05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E SUA<br />

POSIÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO<br />

BRASILEIRO<br />

Sumário: 1.1. Primeiras p<strong>al</strong>avras sobre o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. O CDC e a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> jurídica –<br />

1.2. O Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r como norma principiológica. Sua posição hierárquica – 1.3. O Código <strong>de</strong><br />

Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r e a teoria <strong>do</strong> diálogo das fontes – 1.4. O conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r e a<br />

organização da presente obra.<br />

1.1.<br />

PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. O<br />

CDC E A PÓS-MODERNIDADE JURÍDICA<br />

O Código Brasileiro <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, conheci<strong>do</strong> e <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> pelas iniciais CDC, foi instituí<strong>do</strong> pela Lei<br />

8.078/1990, constituin<strong>do</strong> uma típica norma <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> vulneráveis. Por d<strong>et</strong>erminação da or<strong>de</strong>m constante <strong>do</strong> art. 48 das<br />

Disposições Finais e Transitórias da Constituição Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> <strong>de</strong> 1988, <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> um Código <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r no prazo <strong>de</strong> cento<br />

e vinte dias, formou-se uma comissão para a elaboração <strong>de</strong> um anteproj<strong>et</strong>o <strong>de</strong> lei, composta por Ada Pellegrini Grinover<br />

(coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra), Daniel Roberto Fink, José Ger<strong>al</strong><strong>do</strong> Brito Filomeno, Kazuo Watanabe e Zelmo Denari. Também houve uma intensa<br />

colaboração <strong>de</strong> Antonio Herman <strong>de</strong> Vasconcellos e Benjamin, Eliana Cáceres, Marcelo Gomes Sodré, Mariângela Sarrubo, Nelson<br />

Nery Jr. e Régis Rodrigues Bonvicino.1<br />

Como norma vigente, o nosso Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r situa-se na especi<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, segunda parte da isonomia<br />

constitucion<strong>al</strong>, r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> art. 5º, caput, da CF/1988. A<strong>de</strong>mais, o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> Código Consumerista <strong>de</strong>monstra tratar-se <strong>de</strong> uma<br />

norma adaptada à re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> contemporânea da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> jurídica. A expressão pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é utilizada para simbolizar<br />

o rompimento <strong>do</strong>s paradigmas construí<strong>do</strong>s ao longo da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, quebra ocorrida ao fin<strong>al</strong> <strong>do</strong> século XX. Mais precisamente,<br />

parece corr<strong>et</strong>o dizer que o ano <strong>de</strong> 1968 é um bom parâm<strong>et</strong>ro para se apontar o início <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong>, diante <strong>de</strong> protestos e<br />

movimentos em prol da liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> outros v<strong>al</strong>ores sociais que eclodiram em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. 2 Em tais reivindicações po<strong>de</strong> ser<br />

encontrada a origem <strong>de</strong> leis contemporâneas com preocupação soci<strong>al</strong>, caso <strong>do</strong> Código Brasileiro <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

De acor<strong>do</strong> com os ensinamentos <strong>de</strong> Eduar<strong>do</strong> Bianca Bittar, a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> significa “o esta<strong>do</strong> reflexivo da socieda<strong>de</strong> ante<br />

as suas próprias mazelas, capaz <strong>de</strong> gerar um revisionismo compl<strong>et</strong>o <strong>de</strong> seu modus actuandi <strong>et</strong> faciendi, especi<strong>al</strong>mente consi<strong>de</strong>rada a<br />

condição <strong>de</strong> superação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> organização da vida e da socieda<strong>de</strong>. Nem só <strong>de</strong> superação se enten<strong>de</strong> viver a pósmo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />

pois o revisionismo crítico importa em praticar a escavação <strong>do</strong>s erros <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> para a preparação <strong>de</strong> novas<br />

condições <strong>de</strong> vida. A pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é menos um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> coisas, exatamente porque ela é uma condição processante <strong>de</strong> um<br />

amadurecimento soci<strong>al</strong>, político, econômico e cultur<strong>al</strong>, que haverá <strong>de</strong> <strong>al</strong>argar-se por muitas décadas até a sua consolidação. Ela não<br />

encerra a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, pois, em verda<strong>de</strong>, inaugura sua mescla com os restos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>”. 3 Nota-se que a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

representa uma superação parci<strong>al</strong>, e não tot<strong>al</strong>, da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, até porque a p<strong>al</strong>avra “mo<strong>de</strong>rno” faz parte da construção<br />

morfológica <strong>do</strong> termo. Em verda<strong>de</strong>, é preciso rever conceitos, e não romper com eles tot<strong>al</strong>mente. As antigas categorias são<br />

remo<strong>de</strong>ladas, refeitas, manten<strong>do</strong>-se, muitas vezes, a sua base estrutur<strong>al</strong>. Isso, sem dúvida, vem ocorren<strong>do</strong> com o <strong>Direito</strong>, a partir <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!