3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)
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<strong>de</strong> segurança eficazes para pagamento e para tratamento <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />
Diante da boa-fé obj<strong>et</strong>iva, o fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve informar, <strong>de</strong> forma clara e ostensiva, os meios a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s e eficazes para o<br />
exercício <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> arrependimento pelo consumi<strong>do</strong>r, o que po<strong>de</strong> ser ef<strong>et</strong>iva<strong>do</strong> pela mesma ferramenta utilizada para a<br />
contratação, sem prejuízo <strong>de</strong> outros meios disponibiliza<strong>do</strong>s. O exercício <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> arrependimento implica a rescisão <strong>do</strong>s<br />
contratos acessórios, sem qu<strong>al</strong>quer ônus para o consumi<strong>do</strong>r, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser comunica<strong>do</strong> imediatamente pelo fornece<strong>do</strong>r à instituição<br />
financeira ou à administra<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> cartão <strong>de</strong> crédito ou similar, para que o negócio seja <strong>de</strong>sfeito e os v<strong>al</strong>ores sejam <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong>s (art.<br />
5º <strong>do</strong> Decr<strong>et</strong>o 7.962/2013).<br />
As contratações no comércio el<strong>et</strong>rônico <strong>de</strong>verão observar o cumprimento das condições da oferta, com a entrega <strong>do</strong>s produtos<br />
e serviços contrata<strong>do</strong>s, observa<strong>do</strong>s prazos, quantida<strong>de</strong>, qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> e a<strong>de</strong>quação (art. 6º). O <strong>de</strong>srespeito a qu<strong>al</strong>quer uma <strong>de</strong>ssas regras<br />
enseja o fornece<strong>do</strong>r a pen<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>s administrativas tratadas pelo Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r (art. 7º).<br />
Por <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, sem prejuízo <strong>de</strong> todas essas normas, a ilustrar a já subsunção da Lei Consumerista a serviços <strong>de</strong>ssa natureza,<br />
em <strong>de</strong>bate sobre a existência ou não <strong>de</strong> remuneração dir<strong>et</strong>a, da jurisprudência superior: “<strong>Direito</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r e responsabilida<strong>de</strong><br />
civil. Recurso especi<strong>al</strong>. In<strong>de</strong>nização. Art. 159 <strong>do</strong> CC/1916 e arts. 6º, VI, e 14, da Lei 8.078/1990. Deficiência na fundamentação.<br />
Súmula 284/STF. Prove<strong>do</strong>r da intern<strong>et</strong>. Divulgação <strong>de</strong> matéria não autorizada. Responsabilida<strong>de</strong> da empresa presta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> serviço.<br />
Relação <strong>de</strong> consumo. Remuneração indir<strong>et</strong>a. Danos morais. Quantum razoável. V<strong>al</strong>or manti<strong>do</strong>. 1. Não ten<strong>do</strong> a recorrente<br />
explicita<strong>do</strong> <strong>de</strong> que forma o v. acórdão recorri<strong>do</strong> teria viola<strong>do</strong> d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong>s dispositivos legais (art. 159 <strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 1916 e<br />
arts. 6º, VI, e 14, ambos da Lei 8.078/1990), não se conhece <strong>do</strong> recurso especi<strong>al</strong>, neste aspecto, porquanto <strong>de</strong>ficiente a sua<br />
fundamentação. Incidência da Súmula 284/STF. 2. Inexiste violação ao art. 3º, § 2º, <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r,<br />
porquanto, para a caracterização da relação <strong>de</strong> consumo, o serviço po<strong>de</strong> ser presta<strong>do</strong> pelo fornece<strong>do</strong>r mediante remuneração obtida<br />
<strong>de</strong> forma indir<strong>et</strong>a. 3. Quanto ao dissídio jurispru<strong>de</strong>nci<strong>al</strong>, consi<strong>de</strong>radas as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> caso em questão, quais sejam,<br />
psicóloga, funcionária <strong>de</strong> empresa comerci<strong>al</strong> <strong>de</strong> porte, inserida, equivocadamente e sem sua autorização, em site <strong>de</strong> encontros na<br />
