05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

e<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> brasileira, o que reduz substanci<strong>al</strong>mente o po<strong>de</strong>r das partes, em situação <strong>de</strong> profun<strong>do</strong> intervencionismo ou dirigismo<br />

contratu<strong>al</strong>. Antes <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das consequências concr<strong>et</strong>as da nulida<strong>de</strong>, vejamos, pontu<strong>al</strong>mente, as cláusulas que são <strong>de</strong>scritas como<br />

nulas pelo preceito leg<strong>al</strong>.<br />

5.7.1.<br />

Cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r por vícios<br />

<strong>de</strong> qu<strong>al</strong>quer natureza <strong>do</strong>s produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição <strong>de</strong> direitos<br />

(art. 51, inc. I, <strong>do</strong> CDC)<br />

A norma rep<strong>et</strong>e a vedação da cláusula <strong>de</strong> não in<strong>de</strong>nizar ou cláusula <strong>de</strong> irresponsabilida<strong>de</strong> para os contratos <strong>de</strong> consumo, já<br />

tratada pelo art. 25 da Lei 8.078/1990, consi<strong>de</strong>rada nula <strong>de</strong> pleno direito. Além da cláusula <strong>de</strong> exclusão tot<strong>al</strong> da responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

fornece<strong>do</strong>r ou presta<strong>do</strong>r, não tem v<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> a cláusula que atenua o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> reparar <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res ou presta<strong>do</strong>res em d<strong>et</strong>rimento<br />

<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Na verda<strong>de</strong>, conforme exposto no capítulo anterior <strong>de</strong>sta obra, t<strong>al</strong> atenuação somente é admitida nos casos <strong>de</strong> fato<br />

ou culpa concorrente <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, o que <strong>de</strong>corre das circunstâncias fáticas e não <strong>do</strong> que foi pactua<strong>do</strong>. A título <strong>de</strong> exemplo, se um<br />

frequenta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mias assina um termo <strong>de</strong> autorresponsabilida<strong>de</strong>, não se po<strong>de</strong> afastar tot<strong>al</strong> ou parci<strong>al</strong>mente a responsabilida<strong>de</strong><br />

da presta<strong>do</strong>ra por força <strong>do</strong> contrato, o que somente é possível pelo fato ou risco assumi<strong>do</strong> pelo próprio consumi<strong>do</strong>r.<br />

Como ilustração concr<strong>et</strong>a <strong>de</strong> f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> vinculação da cláusula <strong>de</strong> não in<strong>de</strong>nizar na re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s contatos <strong>de</strong> consumo, cite-se a<br />

conhecida placa encontrada em estacionamentos, com dizeres próximos a “O estacionamento não se responsabiliza por obj<strong>et</strong>os<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s no interior <strong>do</strong> veículo”. Ora, o estacionamento <strong>de</strong>ve, sim, respon<strong>de</strong>r pela segurança no seu interior, o que é inerente à<br />

própria contratação, pois esse é o fator busca<strong>do</strong> pelos consumi<strong>do</strong>res (causa contratu<strong>al</strong>). Nesse senti<strong>do</strong>, repise-se o teor da Súmula<br />

130 <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong> “a empresa respon<strong>de</strong>, perante o cliente, pela reparação <strong>de</strong> dano ou furto <strong>de</strong><br />

veículo ocorri<strong>do</strong>s em seu estacionamento”. Apesar <strong>de</strong>ssa responsabilização pelo furto, não se po<strong>de</strong> esquecer que as empresas <strong>de</strong><br />

estacionamentos – excluí<strong>do</strong>s os relativos aos bancos – não respon<strong>de</strong>m pelo ass<strong>al</strong>to à mão armada, pois t<strong>al</strong> fato escapa <strong>do</strong> risco <strong>do</strong><br />

empreendimento ou risco <strong>do</strong> negócio oferta<strong>do</strong> (ver, por to<strong>do</strong>s: STJ – REsp 1.232.795/SP – Rel. Min. Nancy Andrighi – j.<br />

02.04.2013, publica<strong>do</strong> no seu Informativo n. 521).<br />

Destaque-se, ato contínuo <strong>de</strong> ilustração, a Súmula 302 <strong>do</strong> STJ, que d<strong>et</strong>ermina a nulida<strong>de</strong> por abusivida<strong>de</strong> da cláusula contratu<strong>al</strong><br />

