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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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43, § 3º, combina<strong>do</strong> com o art. 73, ambos <strong>do</strong> CDC. No caso, o consumi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> ‘exigir’ a ‘imediata correção’ <strong>de</strong> informações<br />

inexatas – não caben<strong>do</strong> a ele, portanto, proce<strong>de</strong>r a t<strong>al</strong> correção (art. 43, § 3º) –, constituin<strong>do</strong> crime ‘<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> corrigir<br />

imediatamente informação sobre consumi<strong>do</strong>r constante <strong>de</strong> cadastro, banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, fichas ou registros que sabe ou <strong>de</strong>veria saber<br />

ser inexata’ (art. 73). Quanto ao prazo, como não existe regramento leg<strong>al</strong> específico e como os prazos abrangen<strong>do</strong> situações<br />

específicas não estão <strong>de</strong>vidamente amadureci<strong>do</strong>s na jurisprudência <strong>do</strong> STJ, faz-se necessário o estabelecimento <strong>de</strong> um norte<br />

obj<strong>et</strong>ivo, o qu<strong>al</strong> se extrai <strong>do</strong> art. 43, § 3º, <strong>do</strong> CDC, segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> o ‘consumi<strong>do</strong>r, sempre que encontrar inexatidão nos seus da<strong>do</strong>s<br />

e cadastros, po<strong>de</strong>rá exigir sua imediata correção, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o arquivista, no prazo <strong>de</strong> cinco dias úteis, comunicar a <strong>al</strong>teração aos<br />

eventuais <strong>de</strong>stinatários das informações incorr<strong>et</strong>as’. Ora, para os órgãos <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> proteção ao crédito, que exercem a ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> arquivamento <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s profission<strong>al</strong>mente, o CDC consi<strong>de</strong>ra razoável o prazo <strong>de</strong> cinco dias úteis para, após a investigação <strong>do</strong>s<br />

fatos referentes à impugnação apresentada pelo consumi<strong>do</strong>r, comunicar a r<strong>et</strong>ificação a terceiros que <strong>de</strong>les recebeu informações<br />

incorr<strong>et</strong>as. Assim, evi<strong>de</strong>ntemente, esse mesmo prazo também será consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> razoável para que seja requerida a exclusão <strong>do</strong><br />

nome <strong>do</strong> outrora inadimplente <strong>do</strong> cadastro <strong>de</strong>sabona<strong>do</strong>r por aquele que promove, em exercício regular <strong>de</strong> direito, a verídica<br />

inclusão <strong>de</strong> da<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r em cadastro <strong>de</strong> órgão <strong>de</strong> proteção ao crédito” (REsp 1.424.792/BA – Rel. Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão –<br />

j. 10.09.2014).<br />

Em outubro <strong>de</strong> 2015, essa maneira <strong>de</strong> julgar consoli<strong>do</strong>u-se <strong>de</strong> t<strong>al</strong> forma que se transformou na Súmula n. 548 <strong>do</strong> Superior<br />

Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong> “Incumbe ao cre<strong>do</strong>r a exclusão <strong>do</strong> registro da dívida em nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r no cadastro <strong>de</strong><br />

inadimplentes no prazo <strong>de</strong> cinco dias úteis, a partir <strong>do</strong> integr<strong>al</strong> e ef<strong>et</strong>ivo pagamento <strong>do</strong> débito”.<br />

Cabe aqui trazer <strong>al</strong>gumas p<strong>al</strong>avras a respeito da r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cadastro <strong>de</strong> inadimplentes em casos <strong>de</strong> ação<br />

proposta pelo consumi<strong>do</strong>r-<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, para revisão ou discussão da dívida. Na linha das p<strong>al</strong>avras <strong>de</strong> Rizzatto Nunes, acima<br />

transcritas, a jurisprudência superior entendia que a mera contestação <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r-<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, por meio da propositura <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>manda, já era motivo para a medida <strong>de</strong> r<strong>et</strong>ificação temporária.<br />

Por todas as ementas anteriores, veja-se: “Processo civil. Recurso especi<strong>al</strong>. Agravo regiment<strong>al</strong>. Contrato bancário. R<strong>et</strong>irada <strong>do</strong><br />

nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s cadastros <strong>de</strong> restrição ao crédito. Obrigação <strong>de</strong> fazer. Descumprimento. Cominação <strong>de</strong> multa. Possibilida<strong>de</strong>.<br />

V<strong>al</strong>or da multa. Matéria fática. Súmula 7/STJ. Desprovimento. 1. A jurisprudência <strong>do</strong> STJ enten<strong>de</strong> que a fixação <strong>de</strong> multa para o<br />

caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão judici<strong>al</strong>, expressa no <strong>de</strong>ver da instituição financeira <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> cadastros <strong>de</strong> proteção ao crédito, encontra previsão no art. 461, §§ 3° e 4°, <strong>do</strong> CPC, haja vista a <strong>de</strong>cisão se fundar em uma<br />

obrigação <strong>de</strong> fazer. Prece<strong>de</strong>ntes. 2. A discussão sobre o v<strong>al</strong>or da multa implica reexame <strong>de</strong> matéria fático-probatória, hipótese que<br />

atrai a aplicação da Súmula 7/STJ. Prece<strong>de</strong>ntes. 3. Agravo regiment<strong>al</strong> <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>” (STJ – AgRg no REsp 681.080/RS – Quarta<br />

