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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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“Outras matérias, que não integrem o pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> autor e, portanto, não se enquadrem nos limites obj<strong>et</strong>ivos da <strong>de</strong>manda, caso fossem<br />

conhecidas espontaneamente, acarr<strong>et</strong>ariam violação ao princípio processu<strong>al</strong> da adstrição ou congruência, previsto nos art. 128 e 460<br />

<strong>do</strong> CPC. Disso resulta que aplicar a or<strong>de</strong>m pública substanci<strong>al</strong> mesmo sem requerimento da parte, ainda que a matéria não integre o<br />

obj<strong>et</strong>o <strong>do</strong> processo, equiv<strong>al</strong>eria à violação <strong>de</strong> princípios processuais tais como a correlação, a inércia, contraditório e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

processo leg<strong>al</strong>, entre outros, os quais compõem o núcleo das normas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública processu<strong>al</strong>” 21 .<br />

O princip<strong>al</strong> problema, portanto, não é <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a natureza jurídica <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública das normas <strong>de</strong> direito materi<strong>al</strong><br />

consumerista, mas a<strong>de</strong>quar t<strong>al</strong> re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> a princípios fundamentais <strong>do</strong> processo, em especi<strong>al</strong> o princípio da adstrição entre pedi<strong>do</strong> e<br />

sentença. Para José Roberto <strong>do</strong>s Santos Bedaque, “não obstante questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública, como nulida<strong>de</strong>s absolutas, possam ser<br />

conhecidas <strong>de</strong> ofício pelo julga<strong>do</strong>r, inadmissível consi<strong>de</strong>rá-las para efeito <strong>de</strong> acolhimento <strong>de</strong> uma pr<strong>et</strong>ensão, se não integrarem os<br />

limites obj<strong>et</strong>ivos da <strong>de</strong>manda. Esta não comporta ampliação por iniciativa <strong>do</strong> juiz” 22 .<br />

Nota-se da lição <strong>do</strong> notável processu<strong>al</strong>ista a preocupação em manter a natureza <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública <strong>de</strong> matérias substanciais,<br />

inclusive com seu reconhecimento <strong>de</strong> ofício, mas sem permitir que isso amplie sem a provocação da parte os limites obj<strong>et</strong>ivos <strong>do</strong><br />

processo. Dá um exemplo <strong>de</strong> como compatibilizar os <strong>do</strong>is v<strong>al</strong>ores:<br />

“É possível a rejeição <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong> funda<strong>do</strong> em contrato, se o juiz vislumbrar a existência <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s<br />

contratantes, ainda que t<strong>al</strong> fundamento não seja invoca<strong>do</strong> pelo réu. Mas não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar nulo esse mesmo contrato, por<br />

incapacida<strong>de</strong> absoluta, em <strong>de</strong>manda versan<strong>do</strong> sua anulabilida<strong>de</strong> por vício <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>”.<br />

No centro da presente polêmica encontra-se a Súmula n. 381 <strong>do</strong> STJ, publicada em 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2009, com a seguinte<br />

redação: “Nos contratos bancários, é veda<strong>do</strong> ao julga<strong>do</strong>r conhecer, <strong>de</strong> ofício, da abusivida<strong>de</strong> das cláusulas”. O coautor da presente<br />

obra <strong>Flávio</strong> Tartuce já se manifestou em momento oportuno <strong>de</strong> forma crítica quanto à opção sumulada pelo Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong><br />

Justiça, inclusive citan<strong>do</strong> v<strong>al</strong>orosos civilistas que já tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manifestar sobre o tema.<br />

1 Cfr. GRECO, Leonar<strong>do</strong>. Instituições <strong>de</strong> direito civil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2011. v. 2. p. 56.<br />

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FUX, Luiz. Curso <strong>de</strong> direito processu<strong>al</strong> civil. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2004. p. 543; DIDIER JR., Fredie. Curso <strong>de</strong> direito processu<strong>al</strong> civil. 7.<br />

ed. S<strong>al</strong>va<strong>do</strong>r: JusPodivm, 2007. v. 1. p. 504.<br />

