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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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fican<strong>do</strong> seus bens sujeitos à execução28. O entendimento <strong>de</strong>ve ser manti<strong>do</strong> com o Novo CPC, pois a legitimida<strong>de</strong> passiva na<br />

execução continua a ser expressamente prevista, agora pelo art. 779.<br />

Para outra corrente <strong>do</strong>utrinária, o legisla<strong>do</strong>r in<strong>de</strong>vidamente separou o tema da legitimida<strong>de</strong> passiva da responsabilida<strong>de</strong><br />

patrimoni<strong>al</strong>, não se po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> admitir que o sujeito que potenci<strong>al</strong>mente per<strong>de</strong>rá seu bem em virtu<strong>de</strong> da expropriação judici<strong>al</strong> não<br />

seja consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> parte na <strong>de</strong>manda executiva 29 .<br />

Sen<strong>do</strong> o sujeito responsável por dívida que não é sua – responsabilida<strong>de</strong> patrimoni<strong>al</strong> secundária –, é natur<strong>al</strong> que seja<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> parte na <strong>de</strong>manda executiva, visto que será o maior interessa<strong>do</strong> em apresentar <strong>de</strong>fesa para evitar a expropriação <strong>de</strong> seu<br />

bem. O <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, que também <strong>de</strong>verá estar na <strong>de</strong>manda como litisconsorte passivo, po<strong>de</strong>rá não ter tanto interesse assim na<br />

apresentação da <strong>de</strong>fesa, imaginan<strong>do</strong> que, em razão da proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> bem penhora<strong>do</strong>, naquele momento o maior prejudica<strong>do</strong> será<br />

o responsável secundário, e não ele. Trata-se <strong>de</strong> legitimação extraordinária, porque o responsável secundário estará em juízo em<br />

nome próprio e na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> outrem, o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r.<br />

Para os responsáveis patrimoniais que não têm sua legitimida<strong>de</strong> passiva expressamente prevista em lei, como no caso <strong>do</strong>s<br />

sócios diante da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> jurídica, a legitimação extraordinária apresenta uma particularida<strong>de</strong><br />

interessante, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se que para esses sujeitos ela só surgirá no caso concr<strong>et</strong>o quan<strong>do</strong> ocorrer a ef<strong>et</strong>iva constrição judici<strong>al</strong> <strong>do</strong><br />

bem <strong>do</strong> responsável secundário. Não teria qu<strong>al</strong>quer senti<strong>do</strong> a citação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os sócios da pessoa jurídica, se na execução não<br />

houver qu<strong>al</strong>quer tipo <strong>de</strong> constrição judici<strong>al</strong>, <strong>de</strong>sejada pelo exequente ou ef<strong>et</strong>ivamente ocorrida, <strong>de</strong> bens <strong>de</strong>sses sócios. Há, portanto,<br />

uma condição para que a legitimida<strong>de</strong> extraordinária nesse caso exista: o patrimônio <strong>do</strong> responsável secundário ef<strong>et</strong>ivamente<br />

responda no caso concr<strong>et</strong>o pela execução, o que passa a ocorrer com a penhora <strong>de</strong> seus bens em consequência da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração<br />

da person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> jurídica.<br />

A importância prática <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> processu<strong>al</strong> <strong>do</strong> sócio após a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> jurídica é a <strong>de</strong>fesa<br />

a<strong>de</strong>quada a apresentar na execução: sen<strong>do</strong> terceiro, a <strong>de</strong>fesa parece ser mais a<strong>de</strong>quadamente apresentada por meio <strong>de</strong> embargos <strong>de</strong><br />

terceiro; sen<strong>do</strong> parte, a <strong>de</strong>fesa será elaborada por meio <strong>de</strong> embargos à execução (ou mesmo impugnação, no caso <strong>de</strong> cumprimento<br />

<strong>de</strong> sentença).<br />

O Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça a<strong>do</strong>ta o segun<strong>do</strong> entendimento, ao apontar a citação <strong>do</strong> sócio30 e sua integração à relação<br />

jurídica processu<strong>al</strong> executiva, bem como a inadmissão <strong>do</strong>s embargos <strong>de</strong> terceiro, indican<strong>do</strong> os embargos à execução como via<br />

a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong>s sócios diante da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> jurídica 31 .<br />

