05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

à tutela col<strong>et</strong>iva, haven<strong>do</strong> <strong>do</strong>utrina, por exemplo, que f<strong>al</strong>a em microssistema processu<strong>al</strong> cria<strong>do</strong> pelas três leis que regulamentam os<br />

Juiza<strong>do</strong>s Especiais (Lei 9.099/1995; Lei 10.259/2001; Lei 12.153/2009)7.<br />

Essa plur<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> normas processuais que regulamentam a tutela col<strong>et</strong>iva no direito pátrio é <strong>al</strong>go que natur<strong>al</strong>mente complica<br />

sua aplicação no caso concr<strong>et</strong>o, com discussões por muitas vezes ac<strong>al</strong>oradas sobre qu<strong>al</strong> norma aplicar. É um problema que po<strong>de</strong>ria<br />

ter si<strong>do</strong> resolvi<strong>do</strong>, mas a opção legislativa não seguiu o <strong>de</strong>sejo da maior parte da <strong>do</strong>utrina especi<strong>al</strong>izada.<br />

Existe um Código Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Processos Col<strong>et</strong>ivos para Ibero-América, aprova<strong>do</strong> nas Jornadas <strong>do</strong> Instituto Ibero-Americano <strong>de</strong><br />

<strong>Direito</strong> Processu<strong>al</strong>, na Venezuela, em outubro <strong>de</strong> 2004. Contribuíram para a elaboração <strong>de</strong>sse Código Mo<strong>de</strong>lo especi<strong>al</strong>istas iberoamericanos<br />

<strong>de</strong> diversos países, sen<strong>do</strong> brasileiros Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe, Antonio Gidi e Aluísio <strong>de</strong> Castro<br />

Men<strong>de</strong>s. Como o próprio nome sugere, entr<strong>et</strong>anto, trata-se apenas <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo, que serve, quan<strong>do</strong> muito, para comparação com o<br />

direito vigente em nosso país. De qu<strong>al</strong>quer forma, trata-se <strong>de</strong> compilação em um só Código <strong>de</strong> todas as normas processuais da<br />

tutela col<strong>et</strong>iva.<br />

Certamente influencia<strong>do</strong>s pelo Código Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Processos Col<strong>et</strong>ivos para Ibero-América, teve início em território nacion<strong>al</strong><br />

um movimento para a elaboração <strong>de</strong> um Código <strong>de</strong> Processo Civil col<strong>et</strong>ivo. Depois <strong>de</strong> muitas idas e vindas, o proj<strong>et</strong>o, que <strong>de</strong>sistiu<br />

da i<strong>de</strong>ia originária <strong>de</strong> novo Código e passou a propor uma revisão substanci<strong>al</strong> da Lei 7.347/1985, para que passasse a ser o diploma<br />

processu<strong>al</strong> col<strong>et</strong>ivo (Proj<strong>et</strong>o <strong>de</strong> Lei 5.139/2009), foi rejeita<strong>do</strong> na Comissão <strong>de</strong> Constituição e Justiça8, sen<strong>do</strong> interposto recurso <strong>do</strong><br />

relator e <strong>de</strong> outros <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s contra t<strong>al</strong> <strong>de</strong>cisão. Fin<strong>al</strong>mente, em 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2010, o proj<strong>et</strong>o <strong>de</strong> lei foi rejeita<strong>do</strong> pela Câmara <strong>do</strong>s<br />

Deputa<strong>do</strong>s.<br />

Esse brevíssimo histórico é importante porque <strong>de</strong>monstra que houve uma tentativa legislativa <strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> todas – ou ao<br />

menos da maioria – as normas processuais da tutela col<strong>et</strong>iva num só diploma leg<strong>al</strong>. Ocorre, entr<strong>et</strong>anto, que esse obj<strong>et</strong>ivo não foi<br />

<strong>al</strong>cança<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma que, atu<strong>al</strong>mente, o sistema processu<strong>al</strong> da tutela col<strong>et</strong>iva está esp<strong>al</strong>ha<strong>do</strong> por inúmeras leis, o que exige <strong>do</strong><br />

intérpr<strong>et</strong>e o reconhecimento <strong>de</strong> que o microssistema <strong>de</strong> processo col<strong>et</strong>ivo resulta da reunião <strong>de</strong> normas distribuídas por tais leis.<br />