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manu<strong>al</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> conhecimento. São Paulo: RT, 2006. p. 145.<br />

STJ – RMS 25.558/PB – Segunda Turma – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – j. 15.03.2011 – DJe 22.03.2011.<br />

NERY JR., Teoria ger<strong>al</strong> <strong>do</strong>s recursos. 6. ed. São Paulo: RT, 2004. n. 3.5.4, p. 482; BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> direito<br />

procesu<strong>al</strong> civil. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5, p. 81; STJ – EDcl nos EDcl no REsp 645.595/SC – Primeira Turma – Rel. Min. Luiz Fux – j.<br />

21.08.2008.<br />

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código <strong>de</strong> Processo Civil. 11. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2003. v. 5, n. 244, p. 444; ASSIS,<br />

Araken <strong>de</strong>. Manu<strong>al</strong> <strong>do</strong>s recursos. 2. ed. São Paulo: RT, 2008. n. 24.8, p. 226; JORGE, <strong>Flávio</strong> Cheim. Teoria ger<strong>al</strong> <strong>do</strong>s recursos cíveis. 3. ed.<br />

São Paulo: RT, 2007. p. 242; STJ – REsp 830.392/RS – Segunda Turma – Rel. Min. Castro Meira – j. 04.09.2007.<br />

Cfr. Princípios fundamentais: teoria ger<strong>al</strong> <strong>do</strong>s recursos. 5. ed. São Paulo: RT, 2000. p. 420. No mesmo senti<strong>do</strong> BARBOSA MOREIRA, José<br />

Carlos. Comentários ao Código <strong>de</strong> Processo Civil. 11. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2003. v. 5, p. 594; MEDINA, José Miguel Garcia. O<br />

prequestionamento nos recursos extraordinário e especi<strong>al</strong>. 3. ed. São Paulo: RT, 2002. p. 76-77; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim.<br />

Nulida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> processo e da sentença. 6. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 420 e ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis. São Paulo: Saraiva, 2002.<br />

p. 135-136.<br />

STF – AI-AgR 633.188/MG – Primeira Turma – Rel. Min. Ricar<strong>do</strong> Lewan<strong>do</strong>wski – j. 02.10.2007; AI-AgR 505.029/MS – Segunda Turma – Rel.<br />

Min. Carlos Velloso – j. 12.04.2005.<br />

CARNEIRO, Athos Gusmão. Requisitos específicos <strong>de</strong> admissibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> recurso especi<strong>al</strong>. Aspectos polêmicos e atuais <strong>do</strong>s recursos cíveis<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Lei 9.756/98. São Paulo: RT, 1999. p. 119; OLIVEIRA, Gleydson Kleber Lopes <strong>de</strong>. Recurso Especi<strong>al</strong>. São Paulo: RT, 2002.<br />

p. 339-342 e FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima. Condições <strong>de</strong> ação: enfoque sobre o interesse <strong>de</strong> agir. 3. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 89.<br />

STJ – AgRg no REsp 943.682/PA – Sexta Turma – Rel. Min. Harol<strong>do</strong> Rodrigues – j. 22.03.2011 – DJe 09.05.2011.<br />

PINTO, Nelson Luiz. Recurso especi<strong>al</strong> para o STJ. São Paulo: M<strong>al</strong>heiros, 1992. p. 145.<br />

Cfr. Recurso especi<strong>al</strong> para o STJ. São Paulo: M<strong>al</strong>heiros, 1992. p. 146.<br />

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonar<strong>do</strong> Ferres da Silva; MELO, Rogério Licastro Torres <strong>de</strong>.<br />

Primeiros comentários ao Novo Código <strong>de</strong> Processo Civil artigo por artigo. São Paulo: RT, 2015. p. 1.504; OLIVEIRA, Pedro Miranda <strong>de</strong>. In:<br />

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduar<strong>do</strong> e DANTAS, Bruno (Coords.) Breves Comentários ao Novo<br />

Código <strong>de</strong> Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 2.310. Contra: BUENO, Cássio Scarpinella. Manu<strong>al</strong> <strong>de</strong> direito processu<strong>al</strong> civil. São Paulo:<br />

Saraiva, 2015.

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