05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não o seu conteú<strong>do</strong>, função ou natureza49.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é preciso reconhecer que, no momento anterior à a<strong>do</strong>ção da tutela antecipada pelo nosso sistema processu<strong>al</strong>, as<br />

liminares eram consi<strong>de</strong>radas uma espécie <strong>de</strong> tutela <strong>de</strong> urgência, sen<strong>do</strong> a única forma prevista em lei para a obtenção <strong>de</strong> uma tutela<br />

<strong>de</strong> urgência satisfativa. Nesses termos, sempre que prevista expressamente em um d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong> procedimento, o termo “liminar”<br />

assume a condição <strong>de</strong> espécie <strong>de</strong> tutela <strong>de</strong> urgência satisfativa específica50. Seriam, assim, três as espécies <strong>de</strong> tutela <strong>de</strong> urgência:<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

tutela cautelar, genérica para assegurar a utilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> fin<strong>al</strong>;<br />

tutela antecipada, genérica para satisfazer faticamente o direito;<br />

tutela liminar, específica para satisfazer faticamente o direito.<br />

Em feliz expressão <strong>do</strong>utrinária, a tutela antecipada é a gener<strong>al</strong>ização das liminares 51 . Pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a parte obter uma tutela <strong>de</strong><br />

urgência satisfativa e haven<strong>do</strong> uma expressa previsão <strong>de</strong> liminar no procedimento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, o corr<strong>et</strong>o é requerer a concessão <strong>de</strong>ssa<br />

liminar, inclusive <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> os requisitos específicos para a sua concessão; não haven<strong>do</strong> t<strong>al</strong> previsão, a parte v<strong>al</strong>er-se-á da<br />

tutela antecipada, que em razão <strong>de</strong> sua gener<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> e amplitu<strong>de</strong> não fica condicionada a d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong>s procedimentos. Em resumo:<br />

caberá tutela antecipada quan<strong>do</strong> não houver previsão <strong>de</strong> liminar.<br />

Como afirma<strong>do</strong>, sempre que exista a expressa previsão <strong>de</strong> liminar num d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong> procedimento, estar-se-á diante <strong>de</strong> uma<br />

espécie <strong>de</strong> tutela <strong>de</strong> urgência satisfativa. Parece ser exatamente o que ocorre no art. 84, § 3.º, <strong>do</strong> CDC, que ao prever a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concessão da tutela liminarmente ou após a re<strong>al</strong>ização <strong>de</strong> audiência <strong>de</strong> justificação prévia, dá a enten<strong>de</strong>r tratar-se<br />

<strong>de</strong> espécie <strong>de</strong> tutela <strong>de</strong> urgência específica das obrigações <strong>de</strong> fazer e não fazer no âmbito <strong>do</strong> direito consumerista.<br />

A <strong>de</strong>finição a respeito da natureza jurídica da liminar prevista no art. 84, § 3.º <strong>do</strong> CDC tinha gran<strong>de</strong> relevância à luz <strong>do</strong><br />

revoga<strong>do</strong> Código <strong>de</strong> processo Civil, porque enquanto o dispositivo consumerista exigia a relevância <strong>do</strong> fundamento da <strong>de</strong>manda<br />

para a concessão da tutela <strong>de</strong> urgência satisfativa, o art. 273, caput, <strong>do</strong> CPC/1973 exigia a prova inequívoca da verossimilhança da<br />

<strong>al</strong>egação.<br />

Significava dizer que, para a concessão <strong>de</strong> tutela antecipada no sistema processu<strong>al</strong> anterior, <strong>al</strong>ém <strong>de</strong> a <strong>al</strong>egação parecer<br />

verda<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong>veria existir uma prova forte suficiente para confirmar, ao menos na cognição sumária a ser re<strong>al</strong>izada pelo juiz, que<br />

aquela <strong>al</strong>egação fática parecesse ser re<strong>al</strong>mente verda<strong>de</strong>ira52. É evi<strong>de</strong>nte que aquilo que parece ser verda<strong>de</strong>iro, mesmo que<br />

corrobora<strong>do</strong> por uma prova, po<strong>de</strong>rá se mostrar f<strong>al</strong>so conforme a cognição <strong>do</strong> juiz se aprofundar no caso concr<strong>et</strong>o. De qu<strong>al</strong>quer<br />

forma, a existência <strong>de</strong> prova a corroborar a <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> fato que por si só já parece ser verda<strong>de</strong>ira gera uma gran<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a <strong>al</strong>egação re<strong>al</strong>mente ser verda<strong>de</strong>ira, o que já era suficiente para a concessão da tutela antecipada.<br />