Turma – Rel. Min. Jorge Scartezzini – j. 05.10.2006 – DJ 20.11.2006, p. 314).<br />

Entr<strong>et</strong>anto, houve uma lamentável reviravolta na jurisprudência superior. Em notório julgamento <strong>de</strong> inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> recursos<br />

rep<strong>et</strong>itivos, relativo à revisão <strong>de</strong> contratos bancários, consoli<strong>do</strong>u-se o entendimento no STJ no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, para a r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong><br />

nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> cadastro, é necessário o <strong>de</strong>pósito da parte incontroversa da obrigação, ou prestação <strong>de</strong> caução. Além disso, o<br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r necessita comprovar a verossimilhança <strong>de</strong> suas <strong>al</strong>egações com base na jurisprudência superior, a fim <strong>de</strong> obter a <strong>de</strong>cisão<br />

temporária <strong>de</strong> r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> cadastro, por meio <strong>de</strong> tutela antecipada, ou liminar em cautelar. Transcreve-se a longa ementa na íntegra,<br />

para as <strong>de</strong>vidas reflexões:<br />

“<strong>Direito</strong> processu<strong>al</strong> civil e bancário. Recurso especi<strong>al</strong>. Ação revision<strong>al</strong> <strong>de</strong> cláusulas <strong>de</strong> contrato bancário. Inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> processo<br />

rep<strong>et</strong>itivo. Juros remuneratórios. Configuração da mora. Juros moratórios. Inscrição/manutenção em cadastro <strong>de</strong> inadimplentes.<br />

Disposições <strong>de</strong> ofício. Delimitação <strong>do</strong> julgamento. Constatada a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos com fundamento em idêntica questão <strong>de</strong><br />

direito, foi instaura<strong>do</strong> o inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> processo rep<strong>et</strong>itivo referente aos contratos bancários subordina<strong>do</strong>s ao Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r, nos termos da ADI 2.591-1. Exc<strong>et</strong>o: cédulas <strong>de</strong> crédito rur<strong>al</strong>, industri<strong>al</strong>, bancária e comerci<strong>al</strong>; contratos celebra<strong>do</strong>s por<br />

cooperativas <strong>de</strong> crédito; contratos regi<strong>do</strong>s pelo Sistema Financeiro <strong>de</strong> Habitação, bem como os <strong>de</strong> crédito consigna<strong>do</strong>. Para os<br />

efeitos <strong>do</strong> § 7º <strong>do</strong> art. 543-C <strong>do</strong> CPC, a questão <strong>de</strong> direito idêntica, <strong>al</strong>ém <strong>de</strong> estar selecionada na <strong>de</strong>cisão que instaurou o inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

processo rep<strong>et</strong>itivo, <strong>de</strong>ve ter si<strong>do</strong> expressamente <strong>de</strong>batida no acórdão recorri<strong>do</strong> e nas razões <strong>do</strong> recurso especi<strong>al</strong>, preenchen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os requisitos <strong>de</strong> admissibilida<strong>de</strong>. Neste julgamento, os requisitos específicos <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte foram verifica<strong>do</strong>s quanto às seguintes<br />

questões: i) juros remuneratórios; ii) configuração da mora; iii) juros moratórios; iv) inscrição/manutenção em cadastro <strong>de</strong><br />

inadimplentes; e v) disposições <strong>de</strong> ofício. Preliminar: O Parecer <strong>do</strong> MPF opinou pela suspensão <strong>do</strong> recurso até o julgamento<br />

<strong>de</strong>finitivo da ADI 2.316/DF. Preliminar rejeitada ante a presunção <strong>de</strong> constitucion<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> art. 5º da MP 1.963-17/00, reeditada<br />

sob o nº 2.170-36/01. I. Julgamento das questões idênticas que caracterizam a multiplicida<strong>de</strong>. Orientação 1: Juros remuneratórios. a)<br />

As instituições financeiras não se sujeitam à limitação <strong>do</strong>s juros remuneratórios estipulada na Lei <strong>de</strong> Usura (Decr<strong>et</strong>o 22.626/1933),<br />

Súmula 596/STF; b) A estipulação <strong>de</strong> juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusivida<strong>de</strong>; c) São<br />

inaplicáveis aos juros remuneratórios <strong>do</strong>s contratos <strong>de</strong> mútuo bancário as disposições <strong>do</strong> art. 591 c/c o art. 406 <strong>do</strong> CC/2002; d) É<br />

admitida a revisão das taxas <strong>de</strong> juros remuneratórios em situações excepcionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que caracterizada a relação <strong>de</strong> consumo e que<br />

a abusivida<strong>de</strong> (capaz <strong>de</strong> colocar o consumi<strong>do</strong>r em <strong>de</strong>svantagem exagerada – art. 51, § 1º, <strong>do</strong> CDC) fique cab<strong>al</strong>mente <strong>de</strong>monstrada,<br />

ante as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> julgamento em concr<strong>et</strong>o. Orientação 2: Configuração da mora. a) O reconhecimento da abusivida<strong>de</strong> nos

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