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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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empresa <strong>de</strong>ssa envergadura na área, o que, a toda evidência, constitui publicida<strong>de</strong> enganosa, nos termos <strong>do</strong> art. 37, caput e § 3º, <strong>do</strong><br />

CDC, ren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ensejo ao <strong>de</strong>sfazimento <strong>do</strong> negócio jurídico, à restituição <strong>do</strong>s v<strong>al</strong>ores pagos, bem como à percepção <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização<br />

por lucros cessantes e por dano mor<strong>al</strong>” (STJ – REsp 1.188.442/RJ – Rel. Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão – Quarta Turma – j.<br />

06.11.2012 – DJe 05.02.2013).<br />

Do mesmo Tribun<strong>al</strong> da Cidadania, em 2014, enten<strong>de</strong>u-se pela presença <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> enganosa na veiculação da “Tele Sena<br />

Dia das Mães”. A autora da <strong>de</strong>manda <strong>al</strong>egou que seria impossível matematicamente atingir os pontos necessários para o ganho <strong>do</strong><br />

título <strong>de</strong> capit<strong>al</strong>ização que havia adquiri<strong>do</strong>. Consta da ementa que “enganosa é a mensagem f<strong>al</strong>sa ou que tenha aptidão a induzir a<br />

erro o consumi<strong>do</strong>r, que não conseguiria distinguir natureza, características, quantida<strong>de</strong>, qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, preço, origem e da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

produto ou serviço contrata<strong>do</strong>. No caso concr<strong>et</strong>o, extrai-se <strong>do</strong>s autos que da<strong>do</strong>s essenciais <strong>do</strong> produto ou serviço adquiri<strong>do</strong> foram<br />

omiti<strong>do</strong>s, geran<strong>do</strong> confusão para qu<strong>al</strong>quer consumi<strong>do</strong>r médio, facilmente induzi<strong>do</strong> a erro” (STJ – REsp 1.344.967/SP – Terceira<br />

Turma – Rel. Min. Ricar<strong>do</strong> Villas Bôas Cueva – j. 26.08.2014 – DJe 15.09.2014).<br />

Seguin<strong>do</strong> nas elucidações práticas, em muitas situações a jurisprudência confirma que o simples fato <strong>do</strong> engano pela<br />

publicida<strong>de</strong>, por si só, não gera dano mor<strong>al</strong>, que <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>correr das circunstâncias fáticas e das máximas <strong>de</strong> experiência. Por to<strong>do</strong>s:<br />

“Processu<strong>al</strong> civil. Embargos <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração recebi<strong>do</strong>s como agravo regiment<strong>al</strong>. Propaganda promocion<strong>al</strong>. A<strong>de</strong>são <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.<br />

Serviço não presta<strong>do</strong>. Frustração. Dano mor<strong>al</strong> caracteriza<strong>do</strong>. Reexame <strong>do</strong> conjunto fático-probatório. Súmula 7 <strong>do</strong> STJ. Violação<br />

aos arts. 458 e 535 <strong>do</strong> CPC. Inexistência. Quantum in<strong>de</strong>nizatório. Razoável. Agravo improvi<strong>do</strong>. I. Não proce<strong>de</strong> a <strong>al</strong>egação <strong>de</strong><br />

ausência <strong>de</strong> fundamentação no acórdão recorri<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> está o mesmo compl<strong>et</strong>o, motiva<strong>do</strong> e com os requisitos necessários à<br />

formação <strong>de</strong> uma sentença. II. O STJ recebe o quadro probatório t<strong>al</strong> como <strong>de</strong>linea<strong>do</strong> pelo Tribun<strong>al</strong> estadu<strong>al</strong> e o reexame <strong>de</strong> provas<br />

encontra o óbice da Súmula 7 <strong>de</strong>sta Corte. III. Agravo regiment<strong>al</strong> improvi<strong>do</strong>” (STJ – AgRg no Ag 796.675/RS – Quarta Turma –<br />

Rel. Min. Aldir Passarinho Junior – j. 13.11.2007 – DJ 17.12.2007, p. 185).<br />

Do Tribun<strong>al</strong> Paulista, é interessante o acórdão que aplicou o conceito <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> enganosa em face <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong><br />

ensino superior, diante <strong>do</strong> engano causa<strong>do</strong> pelo não reconhecimento <strong>do</strong> curso, o que fez gerar danos morais pela frustração causada<br />

nos <strong>al</strong>unos:<br />

“Responsabilida<strong>de</strong> civil. Conduta imprópria <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Cooptação <strong>de</strong> <strong>al</strong>unos, expon<strong>do</strong>-lhes à formatura, sem a<br />

necessária regularização <strong>do</strong> curso. Publicida<strong>de</strong> enganosa, capaz <strong>de</strong> induzir em erro o consumi<strong>do</strong>r. Dano mor<strong>al</strong>. Dever reparatório.<br />

