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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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egras e o regulamento <strong>do</strong>s contratos <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong>vem ser ef<strong>et</strong>ivos e assegurar transparência e justiça contratu<strong>al</strong>; d) Princípio <strong>do</strong><br />

crédito responsável – crédito responsável impõe responsabilida<strong>de</strong> a to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s no fornecimento <strong>de</strong> crédito ao consumi<strong>do</strong>r,<br />

inclusive fornece<strong>do</strong>res, corr<strong>et</strong>ores, agentes e consultores; e) Princípio da participação <strong>do</strong>s grupos e associações <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>res –<br />

grupos e associações <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong>vem participar ativamente na elaboração e na regulação da proteção <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r”.<br />

Como se verá, os princípios expostos pela presente obra estão muito próximos <strong>do</strong>s edita<strong>do</strong>s naquele importante evento<br />

internacion<strong>al</strong>. Vejamos, então, o seu estu<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma pontu<strong>al</strong>.<br />

2.2.<br />

PRINCÍPIO DO PROTECIONISMO DO CONSUMIDOR (ART. 1º DA LEI 8.078/1990)<br />

Do texto leg<strong>al</strong>, o princípio <strong>do</strong> protecionismo <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> ser r<strong>et</strong>ira<strong>do</strong> <strong>do</strong> art. 1º da Lei 8.078/1990, segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> o<br />

Código Consumerista estabelece normas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública e interesse soci<strong>al</strong>, nos termos <strong>do</strong> art. 5º, inc. XXXII, e <strong>do</strong> art. 170, inc.<br />

V da Constituição Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, <strong>al</strong>ém <strong>do</strong> art. 48 <strong>de</strong> suas Disposições Transitórias. Não se po<strong>de</strong> esquecer que, conforme o segun<strong>do</strong><br />

coman<strong>do</strong> constitucion<strong>al</strong> cita<strong>do</strong>, a proteção <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res é um <strong>do</strong>s fundamentos da or<strong>de</strong>m econômica brasileira.<br />

A natureza <strong>de</strong> norma <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública e interesse soci<strong>al</strong> justifica plenamente o teor da Lei 12.291/2010, que torna obrigatória<br />

a exibição <strong>de</strong> um exemplar <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r em to<strong>do</strong>s os estabelecimentos comerciais <strong>do</strong> País, sob pena <strong>de</strong><br />

imposição <strong>de</strong> multa no v<strong>al</strong>or <strong>de</strong> R$ 1.064,10 (hum mil e sessenta e quatro reais e <strong>de</strong>z centavos). Na verda<strong>de</strong>, mais <strong>do</strong> que isso,<br />

diante <strong>de</strong> sua inegável importância para a socieda<strong>de</strong>, o <strong>Direito</strong> <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>veria ser matéria obrigatória na gra<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino<br />

médio nas escolas <strong>do</strong> Brasil. Por óbvio, <strong>de</strong>ve ser ainda disciplina autônoma e compulsória nas faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Direito</strong>, o que não<br />

ocorre, muitas vezes.9<br />

O princípio <strong>do</strong> protecionismo <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r enfeixa <strong>al</strong>gumas consequências práticas que não po<strong>de</strong>m ser esquecidas.<br />

A primeira consequência é que as regras da Lei 8.078/1990 não po<strong>de</strong>m ser afastadas por convenção entre as partes, sob pena<br />

<strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> absoluta. Como fundamento para essa conclusão, po<strong>de</strong> ser citada a previsão <strong>do</strong> art. 51, inc. XV, <strong>do</strong> próprio CDC,<br />

segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> são nulas <strong>de</strong> pleno direito as cláusulas abusivas que estejam em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com o sistema <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r. O tema ainda será aprofunda<strong>do</strong> no Capítulo 5 <strong>de</strong>ste livro, que trata da proteção contratu<strong>al</strong>.<br />

Como segunda consequência, cabe sempre a intervenção <strong>do</strong> Ministério Público em questões envolven<strong>do</strong> problemas <strong>de</strong><br />

consumo. A Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985) reconhece a legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministério Público para as <strong>de</strong>mandas<br />

col<strong>et</strong>ivas envolven<strong>do</strong> danos materiais e morais aos consumi<strong>do</strong>res (art. 1º). T<strong>al</strong> incremento na atuação <strong>do</strong> Ministério Público<br />

representa a própria evolução da instituição, eis que, como bem aponta o promotor <strong>de</strong> justiça gaúcho Julio César Finger, “A parte<br />

mais visível <strong>de</strong>sse ‘novo’ Ministério Público foi a constitucion<strong>al</strong>ização e a posterior popularização das ações civis públicas para a<br />

ef<strong>et</strong>ivação <strong>de</strong> direitos col<strong>et</strong>ivos e difusos. As ações movidas pelo Ministério Público serviram <strong>de</strong> base para a formação <strong>de</strong> uma<br />

‘<strong>do</strong>utrina’ nacion<strong>al</strong> acerca <strong>do</strong> que se configurariam esses ‘novos direitos’”. 10<br />

Como terceira consequência, toda a proteção constante da Lei Prot<strong>et</strong>iva <strong>de</strong>ve ser conhecida <strong>de</strong> ofício pelo juiz, caso da<br />

nulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventu<strong>al</strong> cláusula abusiva. Assim sen<strong>do</strong>, fica claro que representa uma tot<strong>al</strong> afronta ao princípio <strong>do</strong> protecionismo <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r o teor da Súmula 381 <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong>, nos contratos bancários, é veda<strong>do</strong> ao julga<strong>do</strong>r<br />

conhecer <strong>de</strong> ofício das abusivida<strong>de</strong>s das cláusulas contratuais. A crítica à referida ementa igu<strong>al</strong>mente será aprofundada no Capítulo<br />

5 <strong>de</strong>ste livro, com as <strong>de</strong>vidas referências <strong>do</strong>utrinárias.<br />

Cabe frisar que, como feliz iniciativa, o Proj<strong>et</strong>o <strong>de</strong> Lei 281/2012 – uma das projeções legislativas <strong>de</strong> Reforma <strong>do</strong> CDC em<br />

curso no Congresso Nacion<strong>al</strong> – pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong> ampliar o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse protecionismo, incluin<strong>do</strong> um parágrafo único ao art. 1º da Lei<br />

8.078/1990, com a seguinte redação: “As normas e os negócios jurídicos <strong>de</strong>vem ser interpr<strong>et</strong>a<strong>do</strong>s e integra<strong>do</strong>s da maneira mais<br />

favorável ao consumi<strong>do</strong>r”. Como se verá em vários trechos <strong>de</strong>ste livro, t<strong>al</strong> caminho hermenêutico já po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>,<br />

visan<strong>do</strong> a ef<strong>et</strong>iva tutela <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res brasileiros.<br />

Ress<strong>al</strong>tan<strong>do</strong> ainda mais a importância <strong>do</strong> princípio em questão, <strong>de</strong>staque-se, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2013, a emergência <strong>do</strong> Decr<strong>et</strong>o 7.963,<br />

que institui o Plano Nacion<strong>al</strong> <strong>de</strong> Consumo e Cidadania e cria a Câmara Nacion<strong>al</strong> das Relações <strong>de</strong> Consumo. Nos termos <strong>do</strong> seu art.<br />

1º, t<strong>al</strong> Plano tem como fin<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> promover a proteção e <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r em to<strong>do</strong> o território nacion<strong>al</strong>, por meio da<br />

integração e articulação <strong>de</strong> políticas, programas e ações. O Plano Nacion<strong>al</strong> <strong>de</strong> Consumo e Cidadania será executa<strong>do</strong> pela União em<br />

colaboração com Esta<strong>do</strong>s, Distrito Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, Municípios e com a socieda<strong>de</strong>. São suas dir<strong>et</strong>ivas fundamentais: a) educação para o<br />

consumo; b) a<strong>de</strong>quada e eficaz prestação <strong>do</strong>s serviços públicos; c) garantia <strong>do</strong> acesso <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r à justiça; d) garantia <strong>de</strong><br />

produtos e serviços com padrões a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s <strong>de</strong> qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, segurança, durabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sempenho; e) fort<strong>al</strong>ecimento da participação<br />

soci<strong>al</strong> na <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res; f) prevenção e repressão <strong>de</strong> condutas que violem direitos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r; e g)<br />

autod<strong>et</strong>erminação, privacida<strong>de</strong>, confi<strong>de</strong>nci<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> e segurança das informações e da<strong>do</strong>s pessoais presta<strong>do</strong>s ou col<strong>et</strong>a<strong>do</strong>s, inclusive<br />

por meio el<strong>et</strong>rônico (art. 2º).

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