A relevância da fundamentação da <strong>de</strong>manda prevista no art. 84, § 3.º <strong>do</strong> CDC não <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> nenhuma prova form<strong>al</strong>mente<br />

perfeita que corrobore a <strong>al</strong>egação <strong>do</strong> autor, bastan<strong>do</strong> que suas <strong>al</strong>egações, ainda que <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> provas, convençam o juiz da<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua vitória judici<strong>al</strong>. Essa tendência parece ter inspira<strong>do</strong> o legisla<strong>do</strong>r no tocante aos requisitos para a concessão da<br />

tutela <strong>de</strong> urgência no Novo CPC.<br />

Segun<strong>do</strong> o art. 300, caput, <strong>do</strong> Novo CPC, tanto para a tutela cautelar como para a tutela antecipada exige-se o convencimento<br />

<strong>do</strong> juiz da existência <strong>de</strong> elementos que evi<strong>de</strong>nciem a probabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> direito. A norma encerra qu<strong>al</strong>quer dúvida a respeito <strong>do</strong> tema,<br />

sen<strong>do</strong> a mesma probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o direito existir suficiente para a concessão <strong>de</strong> tutela cautelar e <strong>de</strong> tutela antecipada.<br />

O legisla<strong>do</strong>r não especificou que elementos são esses capazes <strong>de</strong> convencer o juiz, ainda que mediante uma cognição sumária,<br />

a conce<strong>de</strong>r a tutela <strong>de</strong> urgência pr<strong>et</strong>endida. É natur<strong>al</strong> que o convencimento <strong>do</strong> juiz para a concessão da tutela <strong>de</strong> urgência passa<br />

pela parte fática da <strong>de</strong>manda, já que o juiz só aplicará o direito ao caso concr<strong>et</strong>o em favor da parte se estiver convenci<strong>do</strong>, ainda que<br />

em um juízo <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>, da veracida<strong>de</strong> das <strong>al</strong>egações <strong>de</strong> fato da parte. E nesse ponto questiona-se: esse convencimento<br />

sumário <strong>do</strong> juiz da parte fática da pr<strong>et</strong>ensão é <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> apenas <strong>de</strong> <strong>al</strong>egação verossímil da parte, ou cabe a ela a produção <strong>de</strong> <strong>al</strong>guma<br />

espécie <strong>de</strong> prova para corroborar sua <strong>al</strong>egação?<br />

A redação <strong>do</strong> art. 300, caput, <strong>do</strong> Novo CPC aparentemente dá gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ao juiz para <strong>de</strong>cidir a respeito <strong>do</strong> convencimento<br />

ora an<strong>al</strong>isa<strong>do</strong>. Ao não exigir nada <strong>al</strong>ém <strong>de</strong> elementos que evi<strong>de</strong>nciem a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o direito existir, o legisla<strong>do</strong>r permite que<br />

o juiz <strong>de</strong>cida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o faça justificadamente, que se convenceu em razão <strong>de</strong> elementos meramente argumentativos da parte,<br />

sem a necessida<strong>de</strong>, portanto, <strong>de</strong> provas que corroborem tais <strong>al</strong>egações53. É natur<strong>al</strong> que, nesse caso, as <strong>al</strong>egações <strong>de</strong> fato sejam<br />

verossímeis, ou seja, que sejam aparentemente verda<strong>de</strong>iras em razão das máximas <strong>de</strong> experiência (o que costuma ocorrer em<br />

situações similares).<br />

Quanto aos requisitos que na vigência <strong>do</strong> CPC/1973 eram para a tutela antecipada o funda<strong>do</strong> receio <strong>de</strong> dano irreparável ou <strong>de</strong><br />

difícil reparação e para a tutela cautelar o periculum in mora, sempre se enten<strong>de</strong>u que, apesar das diferenças nas nomenclaturas,<br />

periculum in mora e funda<strong>do</strong> receio <strong>de</strong> dano representavam exatamente o mesmo fenômeno: o tempo necessário para a concessão<br />

da tutela <strong>de</strong>finitiva funcionan<strong>do</strong> como inimigo da ef<strong>et</strong>ivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa tutela.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!