o prescricion<strong>al</strong> para a cobrança <strong>de</strong> multa aplicada em virtu<strong>de</strong> da infração administrativa ao meio<br />

ambiente é <strong>de</strong> cinco anos, nos termos <strong>do</strong> art. 1º <strong>do</strong> Decr<strong>et</strong>o 20.910/1932, conforme entendimento consolida<strong>do</strong> <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong><br />

<strong>de</strong> Justiça. 314<br />

A questão mais relevante diz respeito ao prazo prescricion<strong>al</strong>, tanto para a propositura da ação col<strong>et</strong>iva como para o início <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>de</strong> sentença col<strong>et</strong>iva. Seria resolvida a omissão leg<strong>al</strong> com a aplicação <strong>do</strong> microssistema col<strong>et</strong>ivo ou o mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />

é se socorrer <strong>do</strong>s prazos prescricionais previstos no Código Civil?<br />

São inúmeras as <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça aplican<strong>do</strong> o microssistema col<strong>et</strong>ivo para concluir que o prazo<br />

prescricion<strong>al</strong> da ação civil pública é <strong>de</strong> cinco anos, em razão da aplicação subsidiária <strong>do</strong> art. 21 da LAP.315<br />

Há corrente <strong>do</strong>utrinária, 316 entr<strong>et</strong>anto, inclusive amparada em julgamento – aparentemente isola<strong>do</strong> – <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong><br />

Justiça, 317 no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> somente aplicar subsidiariamente o prazo <strong>de</strong> cinco anos previsto no art. 21 da Lei 4.717/1965 à ação civil<br />

pública a direitos materiais tuteláveis pela ação popular. Nessa linha <strong>de</strong> raciocínio, naqueles direitos materiais que só po<strong>de</strong>m ser<br />

tutela<strong>do</strong>s pela ação civil pública <strong>de</strong>ve-se buscar o prazo prescricion<strong>al</strong> fora <strong>do</strong> microssistema, mais precisamente no Código Civil ou<br />

outros diplomas legais que prevejam t<strong>al</strong> prazo, como, por exemplo, o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

O tema cresce em interesse quan<strong>do</strong> se an<strong>al</strong>isa a execução individu<strong>al</strong> da sentença col<strong>et</strong>iva. Qu<strong>al</strong>quer que seja a natureza <strong>do</strong><br />

direito reconheci<strong>do</strong> pela sentença col<strong>et</strong>iva, é possível seu aproveitamento por indivíduos. Tratan<strong>do</strong>-se a sentença col<strong>et</strong>iva <strong>de</strong> direito<br />

transindividu<strong>al</strong>, é sempre possível haver direitos individuais correlatos, que tenham si<strong>do</strong> viola<strong>do</strong>s pelo mesmo ato ilícito, e, se tratar<br />

<strong>de</strong> direito individu<strong>al</strong> homogêneo, os titulares <strong>do</strong>s direitos individuais que, soma<strong>do</strong>s, resultaram em t<strong>al</strong> direito, natur<strong>al</strong>mente terão<br />

interesse em executar a sentença.<br />

Questão interessante concerne ao prazo prescricion<strong>al</strong> para a propositura <strong>de</strong>ssa execução, ou mesmo para a liquidação <strong>de</strong><br />

sentença como medida preparatória à execução. O Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, aplican<strong>do</strong> o entendimento consolida<strong>do</strong> na Súmula<br />

150/STF, enten<strong>de</strong>u que o prazo prescricion<strong>al</strong> para as execuções individuais da sentença col<strong>et</strong>iva é o mesmo da ação col<strong>et</strong>iva, sen<strong>do</strong>,<br />

portanto, <strong>de</strong> cinco anos. 318<br />

O entendimento consagra<strong>do</strong> no Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a natureza da ação <strong>de</strong> conhecimento e das execuções,<br />

e para ele o relevante para a fixação <strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> é o prazo previsto em lei para a ação. Consi<strong>de</strong>ro justificável o<br />

entendimento, ainda que no caso concr<strong>et</strong>o possa representar sério prejuízo ao indivíduo, que, se tivesse em seu favor uma sentença<br />

individu<strong>al</strong>, teria, na maioria <strong>do</strong>s casos, mais <strong>do</strong> que cinco anos para a propositura da execução.<br />

Registre-se a existência <strong>de</strong> prece<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça que enten<strong>de</strong> inaplicável a obrigação <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong><br />

editais para a ciência erga omnes da propositura da ação col<strong>et</strong>iva (art. 94 <strong>do</strong> CDC) como exigência <strong>do</strong> termo inici<strong>al</strong> para a<br />

contagem <strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> para o cumprimento <strong>de</strong> sentença, que se dará <strong>do</strong> trânsito em julga<strong>do</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong><br />

publicação <strong>de</strong> editais dan<strong>do</strong> conta a terceiros pr<strong>et</strong>ensamente interessa<strong>do</strong>s no resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo col<strong>et</strong>ivo:<br />

