3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)
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trata<strong>do</strong>s internacionais <strong>do</strong>s quais o Brasil é signatário e que preveem tarifação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização no transporte aéreo internacion<strong>al</strong>, nos<br />
casos <strong>de</strong> cancelamento e atraso <strong>de</strong> voos, bem como <strong>de</strong> extravio <strong>de</strong> bagagem. Deve ficar claro que tais trata<strong>do</strong>s internacionais não<br />
são convenções <strong>de</strong> direitos humanos, não ten<strong>do</strong> a força <strong>de</strong> emendas à Constituição, como consta <strong>do</strong> art. 5º, § 3º, da Constituição<br />
Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, na redação dada pela Emenda Constitucion<strong>al</strong> 45/2004.<br />
Ora, tais convenções internacionais coli<strong>de</strong>m com o princípio da reparação integr<strong>al</strong> <strong>do</strong>s danos, r<strong>et</strong>ira<strong>do</strong> <strong>do</strong> art. 6º, VI, da Lei<br />
8.078/1990, que reconhece como direito básico <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r a ef<strong>et</strong>iva reparação <strong>do</strong>s danos patrimoniais e morais, individuais,<br />
col<strong>et</strong>ivos e difusos, afastan<strong>do</strong> qu<strong>al</strong>quer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tabelamento ou tarifação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização em <strong>de</strong>sfavor <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.<br />
Diante da citada posição intermediária ou supr<strong>al</strong>eg<strong>al</strong> <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, a norma consumerista <strong>de</strong>ve prev<strong>al</strong>ecer<br />
sobre as citadas fontes internacionais.<br />
Em complemento, para a ef<strong>et</strong>iva incidência <strong>do</strong> CDC ao transporte aéreo, merece <strong>de</strong>staque a argumentação <strong>de</strong>senvolvida por<br />
Marco Fábio Morsello, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a norma consumerista sempre <strong>de</strong>ve prev<strong>al</strong>ecer, por seu caráter mais especi<strong>al</strong>, ten<strong>do</strong> o que<br />
ele <strong>de</strong>nomina como segmentação horizont<strong>al</strong>. De outra forma, sustenta que a matéria consumerista é agrupada pela função e não<br />
pelo obj<strong>et</strong>o.16<br />
A<strong>de</strong>mais, não se po<strong>de</strong> esquecer que as fontes <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> Internacion<strong>al</strong> Público, caso das citadas convenções, não po<strong>de</strong>m entrar<br />
em conflito com as normas internas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública, como é o caso <strong>do</strong> Código Consumerista. Nessa linha, preceitua o art. 17 da<br />
Lei <strong>de</strong> Introdução às Normas <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> Brasileiro que “As leis, atos e sentenças <strong>de</strong> outro país, bem como quaisquer <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong><br />
vonta<strong>de</strong>, não terão eficácia no Brasil, quan<strong>do</strong> ofen<strong>de</strong>rem a soberania nacion<strong>al</strong>, a or<strong>de</strong>m pública e os bons costumes”.<br />
A prev<strong>al</strong>ência <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r sobre a Convenção <strong>de</strong> Varsóvia vem sen<strong>do</strong> aplicada há tempos pelos<br />
Tribunais Superiores. De início, vejamos <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2009:<br />
“Recurso extraordinário. Danos morais <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> atraso ocorri<strong>do</strong> em voo internacion<strong>al</strong>. Aplicação <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />
Consumi<strong>do</strong>r. Matéria infraconstitucion<strong>al</strong>. Não conhecimento. 1. O princípio da <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r se aplica a to<strong>do</strong> o capítulo<br />
constitucion<strong>al</strong> da ativida<strong>de</strong> econômica. 2. Afastam-se as normas especiais <strong>do</strong> Código Brasileiro da Aeronáutica e da Convenção <strong>de</strong><br />
Varsóvia quan<strong>do</strong> implicarem r<strong>et</strong>rocesso soci<strong>al</strong> ou vilipêndio aos direitos assegura<strong>do</strong>s pelo Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 3. Não<br />
cabe discutir, na instância extraordinária, sobre a corr<strong>et</strong>a aplicação <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r ou sobre a incidência, no<br />
caso concr<strong>et</strong>o, <strong>de</strong> específicas normas <strong>de</strong> consumo veiculadas em legislação especi<strong>al</strong> sobre o transporte aéreo internacion<strong>al</strong>. Ofensa<br />
