05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

formulou por meio <strong>do</strong> processo. Ter ou não razão em suas <strong>al</strong>egações e pr<strong>et</strong>ensões é irrelevante nesse tocante, não afastan<strong>do</strong> a<br />

carência da ação por f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> agir.<br />

Segun<strong>do</strong> parcela da <strong>do</strong>utrina, o interesse <strong>de</strong> agir <strong>de</strong>ve ser an<strong>al</strong>isa<strong>do</strong> sob <strong>do</strong>is diferentes aspectos: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção da<br />

tutela jurisdicion<strong>al</strong> reclamada e a a<strong>de</strong>quação entre o pedi<strong>do</strong> e a proteção jurisdicion<strong>al</strong> que se pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong> obter 14 . No tocante à fase<br />

pré-processu<strong>al</strong>, consagrada nos arts. 2.º, 3.º e 4.º da Lei 9.507/1997, cabe a análise tão somente da necessida<strong>de</strong> na imp<strong>et</strong>ração <strong>do</strong><br />

habeas data.<br />

Haverá necessida<strong>de</strong> sempre que o autor não pu<strong>de</strong>r obter o bem da vida pr<strong>et</strong>endi<strong>do</strong> sem a <strong>de</strong>vida intervenção <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r<br />

Judiciário. Em regra, haven<strong>do</strong> a lesão ou ameaça <strong>de</strong> lesão a direito, consubstanciada na li<strong>de</strong> tradicion<strong>al</strong>, haverá interesse <strong>de</strong> agir,<br />

porque, ainda que exista a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção <strong>do</strong> bem da vida por meios <strong>al</strong>ternativos <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> conflitos, ninguém é<br />

obriga<strong>do</strong> a resolver suas crises jurídicas por essas vias <strong>al</strong>ternativas. É natur<strong>al</strong> que, no habeas data, a pr<strong>et</strong>ensão resistida <strong>de</strong>penda<br />

tanto <strong>de</strong> seu exercício no âmbito extrajudici<strong>al</strong> como da resistência ao pedi<strong>do</strong> formula<strong>do</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, inclusive, há entendimento<br />

sumula<strong>do</strong> pelo Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça15.<br />

Não se po<strong>de</strong> antever nessa exigência qu<strong>al</strong>quer ofensa ao princípio da inafastabilida<strong>de</strong> da tutela jurisdicion<strong>al</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se<br />

que o direito <strong>de</strong> ação não é ilimita<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> condiciona<strong>do</strong> seu exercício à presença das condições da ação no caso concr<strong>et</strong>o. Nesses<br />

termos, os dispositivos conti<strong>do</strong>s na Lei 9.507/1997 que versam sobre a fase pré-processu<strong>al</strong> <strong>do</strong> habeas data, fixan<strong>do</strong> prazos para a<br />

resposta ao pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> informações, r<strong>et</strong>ificações ou averbações, em nada contrariam a previsão <strong>do</strong> art. 5.º, LXXVIII, da CF/1988,<br />

apenas regulamentan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma obj<strong>et</strong>iva o interesse <strong>de</strong> agir nessa ação constitucion<strong>al</strong>.<br />

Cumpre lembrar que, num <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong> princípio da inafastabilida<strong>de</strong> da jurisdição, enten<strong>de</strong>-se que o interessa<strong>do</strong> em<br />

provocar o Po<strong>de</strong>r Judiciário, em razão <strong>de</strong> lesão ou ameaça <strong>de</strong> lesão a direito, não é obriga<strong>do</strong> a procurar antes disso os possíveis<br />

mecanismos administrativos <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> conflitos. Ainda que seja possível a instauração <strong>de</strong> um processo administrativo, isso não<br />

será impedimento para a procura <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Judiciário. E mais. O interessa<strong>do</strong> também não precisa esgotar a via administrativa <strong>de</strong><br />

solução <strong>de</strong> conflitos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> perfeitamente procurá-la e, a qu<strong>al</strong>quer momento, buscar o Po<strong>de</strong>r Judiciário. Natur<strong>al</strong>mente, como<br />

observa a melhor <strong>do</strong>utrina, a exigência <strong>de</strong> um pedi<strong>do</strong> recusa<strong>do</strong> não se confun<strong>de</strong> com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se instaurar um processo<br />

administrativo, tampouco <strong>de</strong> se exaurir a via administrativa <strong>de</strong> solução <strong>do</strong>s conflitos 16 .<br />

14.4.2.<br />

Procedimento<br />

14.4.2.1.<br />

Fase pré-processu<strong>al</strong><br />

A fase pré-processu<strong>al</strong>, que tem seu procedimento disciplina<strong>do</strong> pelos arts. 2.º, 3.º e 4.º da Lei 9.507/1997, <strong>de</strong>ve ser an<strong>al</strong>isada<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> obj<strong>et</strong>ivo <strong>do</strong> solicitante perante o órgão ou entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>positária <strong>do</strong> registro ou banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. Os v<strong>et</strong>os<br />

presi<strong>de</strong>nciais ao parágrafo único <strong>do</strong> art. 3.º e aos arts. 5.º e 6.º, apesar <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rem ser elogia<strong>do</strong>s, não sacrificam<br />

substanci<strong>al</strong>mente a compreensão e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa fase prévia ao eventu<strong>al</strong> processo judici<strong>al</strong>.<br />

No art. 2.º da Lei 9.507/1997, há previsão para o requerimento, quan<strong>do</strong> o obj<strong>et</strong>ivo <strong>do</strong> solicitante é exclusivamente tomar<br />

conhecimento <strong>de</strong> informações pessoais mantidas em registros ou banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> o dispositivo leg<strong>al</strong>, a partir <strong>do</strong> momento<br />

em que o requerimento é apresenta<strong>do</strong> perante o órgão ou entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>positária <strong>do</strong> registro ou banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, haverá um prazo <strong>de</strong><br />

48 horas para a resposta. O parágrafo único <strong>do</strong> dispositivo leg<strong>al</strong> prevê que a comunicação da resposta ao solicitante <strong>de</strong>ve ser feita<br />

em 24 horas. Numa mera conta aritmética, chega-se ao prazo <strong>de</strong> 72 horas entre o pedi<strong>do</strong> e a informação <strong>de</strong> que ele foi acolhi<strong>do</strong>,<br />

tardan<strong>do</strong> um pouco mais o ef<strong>et</strong>ivo acesso aos da<strong>do</strong>s, conforme previsão <strong>do</strong> art. 3.º da Lei 9.507/1997.<br />

Seria <strong>de</strong> se presumir que, <strong>de</strong>corri<strong>do</strong> qu<strong>al</strong>quer <strong>de</strong>sses prazos, passaria a ser cabível o habeas data, mas a previsão contida no<br />

art. 8.º, parágrafo único, I, da Lei 9.507/1997 parece sugerir <strong>al</strong>go diverso. Segun<strong>do</strong> o dispositivo leg<strong>al</strong> menciona<strong>do</strong>, o imp<strong>et</strong>rante<br />

<strong>de</strong>ve instruir sua p<strong>et</strong>ição inici<strong>al</strong> com prova da recusa ou <strong>do</strong> <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias sem <strong>de</strong>cisão. Ora, se órgão tem o prazo <strong>de</strong><br />

48 horas para respon<strong>de</strong>r e 24 para informar sua resposta, a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias sem resposta <strong>al</strong>onga<br />

injustificavelmente o prazo necessário para que o imp<strong>et</strong>rante passe a ter interesse <strong>de</strong> agir no habeas data17.<br />

Diante <strong>do</strong> in<strong>de</strong>sejável conflito entre os dispositivos legais menciona<strong>do</strong>s, a tendência é pela aplicação, ao menos no tocante ao<br />

interesse <strong>de</strong> agir para a imp<strong>et</strong>ração <strong>de</strong> habeas data, <strong>do</strong>s prazos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z e quinze dias previstos no art. 8.º da Lei 9.507/1997. Há<br />

<strong>do</strong>utrina que, apesar <strong>de</strong> reconhecer a estranheza da solução, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que, no tempo entre o vencimento <strong>do</strong> prazo <strong>de</strong> 72 horas e <strong>de</strong>z<br />

ou quinze dias, seja cabível o manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> segurança 18 .<br />

Interessante notar que o legisla<strong>do</strong>r permite o ingresso <strong>de</strong> habeas data diante da <strong>de</strong>mora em respon<strong>de</strong>r o requerimento<br />

extrajudici<strong>al</strong>, não sen<strong>do</strong> necessário esperar, por vezes in<strong>de</strong>finidamente, pela recusa. Nesse caso, entr<strong>et</strong>anto, surge a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a informação ser prestada a <strong>de</strong>stempo, quan<strong>do</strong> já em trâmite o habeas data, hipótese em que a ação per<strong>de</strong> supervenientemente<br />

seu obj<strong>et</strong>o, sen<strong>do</strong> caso <strong>de</strong> extinção terminativa por carência superveniente (f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> interesse).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!