<strong>de</strong> plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que limita no tempo a internação hospit<strong>al</strong>ar <strong>do</strong> segura<strong>do</strong>. A cláusula é claramente antissoci<strong>al</strong>, por mais uma vez<br />

violar a própria concepção <strong>do</strong> negócio jurídico celebra<strong>do</strong>. Cite-se, ainda, o teor da Súmula 112 <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong> é nula, por ser abusiva, a cláusula que exclui <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> componente que integre, necessariamente,<br />

cirurgia ou procedimento coberto por plano ou seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tais como stent e marca-passo.<br />

Como uma última concreção <strong>do</strong> art. 51, I, <strong>do</strong> CDC, o Tribun<strong>al</strong> Paulista consi<strong>de</strong>rou nula a cláusula contratu<strong>al</strong> que afasta a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empresa <strong>de</strong> loteamento pelo atraso na entrega da obra (TJSP – Apelação 994.09.288608-0 – Acórdão 4713819,<br />

São Paulo – Quarta Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani – j. 09.09.2010 – DJESP 06.10.2010). Mais uma<br />

vez, na esteira das hipóteses acima, nota-se o afastamento <strong>de</strong> cláusula contratu<strong>al</strong>, por entrar em conflito com a própria causa <strong>do</strong><br />

negócio jurídico celebra<strong>do</strong>.<br />

5.7.2.<br />

Cláusulas que subtraiam ao consumi<strong>do</strong>r a opção <strong>de</strong> reembolso da quantia já paga (art. 51, inc. II,<br />

<strong>do</strong> CDC)<br />

O fundamente da previsão é a antiga máxima <strong>de</strong> vedação <strong>do</strong> enriquecimento sem causa, r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> atu<strong>al</strong> Código Civil (arts.<br />

884 a 886). Especificamente, o art. 53 <strong>do</strong> mesmo CDC estabelece a nulida<strong>de</strong>, nos contratos <strong>de</strong> financiamento em ger<strong>al</strong>, da cláusula<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento ou perdimento, que encerra a perda <strong>de</strong> todas as parcelas pagas, mesmo nas hipóteses <strong>de</strong> inadimplemento. O tema<br />

será aprofunda<strong>do</strong> ainda no presente capítulo.<br />

A propósito <strong>de</strong> uma interessante incidência da previsão <strong>do</strong> art. 51 <strong>do</strong> CDC, concluiu o Tribun<strong>al</strong> Paulista pelo direito <strong>de</strong><br />

reembolso relativo a medicamento para tratamento hepático, o que estaria <strong>de</strong>ntro da cobertura <strong>do</strong> plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, reconhecen<strong>do</strong>-se a<br />

nulida<strong>de</strong> absoluta da cláusula em contrário (TJSP – Apelação 0477776-65.2010.8.26.0000 – Acórdão 4964682, São Paulo – Quinta<br />

Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Silvério Ribeiro – j. 09.02.2011 – DJESP 14.03.2011).<br />

Ainda no que diz respeito ao reembolso <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas, <strong>de</strong>staque-se importante <strong>de</strong>cisum <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> da Cidadania, que concluiu<br />

que “o plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve reembolsar o segura<strong>do</strong> pelas <strong>de</strong>spesas que pagou com tratamento médico re<strong>al</strong>iza<strong>do</strong> em situação <strong>de</strong><br />

urgência ou emergência por hospit<strong>al</strong> não cre<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>, ainda que o referi<strong>do</strong> hospit<strong>al</strong> integre expressamente tabela contratu<strong>al</strong> que<br />

exclui da cobertura os hospitais <strong>de</strong> <strong>al</strong>to custo, limitan<strong>do</strong>-se o reembolso, no mínimo, ao v<strong>al</strong>or da tabela <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> preços <strong>de</strong><br />

serviços médicos e hospit<strong>al</strong>ares pratica<strong>do</strong>s pelo plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”. Ainda nos termos <strong>do</strong> julgamento, “o contrato <strong>de</strong> plano <strong>de</strong><br />

assistência à saú<strong>de</strong>, por <strong>de</strong>finição, tem por obj<strong>et</strong>o propiciar, mediante o pagamento <strong>de</strong> um preço (consistente em prestações<br />

antecipadas e periódicas), a cobertura <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> tratamento médico e atendimentos médico, hospit<strong>al</strong>ar e laboratori<strong>al</strong> perante<br />

profissionais e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> hospitais e laboratórios próprios ou cre<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s. Desse mo<strong>do</strong>, a estipulação contratu<strong>al</strong> que vincula a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!