Registre-se, antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, que o termo microssistema col<strong>et</strong>ivo não é tranquilo na <strong>do</strong>utrina, haven<strong>do</strong> aqueles que preferem f<strong>al</strong>ar<br />

em minissistema 9 e outros, em sistema único col<strong>et</strong>ivo 10 . São diferentes nomenclaturas para praticamente o mesmo raciocínio, <strong>de</strong><br />

forma que a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra não gera qu<strong>al</strong>quer repercussão prática relevante. Prefiro o termo “microssistema col<strong>et</strong>ivo”<br />

por ser o mais utiliza<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong>, inclusive, consagra<strong>do</strong> no Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça 11 . O mais importante é a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> como<br />

as leis que compõem o microssistema se relacionam e como esse se relaciona com o Código <strong>de</strong> Processo Civil.<br />

São inúmeras as leis que compõem o microssistema col<strong>et</strong>ivo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser citadas: Lei 4.717/1965 (Ação Popular); Lei<br />

6.938/1981 (Lei da Política Nacion<strong>al</strong> <strong>do</strong> Meio Ambiente); Lei 7.347/1985 (Ação Civil Pública); Constituição Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> <strong>de</strong> 1988; Lei<br />

7.853/1989 (Lei das Pessoas Porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> Deficiência); Lei 7.913/1989 (Lei <strong>do</strong>s Investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> V<strong>al</strong>ores<br />

Imobiliários); Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente); Lei 8.078/1990 (Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r); Lei<br />

8.492/1992 (Lei <strong>de</strong> Improbida<strong>de</strong> Administrativa); Lei 10.471/2003 (Estatuto <strong>do</strong> I<strong>do</strong>so); Lei 10.671/2003 (Estatuto <strong>do</strong> Torce<strong>do</strong>r);<br />

Lei 12.016/2009 (Lei <strong>do</strong> Manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> Segurança); Lei 12.529/2011 (Lei <strong>do</strong> Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Concorrência); Lei 12.846/2013<br />

(Lei Anticorrupção); Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).<br />

Apesar da inegável plur<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leis a compor o microssistema col<strong>et</strong>ivo, a <strong>do</strong>utrina parece tranquila no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> indicar que<br />

o núcleo duro <strong>de</strong>sse microssistema é forma<strong>do</strong> pela Lei da Ação Civil Pública e pelo Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r 12 . Para<br />

<strong>al</strong>guns, inclusive, só existiria o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r e a ação civil pública, regulada pela Lei 7.347/1985 e reafirmada,<br />

contrariada ou complementada pelas <strong>de</strong>mais leis mencionadas13. Seja como for, não há como se negar a relevância das Leis<br />

7.347/1985 e 8.078/1990 para o microssistema col<strong>et</strong>ivo.<br />

No tocante à norma que <strong>de</strong>ve ser aplicada no caso concr<strong>et</strong>o, é possível pensar em três interessantes pontos: (i) <strong>de</strong>finir <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />

núcleo duro qu<strong>al</strong> norma <strong>de</strong>ve ser aplicada; (ii) fora <strong>do</strong> núcleo duro, como normas <strong>de</strong> outras leis que compõem o microssistema<br />

<strong>de</strong>vam ser aplicadas; (iii) fora <strong>do</strong> microssistema, como <strong>de</strong>vem ser aplicadas as regras <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Processo Civil.<br />

Quanto ao primeiro ponto, há corrente <strong>do</strong>utrinária que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ser prioritariamente aplicáveis as normas da Lei da Ação Civil<br />

Pública, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-se a aplicação em segun<strong>do</strong> plano, no que for cabível, das normas previstas no Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r 14 , enquanto outra corrente enten<strong>de</strong> que, sen<strong>do</strong> a relação <strong>de</strong> direito materi<strong>al</strong> <strong>de</strong> consumo, a aplicação da Lei <strong>de</strong> Ação<br />

Civil Pública <strong>de</strong>ve ocorrer subsidiariamente 15 . Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> apenas esses <strong>do</strong>is entendimentos, o primeiro é preferível em razão da<br />

expressa previsão contida no art. 21 da Lei 7.347/1985.<br />

Consi<strong>de</strong>ro, entr<strong>et</strong>anto, que não existe propriamente uma or<strong>de</strong>m preestabelecida entre os <strong>do</strong>is diplomas legais. Na re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, são<br />

raras as hipóteses <strong>de</strong> conflito entre suas normas, servin<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> para especificar normas existentes no primeiro, como ocorre,<br />

por exemplo, no caso da comp<strong>et</strong>ência, ou para incluir novida<strong>de</strong>s, como a expressa previsão <strong>de</strong> tutela col<strong>et</strong>iva aos direitos<br />

individuais homogêneos. Normas <strong>do</strong> diploma mais antigo, modificadas posteriormente, também são aplicáveis no diploma mais<br />

recente, como o famigera<strong>do</strong> art. 16 da LACP, ainda que atu<strong>al</strong>mente corr<strong>et</strong>amente interpr<strong>et</strong>a<strong>do</strong> pelo Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!