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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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causar ao grupo.<br />

§ 3º Os contratos <strong>de</strong> que trata o caput <strong>de</strong>ste artigo serão expressos em moeda corrente nacion<strong>al</strong>”.<br />

Várias são as aplicações concr<strong>et</strong>as <strong>de</strong> afastamento da m<strong>al</strong>fadada cláusula <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento. Vejamos três ementas <strong>do</strong> Superior<br />

Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, a título <strong>de</strong> ilustração, para casos envolven<strong>do</strong> o compromisso <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> imóvel registra<strong>do</strong> na<br />

matrícula, configura<strong>do</strong> como negócio <strong>de</strong> consumo:<br />

“<strong>Direito</strong> civil e processu<strong>al</strong> civil. Embargos <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração. Ausência <strong>de</strong> omissão, contradição ou obscurida<strong>de</strong>. Ação <strong>de</strong> rescisão <strong>de</strong><br />

compromisso <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> imóvel com pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>volução das parcelas pagas. Legitimida<strong>de</strong> ativa ad causam.<br />

Possibilida<strong>de</strong>. Fundamento. Favor <strong>de</strong>bitoris. Cláusula <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento. Enriquecimento sem causa das promitentes-ven<strong>de</strong><strong>do</strong>ras.<br />

Limitação. Os embargos <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração são corr<strong>et</strong>amente rejeita<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> ausente omissão, contradição ou obscurida<strong>de</strong> a ser sanada.<br />

O direito à <strong>de</strong>volução das prestações pagas <strong>de</strong>corre da força integrativa <strong>do</strong> princípio ger<strong>al</strong> <strong>de</strong> direito priva<strong>do</strong> favor <strong>de</strong>bitoris<br />

(corolário, no <strong>Direito</strong> das Obrigações, <strong>do</strong> favor libertatis). O promissário-compra<strong>do</strong>r inadimplente que não usufrui <strong>do</strong> imóvel tem<br />

legitimida<strong>de</strong> ativa ad causam para postular nulida<strong>de</strong> da cláusula que estabelece o <strong>de</strong>caimento <strong>de</strong> m<strong>et</strong>a<strong>de</strong> das prestações pagas. A<br />

<strong>de</strong>volução das prestações pagas, mediante r<strong>et</strong>enção <strong>de</strong> 30% (trinta por cento) <strong>do</strong> v<strong>al</strong>or pago pela promissária-compra<strong>do</strong>ra, obj<strong>et</strong>iva<br />

evitar o enriquecimento sem causa <strong>do</strong> ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r, bem como o reembolso das <strong>de</strong>spesas <strong>do</strong> negócio e a in<strong>de</strong>nização pela rescisão<br />

contratu<strong>al</strong>. Recurso especi<strong>al</strong> a que se dá provimento” (STJ – REsp 345.725/SP – Terceira Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi – j.<br />

13.05.2003 – DJ 18.08.2003, p. 202).<br />

“Compromisso <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> imóvel. Perda das prestações pagas. Distrato pactua<strong>do</strong> na vigência <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r. Nulida<strong>de</strong> da cláusula. Recurso <strong>de</strong>sacolhi<strong>do</strong>. Nula é a cláusula que prevê a perda das prestações pagas, em distrato <strong>de</strong><br />

compromisso <strong>de</strong> compra-e-venda celebra<strong>do</strong> na vigência <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a parte inadimplente requerer<br />

a restituição <strong>do</strong> quantum pago, com correção mon<strong>et</strong>ária <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cada <strong>de</strong>sembolso, autorizada a r<strong>et</strong>enção <strong>de</strong> importância fixada pelas<br />

instâncias ordinárias em razão <strong>do</strong> <strong>de</strong>scumprimento <strong>do</strong> contrato” (STJ – REsp 241.636/SP – Quarta Turma – Rel. Min. Sálvio <strong>de</strong><br />

Figueire<strong>do</strong> Teixeira – j. 17.02.2000 – DJ 03.04.2000, p. 157).<br />

“Promessa <strong>de</strong> compra e venda. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Cláusula <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento. Prece<strong>de</strong>ntes da Corte. 1. O Código <strong>de</strong><br />

Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r não autoriza a cláusula <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento estipulan<strong>do</strong> a perda integr<strong>al</strong> ou quase integr<strong>al</strong> das prestações pagas.<br />

Mas, a nulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>al</strong> cláusula não impe<strong>de</strong> o magistra<strong>do</strong> <strong>de</strong> aplicar a regra <strong>do</strong> art. 924 <strong>do</strong> Código Civil e autorizar, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as<br />

circunstâncias <strong>do</strong> caso, uma r<strong>et</strong>enção que, no caso, <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> 10% (<strong>de</strong>z por cento)” (STJ – REsp 149.399/DF – Terceira Turma –<br />