Enten<strong>do</strong> que está corr<strong>et</strong>o o posicionamento <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, até porque consi<strong>de</strong>ro que to<strong>do</strong>s os responsáveis<br />

patrimoniais secundários, ao terem bem <strong>de</strong> seu patrimônio constrito em processo <strong>al</strong>heio, automaticamente passam a ter<br />

legitimida<strong>de</strong> passiva, e, uma vez sen<strong>do</strong> cita<strong>do</strong>s ou integran<strong>do</strong>-se voluntariamente ao processo, formarão um litisconsórcio passivo<br />

ulterior com o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r. E que, mesmo sem previsão leg<strong>al</strong> nesse senti<strong>do</strong>, nada mudará.<br />

Po<strong>de</strong>r-se-á afirmar que a <strong>de</strong>fesa a<strong>de</strong>quada são os embargos <strong>de</strong> terceiro, porque, não concordan<strong>do</strong> o sócio com a<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong>ve <strong>al</strong>egar que não tem responsabilida<strong>de</strong> patrimoni<strong>al</strong> secundária e, <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong>ve ser trata<strong>do</strong> como um mero<br />

terceiro no processo. O problema, entr<strong>et</strong>anto, é a distância entre a qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> re<strong>al</strong> que o sócio adquire no processo ao ser cita<strong>do</strong> e a<br />

qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> que ele gostaria <strong>de</strong> ter.<br />

Importante notar que o conceito <strong>de</strong> parte na <strong>de</strong>manda ou no processo não se confun<strong>de</strong> com o conceito <strong>de</strong> parte materi<strong>al</strong>, que é<br />

o sujeito que participa da relação <strong>de</strong> direito materi<strong>al</strong> que constitui o obj<strong>et</strong>o <strong>do</strong> processo. Dessa forma, mesmo que não seja o titular<br />

<strong>de</strong>ssa relação <strong>de</strong> direito materi<strong>al</strong>, mas participe <strong>do</strong> processo, o sujeito será consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> parte processu<strong>al</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />

leg<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua presença no processo. É por isso que, mesmo sen<strong>do</strong> parte ilegítima, o sujeito é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> parte processu<strong>al</strong> pelo<br />

simples fato <strong>de</strong> participar <strong>do</strong> processo. Significa que o sócio será parte, queren<strong>do</strong> ou não, ten<strong>do</strong> ou não legitimida<strong>de</strong> para participar<br />

da execução.<br />

Concluo afirman<strong>do</strong> que, nos embargos à execução, caberá ao sócio <strong>al</strong>egar, em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> preliminar <strong>de</strong> ilegitimida<strong>de</strong> passiva, a<br />

eventu<strong>al</strong> incorreção da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> jurídica, até porque, se não foi <strong>de</strong>vida, não existe responsabilida<strong>de</strong><br />

patrimoni<strong>al</strong> secundária e, por consequência, o sócio é parte ilegítima. O acolhimento <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>fesa, <strong>al</strong>ém <strong>de</strong> excluir o sócio da<br />

execução por ilegitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parte, ainda resultará na imediata liberação da constrição judici<strong>al</strong> sobre o seu bem. Além da<br />

<strong>al</strong>egação <strong>de</strong> ilegitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parte, o sócio po<strong>de</strong>rá <strong>al</strong>egar todas as outras <strong>de</strong>fesas típicas <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, firme no princípio da<br />

eventu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>.<br />

Registre-se que essa <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> ilegitimida<strong>de</strong> vinculada à ina<strong>de</strong>quação da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> jurídica é a única<br />

forma <strong>de</strong> preservar o princípio <strong>do</strong> contraditório, ainda que diferi<strong>do</strong>. Como nessa forma <strong>de</strong> contraditório a informação e a reação são<br />

posteriores à <strong>de</strong>cisão judici<strong>al</strong>, não será legítimo exigir da parte a interposição <strong>de</strong> agravo <strong>de</strong> instrumento contra a <strong>de</strong>cisão que<br />

d<strong>et</strong>ermina a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, sob pena <strong>de</strong> preclusão. Natur<strong>al</strong>mente, o sócio po<strong>de</strong>rá se v<strong>al</strong>er <strong>de</strong> t<strong>al</strong> recurso, conforme já exposto no<br />

item anterior, mas, se preferir, po<strong>de</strong>rá aguardar os embargos à execução para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Condicionar a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> sócio ao agravo

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