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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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contrata<strong>do</strong>. Além disso, <strong>de</strong>ve-se frisar que a imposição <strong>de</strong> tamanho ônus aos estacionamentos <strong>de</strong> veículos – <strong>de</strong> serem responsáveis<br />

pela integrida<strong>de</strong> física e patrimoni<strong>al</strong> <strong>do</strong>s usuários – mostra-se temerária, inclusive na perspectiva <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, na medida em<br />

que a sua viabilização exigiria investimentos que certamente teriam reflexo dir<strong>et</strong>o no custo <strong>do</strong> serviço, que hoje já é eleva<strong>do</strong>” (STJ<br />

– REsp 1.232.795/SP – Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 02.04.2013, publica<strong>do</strong> no seu Informativo n. 521). Como se nota, é<br />

imperioso verificar on<strong>de</strong> se loc<strong>al</strong>iza o estacionamento para se concluir se o roubo é ou não um evento externo, que está fora <strong>do</strong><br />

risco <strong>do</strong> empreendimento, a caracterizar o caso fortuito e a força maior.<br />

Ainda sobre esse problema soci<strong>al</strong>, conclui-se em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> STJ que o ass<strong>al</strong>to a shopping center e a supermerca<strong>do</strong> ingressa na<br />

proteção <strong>de</strong> riscos esperada pelos consumi<strong>do</strong>res, não sen<strong>do</strong> a hipótese <strong>de</strong> configuração <strong>do</strong> caso fortuito ou força maior. Na esfera<br />

<strong>do</strong> que aqui se discute, haveria, portanto, um fortuito interno. Vejamos a ementa <strong>de</strong> julga<strong>do</strong> recente:<br />

“Recurso especi<strong>al</strong>. Ação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por danos morais em razão <strong>de</strong> roubo sofri<strong>do</strong> em estacionamento <strong>de</strong> supermerca<strong>do</strong>.<br />

Procedência da pr<strong>et</strong>ensão. Força maior ou caso fortuito. Não reconhecimento. Conduta omissiva e negligente <strong>do</strong> estabelecimento<br />

comerci<strong>al</strong>. Verificação. Dever <strong>de</strong> propiciar a seus clientes integr<strong>al</strong> segurança em área <strong>de</strong> seu <strong>do</strong>mínio. Aplicação <strong>do</strong> direito à<br />

espécie. Possibilida<strong>de</strong>, in casu. Dano mor<strong>al</strong>. Comprovação. Desnecessida<strong>de</strong>. Damnum in re ipsa, na espécie. Fixação <strong>do</strong> quantum.<br />

Observância <strong>do</strong>s parâm<strong>et</strong>ros da razoabilida<strong>de</strong>. Recurso especi<strong>al</strong> provi<strong>do</strong>. I. É <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> estabelecimentos como shopping centers e<br />

hipermerca<strong>do</strong>s zelar pela segurança <strong>de</strong> seu ambiente, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que não se há f<strong>al</strong>ar em força maior para eximi-los da<br />

responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> ass<strong>al</strong>tos violentos aos consumi<strong>do</strong>res. II. Afasta<strong>do</strong> o fundamento jurídico <strong>do</strong> acórdão a quo,<br />

cumpre a esta Corte Superior julgar a causa, aplican<strong>do</strong>, se necessário, o direito à espécie. III. Por se estar diante da figura <strong>do</strong><br />

damnum in re ipsa, ou seja, a configuração <strong>do</strong> dano está ínsita à própria eclosão <strong>do</strong> fato pernicioso, <strong>de</strong>spicienda a comprovação <strong>do</strong><br />

dano. IV. A fixação da in<strong>de</strong>nização por dano mor<strong>al</strong> <strong>de</strong>ve revestir-se <strong>de</strong> caráter in<strong>de</strong>nizatório e sancionatório, adstrito ao princípio da<br />

razoabilida<strong>de</strong> e, <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong>, há <strong>de</strong> servir como meio propedêutico ao agente causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> dano. V. Recurso especi<strong>al</strong> conheci<strong>do</strong> e<br />

provi<strong>do</strong>” (STJ – REsp 582.047/RS – Terceira Turma – Rel. Min. Massami Uyeda – j. 17.02.2009 – DJe 04.08.2009).<br />

A respeito <strong>do</strong>s estacionamentos loc<strong>al</strong>iza<strong>do</strong>s nos interiores <strong>do</strong>s shoppings, conforme se extrai <strong>de</strong> acórdão mais recente,<br />

publica<strong>do</strong> no Informativo n. 534 daquela Corte Superior, “o shopping center <strong>de</strong>ve reparar o cliente pelos danos morais <strong>de</strong>correntes<br />

<strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> roubo, não consuma<strong>do</strong> apenas em razão <strong>de</strong> comportamento <strong>do</strong> próprio cliente, ocorrida nas proximida<strong>de</strong>s da<br />

cancela <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> seu estacionamento, mas ainda em seu interior. Tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> consumo, incumbe ao fornece<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

serviço e <strong>do</strong> loc<strong>al</strong> <strong>do</strong> estacionamento o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> proteger a pessoa e os bens <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. A socieda<strong>de</strong> empresária que forneça<br />

serviço <strong>de</strong> estacionamento aos seus clientes <strong>de</strong>ve respon<strong>de</strong>r por furtos, roubos ou latrocínios ocorri<strong>do</strong>s no interior <strong>do</strong> seu<br />

estabelecimento; pois, em troca <strong>do</strong>s benefícios financeiros indir<strong>et</strong>os <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sse acréscimo <strong>de</strong> conforto aos consumi<strong>do</strong>res,<br />

assume-se o <strong>de</strong>ver – implícito na relação contratu<strong>al</strong> – <strong>de</strong> le<strong>al</strong>da<strong>de</strong> e segurança, como aplicação concr<strong>et</strong>a <strong>do</strong> princípio da confiança<br />

(…). Ress<strong>al</strong>te-se que o leitor ótico situa<strong>do</strong> na saída <strong>do</strong> estacionamento encontra-se ainda <strong>de</strong>ntro da área <strong>do</strong> shopping center, sen<strong>do</strong><br />

certo que tais cancelas – com controles el<strong>et</strong>rônicos que comprovam a entrada <strong>do</strong> veículo, o seu tempo <strong>de</strong> permanência e o<br />

pagamento <strong>do</strong> preço – são <strong>al</strong>i inst<strong>al</strong>adas no exclusivo interesse da administra<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> estacionamento com o escopo precípuo <strong>de</strong><br />

evitar o inadimplemento pelo usuário <strong>do</strong> serviço” (STJ – REsp 1.269.691/PB – Rel. originária Min. Isabel G<strong>al</strong>lotti – Rel. para<br />

acórdão Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão – j. 21.11.2013).<br />

Ato contínuo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, a mesma Corte julgou que o ataque <strong>de</strong> psicopata no cinema <strong>do</strong> shopping, m<strong>et</strong>r<strong>al</strong>han<strong>do</strong> as pessoas que<br />

<strong>al</strong>i se encontram, constitui um evento externo, a excluir a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviços (caso Mateus da Costa Meira,<br />

ocorri<strong>do</strong> em 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1999). A conclusão foi assim publicada no Informativo n. 433 <strong>do</strong> STJ:<br />

“Responsabilida<strong>de</strong>. Shopping center. Trata-se <strong>de</strong> REsp em que se discute a responsabilida<strong>de</strong> e, consequentemente, o <strong>de</strong>ver <strong>do</strong><br />

shopping ora recorrente <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> disparos <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo na s<strong>al</strong>a <strong>de</strong> um cinema daquele shopping, fato que<br />

levou à morte várias pessoas, entre as quais, o filho <strong>do</strong> ora recorri<strong>do</strong>. A Turma enten<strong>de</strong>u que, para chegar à configuração <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar, não basta que o ofendi<strong>do</strong> <strong>de</strong>monstre sua <strong>do</strong>r, visto que somente ocorrerá a responsabilida<strong>de</strong> civil se reuni<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />

seus elementos essenciais, tais como dano, ilicitu<strong>de</strong> e nexo caus<strong>al</strong>. Em sen<strong>do</strong> assim, não há como <strong>de</strong>ferir qu<strong>al</strong>quer pr<strong>et</strong>ensão<br />

in<strong>de</strong>nizatória se não foi comprova<strong>do</strong>, ao curso da instrução, nas instâncias ordinárias, o nexo <strong>de</strong> caus<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> entre os tiros <strong>de</strong>sferi<strong>do</strong>s<br />

e a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> shopping on<strong>de</strong> se situava o cinema. Desse mo<strong>do</strong>, rompi<strong>do</strong> o nexo caus<strong>al</strong> da obrigação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar, não há<br />

f<strong>al</strong>ar em direito à percepção <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por danos morais e materiais. Diante disso, <strong>de</strong>u-se provimento ao recurso” (STJ – REsp<br />

1.164.889-SP – Rel. Min. Honil<strong>do</strong> Amar<strong>al</strong> <strong>de</strong> Mello Castro (Desembarga<strong>do</strong>r Convoca<strong>do</strong> <strong>do</strong> TJAP) – j. 04.05.2010).<br />

Essa forma <strong>de</strong> julgar foi confirmada pelo STJ em aresto mais recente, segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> “‘não se revela razoável exigir das<br />

equipes <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> um cinema ou <strong>de</strong> uma administra<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> shopping centers que previssem, evitassem ou estivessem<br />

antecipadamente preparadas para conter os danos resultantes <strong>de</strong> uma investida homicida promovida por terceiro usuário, mesmo<br />

porque tais medidas não estão compreendidas entre os <strong>de</strong>veres e cuida<strong>do</strong>s ordinariamente exigi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estabelecimentos comerciais<br />

<strong>de</strong> tais espécies’ (REsp 1.384.630/SP – Rel. Min. Paulo <strong>de</strong> Tarso Sanseverino – Rel. p/Acórdão Min. Ricar<strong>do</strong> Villas Bôas Cueva –<br />

Terceira Turma – j. 20.02.2014 – DJe 12.06.2014; grifou-se). Assim, se o shopping e o cinema não concorreram para a eclosão <strong>do</strong>

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