indir<strong>et</strong>a à Constituição da República. 4. Recurso não conheci<strong>do</strong>” (STF – RE 351.750-3/RJ – Primeira Turma – Rel. Min. Carlos<br />
Britto – j. 17.03.2009 – DJe 25.09.2009, p. 69).<br />
Não tem si<strong>do</strong> diferente a conclusão <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, em inúmeros julga<strong>do</strong>s. Por to<strong>do</strong>s, entre os mais recentes:<br />
“Processu<strong>al</strong> civil. Embargos <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração no agravo regiment<strong>al</strong> no agravo <strong>de</strong> instrumento. Seguro. Ação regressiva.<br />
Responsabilida<strong>de</strong> civil. In<strong>de</strong>nização. Cálculo. Convenção <strong>de</strong> Varsóvia. Inaplicabilida<strong>de</strong>. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />
Incidência. Multa. Parágrafo único, art. 538 <strong>do</strong> CPC. Embargos rejeita<strong>do</strong>s” (STJ – EDcl-AgRg-Ag 804.618/SP – Quarta Turma –<br />
Rel. Min. Aldir Guimarães Passarinho Junior – j. 14.12.2010 – DJe 17.12.2010).<br />
“Agravo regiment<strong>al</strong> no agravo <strong>de</strong> instrumento. Transporte aéreo internacion<strong>al</strong>. Extravio <strong>de</strong> bagagem. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />
Consumi<strong>do</strong>r. Prev<strong>al</strong>ência. Convenção <strong>de</strong> Varsóvia. Quantum in<strong>de</strong>nizatório. Redução. Impossibilida<strong>de</strong>. Dissídio não configura<strong>do</strong>. 1.<br />
A jurisprudência <strong>do</strong>minante <strong>de</strong>sta Corte Superior se orienta no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> prev<strong>al</strong>ência das normas <strong>do</strong> CDC, em d<strong>et</strong>rimento das<br />
normas insertas na Convenção <strong>de</strong> Varsóvia, aos casos <strong>de</strong> extravio <strong>de</strong> bagagem, em transporte aéreo internacion<strong>al</strong>. 2. No que<br />
concerne à caracterização <strong>do</strong> dissenso pr<strong>et</strong>oriano para redução <strong>do</strong> quantum in<strong>de</strong>nizatório, impen<strong>de</strong> ress<strong>al</strong>tar que as circunstâncias<br />
que levam o Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> origem a fixar o v<strong>al</strong>or da in<strong>de</strong>nização por danos morais são <strong>de</strong> caráter person<strong>al</strong>íssimo e levam em conta<br />
questões subj<strong>et</strong>ivas, o que dificulta ou mesmo impossibilita a comparação, <strong>de</strong> forma obj<strong>et</strong>iva, para efeito <strong>de</strong> configuração da<br />
divergência, com outras <strong>de</strong>cisões assemelhadas. 3. Agravo regiment<strong>al</strong> a que se nega provimento” (STJ – AgRg-Ag 1.278.321/SP –<br />
Terceira Turma – Rel. Des. Conv. Vasco Della Giustina – j. 18.11.2010 – DJe 25.11.2010).<br />
“Agravo regiment<strong>al</strong>. Recurso especi<strong>al</strong>. Extravio <strong>de</strong> bagagem. In<strong>de</strong>nização ampla. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 1. É firme a<br />
jurisprudência <strong>de</strong>sta Corte no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, após a edição <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, não mais prev<strong>al</strong>ece a tarifação<br />
prevista na Convenção <strong>de</strong> Varsóvia. Incidência <strong>do</strong> princípio da ampla reparação. Prece<strong>de</strong>ntes. 2. Agravo regiment<strong>al</strong> <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>”<br />
(STJ – AgRg-REsp 262.687/SP – Quarta Turma – Rel. Min. Fernan<strong>do</strong> Gonç<strong>al</strong>ves – j. 15.12.2009 – DJe 22.02.2010).<br />
Por to<strong>do</strong>s os argumentos expostos, a conclusão <strong>de</strong>ve ser a mesma em casos envolven<strong>do</strong> a mais recente Convenção <strong>de</strong><br />
Montre<strong>al</strong>, que, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, limita a in<strong>de</strong>nização no transporte aéreo internacion<strong>al</strong>, na linha da tese <strong>de</strong>senvolvida pelo<br />
magistra<strong>do</strong> e jurista Marco Fábio Morsello, outrora citada. Essa, <strong>al</strong>iás, já vem sen<strong>do</strong> a conclusão <strong>do</strong>s nossos Tribunais, até o<br />
presente momento:<br />
“Agravo regiment<strong>al</strong> no agravo <strong>de</strong> instrumento. Transporte aéreo internacion<strong>al</strong>. Atraso <strong>de</strong> voo. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />
Convenções internacionais. Responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva. Riscos inerentes à ativida<strong>de</strong>. Fundamento inataca<strong>do</strong>. Súmula 283 <strong>do</strong> STF.