Rel. Min. Carlos Alberto Menezes <strong>Direito</strong> – j. 04.02.1999 – DJ 29.03.1999, p. 164).<br />

Como se nota <strong>do</strong>s arestos colaciona<strong>do</strong>s, mesmo com a nulida<strong>de</strong> da cláusula <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> todas as parcelas pagas, há divergência<br />

sobre o montante da dívida que po<strong>de</strong> ser r<strong>et</strong>i<strong>do</strong> pelo promitente-ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r a título <strong>de</strong> multa pelo inadimplemento absoluto da outra<br />

parte, visan<strong>do</strong> a cobrir os prejuízos suporta<strong>do</strong>s. Na opinião <strong>do</strong> presente autor, <strong>de</strong>ve-se an<strong>al</strong>isar casuisticamente, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as<br />

circunstâncias <strong>do</strong> caso, servin<strong>do</strong> sempre o controle <strong>do</strong> art. 413 <strong>do</strong> Código Civil. A priori, um montante entre 10% e 30% sobre o<br />

v<strong>al</strong>or da dívida não se mostra excessivamente oneroso. Acima disso, presume-se a presença da onerosida<strong>de</strong> excessiva.<br />

Em relação ao contrato <strong>de</strong> consórcio <strong>de</strong> produtos duráveis (v.g., veículos), v<strong>al</strong>em as mesmas premissas ora fixadas. Nos termos<br />

<strong>do</strong> art. 2º da Lei 11.795/2008, anote-se que o “consórcio é a reunião <strong>de</strong> pessoas naturais e jurídicas em grupo, com prazo <strong>de</strong> duração<br />

e número <strong>de</strong> cotas previamente d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong>s, promovida por administra<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> consórcio, com a fin<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propiciar a seus<br />

integrantes, <strong>de</strong> forma isonômica, a aquisição <strong>de</strong> bens ou serviços, por meio <strong>de</strong> autofinanciamento”. Nesse contrato, igu<strong>al</strong>mente, é<br />

nula a cláusula <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o v<strong>al</strong>or a ser <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong> ser atu<strong>al</strong>iza<strong>do</strong> mon<strong>et</strong>ariamente (STJ – REsp 299.386/RJ – Quarta<br />

Turma – Rel. Min. Ruy Rosa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Aguiar – j. 17.05.2001 – DJ 04.02.2002, p. 380).<br />

Entr<strong>et</strong>anto, ress<strong>al</strong>ve-se que, em haven<strong>do</strong> <strong>de</strong>sistência por parte <strong>do</strong> consorcia<strong>do</strong>, a compensação ou a restituição das parcelas<br />

quitadas terá <strong>de</strong>scontada, <strong>al</strong>ém da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o <strong>de</strong>sistente causar ao grupo.<br />

Conforme a jurisprudência, tais prejuízos <strong>de</strong>vem ser prova<strong>do</strong>s pela empresa que administra o consórcio, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser<br />

presumi<strong>do</strong>s (STJ – REsp 871.421/SC – Terceira Turma – Rel. Min. Sidnei Ben<strong>et</strong>i – j. 11.03.2008 – DJe 01.04.2008). T<strong>al</strong> linha <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão representa clara proteção aos consumi<strong>do</strong>res.<br />

Como é notório, o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência no consórcio é um direito potestativo <strong>do</strong> consorcia<strong>do</strong>. Nesse contexto, vários julga<strong>do</strong>s<br />

enten<strong>de</strong>m ser abusiva a cláusula que afasta <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistir <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> consórcio antes <strong>do</strong> encerramento <strong>do</strong><br />

grupo (por to<strong>do</strong>s: TJMG – Apelação Cível 5921251-43.2009.8.13.0702, Uberlândia – Décima Câmara Cível – Rel. Des. Pereira da<br />

Silva – j. 01.03.2011 – DJEMG 25.03.2011; TJDF – Recurso 2007.01.1.110618-5 – Acórdão 362.209 – Primeira Turma Recurs<strong>al</strong><br />

<strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais Cíveis e Criminais – Rel. Juíza Lucimeire Maria da Silva – DJDFTE 22.06.2009, p. 225; e TJDF – Recurso<br />

2008.01.1.001565-9 – Acórdão 359.946 – Primeira Turma Recurs<strong>al</strong> <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais Cíveis e Criminais – Rel. Des.<br />

Lucimeire Maria da Silva – DJDFTE 12.06.2009, p. 155).<br />

Em relação ao montante <strong>do</strong> v<strong>al</strong>or pago pelo consorcia<strong>do</strong> que po<strong>de</strong> ser r<strong>et</strong>i<strong>do</strong> pela empresa que administra o consórcio, esse<br />

também <strong>de</strong>ve abranger a chamada taxa <strong>de</strong> administração. Da jurisprudência superior, fazen<strong>do</strong> controle contra o abuso <strong>de</strong> direito em

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