Inteligência <strong>do</strong> art. 5º, V e X, da Constituição Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>; art. 186, <strong>do</strong> Código Civil; arts. 6º, III e IV, 14, caput e § 1º, 31 e 37, § 1º, da<br />

Lei 8.078/1990. Apelo da autora. Provimento. Recurso da ré, a que se nega provimento” (TJSP – Apelação 9081234-<br />

70.2008.8.26.0000 – Acórdão 5069055, Votuporanga – Trigésima Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Carlos Russo – j.<br />

13.04.2011 – DJESP 28.04.2011).<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, enten<strong>de</strong>-se que há publicida<strong>de</strong> enganosa no caso <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> condições bem vantajosas para a compra <strong>de</strong><br />

veículo que entra em conflito com o teor <strong>do</strong> contrato, aplican<strong>do</strong>-se, em casos tais, os já estuda<strong>do</strong>s arts. 30 e 35 <strong>do</strong> CDC. Nesse<br />

contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução, “A publicida<strong>de</strong> exerce hodiernamente papel fundament<strong>al</strong> nas relações <strong>de</strong> consumo, influencian<strong>do</strong><br />

sobremaneira o comportamento <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, quan<strong>do</strong> não o d<strong>et</strong>erminan<strong>do</strong>, <strong>de</strong> maneira que sua disciplina <strong>de</strong>ve ter equiv<strong>al</strong>ência<br />

contratu<strong>al</strong>, com direcionamento pauta<strong>do</strong> na ética, boa-fé e dirigismo contratuais. Nesse contexto é que o legisla<strong>do</strong>r estatuiu como<br />

direito básico <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r a proteção contra a publicida<strong>de</strong> enganosa e abusiva, méto<strong>do</strong>s comerciais coercitivos ou <strong>de</strong>sleais, bem<br />

como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento <strong>de</strong> produtos e serviços (art. 6º, IV, CDC). É enganosa a<br />

publicida<strong>de</strong> se as condições <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> veículo ofertadas em campanha publicitária feita através <strong>de</strong> impressos/encartes<br />

não são mantidas por ocasião <strong>do</strong> fechamento <strong>do</strong> negócio” (TJMG – Apelação Cível 0437539-56.2009.8.13.0106, Cambuí –<br />

Décima Sexta Câmara Cível – Rel. Des. Sebastião Pereira <strong>de</strong> Souza – j. 06.10.2010 – DJEMG 29.11.2010).<br />

Seguin<strong>do</strong> o mesmo caminho, <strong>de</strong>duziu o Tribun<strong>al</strong> Fluminense que as <strong>de</strong>clarações constantes em folh<strong>et</strong>os publicitários, não<br />

cumpridas, po<strong>de</strong>m fazer caracterizar a publicida<strong>de</strong> como enganosa, notadamente se gerar no consumi<strong>do</strong>r justas expectativas que<br />

são frustradas posteriormente. Vejamos:<br />

“Na presente hipótese, a autora reclama <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> enganosa, na medida em que recebeu folh<strong>et</strong>o <strong>de</strong> propaganda, prom<strong>et</strong>en<strong>do</strong><br />

que, no dia <strong>do</strong> aniversário da autora, sua <strong>de</strong>spesa não seria cobrada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que levasse um acompanhante pagante. Todavia, no<br />

referi<strong>do</strong> dia, o estabelecimento réu ignorou o panfl<strong>et</strong>o promocion<strong>al</strong>, cobran<strong>do</strong> também a <strong>de</strong>spesa da autora. A sentença rechaçou a<br />

pr<strong>et</strong>ensão autor<strong>al</strong> ao argumento <strong>de</strong> que, por se tratar <strong>de</strong> uma Feira, já havia uma promoção que vigorava para to<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> 50% <strong>do</strong> v<strong>al</strong>or<br />

<strong>do</strong> rodízio <strong>de</strong> carnes, e assim, não po<strong>de</strong>ria haver cumulação <strong>de</strong> promoções, o que teria si<strong>do</strong> veicula<strong>do</strong> em anúncios <strong>de</strong> jorn<strong>al</strong>. Ocorre<br />

que, a meu ver, não era a autora obrigada a saber da existência <strong>de</strong> t<strong>al</strong> anúncio promocion<strong>al</strong> para to<strong>do</strong>s. No panfl<strong>et</strong>o dirigi<strong>do</strong><br />

exclusivamente a ela, autora, nenhuma ress<strong>al</strong>va havia. A seu turno, a ré não po<strong>de</strong> escudar-se em uma isenção promocion<strong>al</strong> parci<strong>al</strong><br />

dirigida a to<strong>do</strong>s os clientes, para negar uma isenção tot<strong>al</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa, prom<strong>et</strong>ida especificamente a ela, autora. O ato ilícito da ré,<br />

consubstancia<strong>do</strong> na publicida<strong>de</strong> enganosa, parece-me evi<strong>de</strong>nte, a merecer con<strong>de</strong>nação pelo Judiciário. O transtorno daí <strong>de</strong>corrente é

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