intern<strong>et</strong>, pertencente à empresa-recorrente, como ‘pessoa que se propõe a participar <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> caráter af<strong>et</strong>ivo e sexu<strong>al</strong>’,<br />
inclusive com indicação <strong>de</strong> seu nome compl<strong>et</strong>o e número <strong>de</strong> telefone <strong>do</strong> trab<strong>al</strong>ho, o v<strong>al</strong>or fixa<strong>do</strong> pelo Tribun<strong>al</strong> a quo a título <strong>de</strong><br />
danos morais mostra-se razoável, limitan<strong>do</strong>-se à compensação <strong>do</strong> sofrimento advin<strong>do</strong> <strong>do</strong> evento danoso. V<strong>al</strong>or in<strong>de</strong>nizatório<br />
manti<strong>do</strong> em 200 (duzentos) s<strong>al</strong>ários mínimos, passível <strong>de</strong> correção mon<strong>et</strong>ária a contar <strong>de</strong>sta data. 4. Recurso não conheci<strong>do</strong>” (STJ –<br />
REsp 566.468/RJ – Quarta Turma – Rel. Min. Jorge Scartezzini – j. 23.11.2004 – DJ 17.12.2004, p. 561).<br />
3.4.<br />
EXEMPLOS DE OUTRAS RELAÇÕES JURÍDICAS CONTEMPORÂNEAS E O SEU<br />
ENQUADRAMENTO COMO RELAÇÕES DE CONSUMO<br />
Superada a análise <strong>do</strong>s elementos da relação <strong>de</strong> consumo, com a ilustração <strong>de</strong> várias situações concr<strong>et</strong>as atuais, cumpre<br />
abordar outras relações jurídicas contemporâneas, a fim <strong>de</strong> esclarecer os limites concr<strong>et</strong>os <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> subsunção da Lei<br />
Consumerista. Vejamos, <strong>de</strong> forma d<strong>et</strong><strong>al</strong>hada e pontu<strong>al</strong>.<br />
3.4.1.<br />
O contrato <strong>de</strong> transporte e a incidência <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r<br />
O contrato <strong>de</strong> transporte é um <strong>do</strong>s negócios jurídicos com maior aplicação na re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, diante <strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> ser<br />
humano em se <strong>de</strong>slocar <strong>de</strong> um loc<strong>al</strong> para outro. A categoria é <strong>de</strong>finida pelo art. 730 <strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 2002, in verbis: “Pelo<br />
contrato <strong>de</strong> transporte <strong>al</strong>guém se obriga, mediante r<strong>et</strong>ribuição, a transportar, <strong>de</strong> um lugar para outro, pessoas ou coisas”. Desse<br />
mo<strong>do</strong>, duas são as mod<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>s básicas tratadas pela codificação privada: o transporte <strong>de</strong> pessoas e o transporte <strong>de</strong> coisas.<br />
Na gran<strong>de</strong> maioria das vezes, haverá relação <strong>de</strong> consumo no transporte <strong>de</strong> pessoas ou coisas. Cite-se, a propósito, o transporte<br />
col<strong>et</strong>ivo por meio <strong>de</strong> ônibus, seja municip<strong>al</strong>, intermunicip<strong>al</strong> ou interestadu<strong>al</strong> (veja-se <strong>de</strong>bate em: STJ – REsp 402.227/RJ – Quarta<br />
Turma – Rel. Min. Aldir Passarinho Junior – j. 07.12.2004 – DJ 11.04.2005, p. 305; e STJ – REsp 418.395/MA – Quarta Turma –<br />
Rel. Min. Barros Monteiro – j. 28.05.2002 – DJ 16.09.2002, p. 195). Do mesmo mo<strong>do</strong>, conforme visto no Capítulo 1 <strong>de</strong>sta obra, a<br />
jurisprudência superior tem entendi<strong>do</strong> que o transporte aéreo, seja nacion<strong>al</strong> ou internacion<strong>al</strong>, é abrangi<strong>do</strong> pela Lei 8.078/1990 (por<br />
to<strong>do</strong>s: STJ – AgRg no Ag 1.297.315/SP – Quarta Turma – Rel. Min. Aldir Passarinho Junior – j. 09.11.2010 – DJe 23.11.2010). E<br />
isso, inclusive nos casos <strong>de</strong> extravios <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>ria transportada (STJ – AgRg no Ag 1.035.077/SP – Terceira Turma – Rel. Min.<br />
Massami Uyeda – j. 22.06.2010 – DJe 01.07.2010).<br />
Seguin<strong>do</strong> nas ilustrações, enten<strong>de</strong> este autor pela incidência <strong>do</strong> CDC para o transporte feito pelo Uber e por outras empresas <strong>de</strong><br />
transporte compartilha<strong>do</strong>. Sen<strong>do</strong> assim, por t<strong>al</strong> subsunção haverá a responsabilida<strong>de</strong> solidária também da empresa que explora o<br />
aplicativo em casos <strong>de</strong> problemas no serviço <strong>de</strong> transporte. Nessa linha, vejamos conclusão <strong>de</strong> importante prece<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong><br />
Paulista, com expressa menção à Lei Consumerista: