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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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extensão, provi<strong>do</strong>” (STJ – REsp 1.060.515/DF – Quarta Turma – Rel. Des. Conv. Honil<strong>do</strong> Amar<strong>al</strong> <strong>de</strong> Mello Castro – j. 04.05.2010 –<br />

DJe 24.05.2010).<br />

Ainda no plano <strong>do</strong> STJ, anote-se que aquela jurisprudência superior já <strong>de</strong>bateu, com base no diálogo das fontes, a incidência<br />

ou não <strong>do</strong> prazo ger<strong>al</strong> <strong>de</strong> prescrição <strong>do</strong> Código Civil na situação envolven<strong>do</strong> o tabagismo, por ser o prazo maior mais favorável ao<br />

consumi<strong>do</strong>r. Destaque-se que o tema ainda será aprofunda<strong>do</strong> na presente obra. No presente momento, colaciona-se apenas a<br />

ementa <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>, pela menção expressa à teoria:<br />

“Consumi<strong>do</strong>r e civil. Art. 7º <strong>do</strong> CDC. Aplicação da lei mais favorável. Diálogo <strong>de</strong> fontes. Relativização <strong>do</strong> princípio da<br />

especi<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>. Responsabilida<strong>de</strong> civil. Tabagismo. Relação <strong>de</strong> consumo. Ação in<strong>de</strong>nizatória. Prescrição. Prazo. O mandamento<br />

constitucion<strong>al</strong> <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve ser cumpri<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o sistema jurídico, em diálogo <strong>de</strong> fontes, e não somente por<br />

intermédio <strong>do</strong> CDC. Assim, e nos termos <strong>do</strong> art. 7º <strong>do</strong> CDC, sempre que uma lei garantir <strong>al</strong>gum direito para o consumi<strong>do</strong>r, ela<br />

po<strong>de</strong>rá se somar ao microssistema <strong>do</strong> CDC, incorporan<strong>do</strong>-se na tutela especi<strong>al</strong> e ten<strong>do</strong> a mesma preferência no trato da relação <strong>de</strong><br />

consumo. Diante disso, conclui-se pela inaplicabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> <strong>do</strong> art. 27 <strong>do</strong> CDC à hipótese <strong>do</strong>s autos, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong><br />

incidir a prescrição vintenária <strong>do</strong> art. 177 <strong>do</strong> CC/1916, por ser mais favorável ao consumi<strong>do</strong>r. Recente <strong>de</strong>cisão da 2ª Seção, porém,<br />

pacificou o entendimento quanto à incidência na espécie <strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> <strong>de</strong> 5 anos previsto no art. 27 <strong>do</strong> CDC, que <strong>de</strong>ve<br />

prev<strong>al</strong>ecer, com a ress<strong>al</strong>va <strong>do</strong> entendimento pesso<strong>al</strong> da Relatora. Recursos especiais provi<strong>do</strong>s” (STJ – REsp 1009591/RS – Terceira<br />

Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi –, j. 13.04.2010 – DJe 23.08.2010).<br />

Também parece representar aplicação da teoria <strong>do</strong> diálogo das fontes a recente Súmula n. 547 <strong>do</strong> STJ, <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2015,<br />

segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong> “Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento <strong>do</strong>s v<strong>al</strong>ores pagos a título <strong>de</strong> participação financeira <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

no custeio <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> elétrica, o prazo prescricion<strong>al</strong> é <strong>de</strong> vinte anos na vigência <strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 1916. Na vigência<br />

<strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 2002, o prazo é <strong>de</strong> cinco anos se houver previsão contratu<strong>al</strong> <strong>de</strong> ressarcimento e <strong>de</strong> três anos na ausência <strong>de</strong><br />

cláusula nesse senti<strong>do</strong>, observada a regra <strong>de</strong> transição disciplinada em seu art. 2.028”. Trata-se <strong>de</strong> incidência <strong>de</strong>ssa teoria, pelo fato<br />

<strong>de</strong> se buscar a aplicação <strong>de</strong> prazos que estão previstos no Código Civil, pela ausência <strong>de</strong> norma específica no CDC.<br />

Em suma, como se r<strong>et</strong>ira <strong>de</strong> aresto <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> da Cidadania, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2015, com precisão, “o <strong>Direito</strong> <strong>de</strong>ve ser compreendi<strong>do</strong>,<br />

em m<strong>et</strong>áfora às ciências da natureza, como um sistema <strong>de</strong> vasos comunicantes, ou <strong>de</strong> diálogo das fontes (Erik Jayme), que permita<br />

a sua interpr<strong>et</strong>ação <strong>de</strong> forma holística. Deve-se buscar, sempre, evitar antinomias, ofensivas que são aos princípios da isonomia e<br />

da segurança jurídica, bem como ao próprio i<strong>de</strong><strong>al</strong> humano <strong>de</strong> Justiça” (STJ – AgRg no REsp 1.483.780/PE – Primeira Turma –<br />

Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 23.06.2015, DJe 05.08.2015).<br />

Da mesma maneira, concr<strong>et</strong>izan<strong>do</strong> a teoria e limitan<strong>do</strong> os juros cobra<strong>do</strong>s em cartão <strong>de</strong> crédito, <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça<br />

da Bahia, entre tantas ementas que se rep<strong>et</strong>em:<br />

“Consumi<strong>do</strong>r. Cartão <strong>de</strong> crédito. Juros abusivos. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Juros: estipulação usurária pecuniária ou re<strong>al</strong>.<br />

Trata-se <strong>de</strong> crime previsto na Lei 1.521/1951, art. 4º. Limitação prevista na Lei 4.595/1964 e nas normas <strong>do</strong> Conselho Mon<strong>et</strong>ário<br />

Nacion<strong>al</strong>, regulação vigorante, ainda que <strong>de</strong>pois da revogação <strong>do</strong> art. 192 da CF/1988, pela Emenda Constitucion<strong>al</strong> 40, <strong>de</strong> 2003.<br />

Manutenção da razoabilida<strong>de</strong> e limitação <strong>de</strong> prática <strong>de</strong> juros pelo art. 161 <strong>do</strong> CTN combinan<strong>do</strong> com 406 e 591 <strong>do</strong> CC/2002. A<br />

cláusula ger<strong>al</strong> da boa-fé está presente tanto no Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r (arts. 4º, III, e 51, IV, e § 1º, <strong>do</strong> CDC) como no<br />

Código Civil <strong>de</strong> 2002 (arts. 113, 187 e 422, <strong>do</strong> CC/2002), que <strong>de</strong>vem atuar em diálogo (diálogo das fontes, na expressão <strong>de</strong> Erik<br />

Jayme) e sob a luz da Constituição e <strong>do</strong>s direitos fundamentais para proteger os direitos <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res (art. 7º <strong>do</strong> CDC).<br />

Relembre-se, aqui, portanto, o Enuncia<strong>do</strong> <strong>de</strong> n. 25 da Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Civil, organizada pelo STJ em 2002, que afirma: ‘a<br />

cláusula ger<strong>al</strong> contida no art. 422 <strong>do</strong> novo Código Civil impõe ao juiz interpr<strong>et</strong>ar e, quan<strong>do</strong> necessário, suprir e corrigir o contrato<br />

segun<strong>do</strong> a boa-fé obj<strong>et</strong>iva, entendida como exigência <strong>de</strong> comportamento leg<strong>al</strong> <strong>do</strong>s contratantes’. Recurso improce<strong>de</strong>nte” (TJBA –<br />

Recurso 0204106-62.2007.805.0001-1 – Segunda Turma Recurs<strong>al</strong> – Rel. Juíza Nicia Olga Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza Dantas – DJBA<br />

25.01.2010).<br />

Do Tribun<strong>al</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte, da mesma maneira tentan<strong>do</strong> uma aproximação conceitu<strong>al</strong> entre os <strong>do</strong>is Códigos,<br />

colaciona-se:<br />

“Civil. CDC. Processo Civil. Apelação cível. Juízo <strong>de</strong> admissibilida<strong>de</strong> positivo. Ação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por danos morais. Contrato <strong>de</strong><br />

promessa <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> imóvel. Notificação cartorária. Cobrança in<strong>de</strong>vida. Prestação <strong>de</strong> serviços. Relação <strong>de</strong> consumo<br />

configurada. Incidência <strong>do</strong> Código Civil. Diálogo das fontes. Responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva. Vício <strong>de</strong> qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>. Dano mor<strong>al</strong>.<br />

configura<strong>do</strong>. Dano à honra. Ab<strong>al</strong>o à saú<strong>de</strong>. Quantum in<strong>de</strong>nizatório excessivo. Redução. Minoração da con<strong>de</strong>nação em honorários<br />

advocatícios. Recurso conheci<strong>do</strong> e provi<strong>do</strong> em parte” (TJRN – Acórdão 2009.010644-0, Nat<strong>al</strong> – Terceira Câmara Cível – Rel. Juíza<br />

Conv. Maria Neize <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s – DJRN 03.12.2009, p. 39).<br />

Tratan<strong>do</strong> da coexistência entre as leis, enuncia<strong>do</strong> fundament<strong>al</strong> da teoria <strong>do</strong> diálogo das fontes, <strong>de</strong>staque-se <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong><br />

<strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul:

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