“<strong>Direito</strong> processu<strong>al</strong> civil. Termo a quo <strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> das execuções individuais <strong>de</strong> sentença col<strong>et</strong>iva. Recurso rep<strong>et</strong>itivo (art.<br />

543-C <strong>do</strong> CPC/1973 e Res. STJ n. 8/2008). Tema 877.<br />

O prazo prescricion<strong>al</strong> para a execução individu<strong>al</strong> é conta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trânsito em julga<strong>do</strong> da sentença col<strong>et</strong>iva, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>snecessária a<br />

providência <strong>de</strong> que trata o art. 94 da Lei n. 8.078/1990. O art. 94 <strong>do</strong> CDC dispõe que, ‘Proposta a ação, será publica<strong>do</strong> edit<strong>al</strong> no<br />

órgão ofici<strong>al</strong>, a fim <strong>de</strong> que os interessa<strong>do</strong>s possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo <strong>de</strong> ampla divulgação pelos<br />

meios <strong>de</strong> comunicação soci<strong>al</strong> por parte <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r’. Re<strong>al</strong>mente, essa providência (<strong>de</strong> ampla divulgação<br />

midiática) é <strong>de</strong>snecessária em relação ao trânsito em julga<strong>do</strong> <strong>de</strong> sentença col<strong>et</strong>iva. Isso porque o referi<strong>do</strong> dispositivo disciplina a<br />

hipótese <strong>de</strong> divulgação da notícia da propositura da ação col<strong>et</strong>iva, para que eventuais interessa<strong>do</strong>s possam intervir no processo ou<br />

acompanhar seu trâmite, nada estabelecen<strong>do</strong>, porém, quanto à divulgação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> julgamento. Diante disso, o marco inici<strong>al</strong><br />

<strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> aplicável às execuções individuais <strong>de</strong> sentença prolatada em processo col<strong>et</strong>ivo é conta<strong>do</strong>, ante a<br />

inaplicabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> art. 94 <strong>do</strong> CDC, a partir <strong>do</strong> trânsito em julga<strong>do</strong> da sentença col<strong>et</strong>iva. Note-se, ainda, que o art. 96 <strong>do</strong> CDC,<br />

segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong>, ‘Transitada em julga<strong>do</strong> a sentença con<strong>de</strong>natória, será publica<strong>do</strong> edit<strong>al</strong>, observa<strong>do</strong> o disposto no art. 93’, foi obj<strong>et</strong>o <strong>de</strong><br />

v<strong>et</strong>o pela Presidência da República, o que torna infrutífero o esforço <strong>de</strong> interpr<strong>et</strong>ação an<strong>al</strong>ógica para aplicar a providência prevista<br />

no art. 94 com o fim <strong>de</strong> promover a ampla divulgação midiática <strong>do</strong> teor da sentença col<strong>et</strong>iva transitada em julga<strong>do</strong>, ante a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o Po<strong>de</strong>r Judiciário, qu<strong>al</strong> legisla<strong>do</strong>r ordinário, <strong>de</strong>rrubar o v<strong>et</strong>o presi<strong>de</strong>nci<strong>al</strong> ou, eventu<strong>al</strong>mente, corrigir erro form<strong>al</strong><br />

porventura existente na norma. Assim, em que pese o caráter soci<strong>al</strong> que se busca tutelar nas ações col<strong>et</strong>ivas, não se afigura possível<br />

suprir a ausência <strong>de</strong> previsão leg<strong>al</strong> quanto à ampla divulgação midiática <strong>do</strong> teor da sentença, sem romper a harmonia entre os<br />

Po<strong>de</strong>res. Ress<strong>al</strong>te-se que, embora essa questão não tenha si<strong>do</strong> o tema <strong>do</strong> REsp 1.273.643-PR (Segunda Seção, DJe 4/4/2013, julga<strong>do</strong><br />

no regime <strong>do</strong>s recursos rep<strong>et</strong>itivos) – no qu<strong>al</strong> se <strong>de</strong>finiu que, ‘No âmbito <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong>, é <strong>de</strong> cinco anos o prazo prescricion<strong>al</strong><br />

para ajuizamento da execução individu<strong>al</strong> em pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> sentença proferida em Ação Civil Pública’ –, percebe-se que<br />

a <strong>de</strong>snecessida<strong>de</strong> da providência <strong>de</strong> que trata o art. 94 da Lei n. 8.078/1990 foi a premissa <strong>do</strong> julgamento <strong>do</strong> caso concr<strong>et</strong>o no<br />

referi<strong>do</strong> recurso, haja vista que, ao <strong>de</strong>finir se aquela pr<strong>et</strong>ensão executória havia prescrito, consi<strong>de</strong>rou-se o termo a quo <strong>do</strong> prazo<br />

prescricion<strong>al</strong> como a data <strong>do</strong> trânsito em julga<strong>do</strong> da sentença col<strong>et</strong>iva. Prece<strong>de</strong>ntes cita<strong>do</strong>s: AgRg no AgRg no REsp 1.169.126-RS,

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