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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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encargos exigi<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> da norm<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> contratu<strong>al</strong> (juros remuneratórios e capit<strong>al</strong>ização) <strong>de</strong>scaracteriza a mora; b) Não<br />

<strong>de</strong>scaracteriza a mora o ajuizamento isola<strong>do</strong> <strong>de</strong> ação revision<strong>al</strong>, nem mesmo quan<strong>do</strong> o reconhecimento <strong>de</strong> abusivida<strong>de</strong> incidir sobre<br />

os encargos inerentes ao perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> inadimplência contratu<strong>al</strong>. Orientação 3: Juros moratórios. Nos contratos bancários, não regi<strong>do</strong>s<br />

por legislação específica, os juros moratórios po<strong>de</strong>rão ser convenciona<strong>do</strong>s até o limite <strong>de</strong> 1% ao mês. Orientação 4:<br />

Inscrição/manutenção em cadastro <strong>de</strong> inadimplentes. a) A abstenção da inscrição/manutenção em cadastro <strong>de</strong> inadimplentes,<br />

requerida em antecipação <strong>de</strong> tutela e/ou medida cautelar, somente será <strong>de</strong>ferida se, cumulativamente: i) a ação for fundada em<br />

questionamento integr<strong>al</strong> ou parci<strong>al</strong> <strong>do</strong> débito; ii) houver <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que a cobrança in<strong>de</strong>vida se funda na aparência <strong>do</strong> bom<br />

direito e em jurisprudência consolidada <strong>do</strong> STF ou STJ; iii) houver <strong>de</strong>pósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução<br />

fixada conforme o pru<strong>de</strong>nte arbítrio <strong>do</strong> juiz; b) A inscrição/manutenção <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r em cadastro <strong>de</strong> inadimplentes <strong>de</strong>cidida<br />

na sentença ou no acórdão observará o que for <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> no mérito <strong>do</strong> processo. Caracterizada a mora, corr<strong>et</strong>a a<br />

inscrição/manutenção. Orientação 5: Disposições <strong>de</strong> ofício. É veda<strong>do</strong> aos juízes <strong>de</strong> primeiro e segun<strong>do</strong> graus <strong>de</strong> jurisdição julgar,<br />

com fundamento no art. 51 <strong>do</strong> CDC, sem pedi<strong>do</strong> expresso, a abusivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cláusulas nos contratos bancários. Venci<strong>do</strong>s quanto a<br />

esta matéria a Min. Relatora e o Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão. II. Julgamento <strong>do</strong> recurso representativo (REsp 1.061.530/RS). A<br />

menção a artigo <strong>de</strong> lei, sem a <strong>de</strong>monstração das razões <strong>de</strong> inconformida<strong>de</strong>, impõe o não conhecimento <strong>do</strong> recurso especi<strong>al</strong>, em razão<br />

da sua <strong>de</strong>ficiente fundamentação. Incidência da Súmula 284/STF. O recurso especi<strong>al</strong> não constitui via a<strong>de</strong>quada para o exame <strong>de</strong><br />

temas constitucionais, sob pena <strong>de</strong> usurpação da comp<strong>et</strong>ência <strong>do</strong> STF. Devem ser <strong>de</strong>cotadas as disposições <strong>de</strong> ofício re<strong>al</strong>izadas pelo<br />

acórdão recorri<strong>do</strong>. Os juros remuneratórios contrata<strong>do</strong>s encontram-se no limite que esta Corte tem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> razoável e, sob a<br />

ótica <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, não merecem ser revistos, porquanto não <strong>de</strong>monstrada a onerosida<strong>de</strong> excessiva na hipótese.<br />

Verificada a cobrança <strong>de</strong> encargo abusivo no perío<strong>do</strong> da norm<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> contratu<strong>al</strong>, resta <strong>de</strong>scaracterizada a mora <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r. Afastada<br />

a mora: i) é ileg<strong>al</strong> o envio <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r para quaisquer cadastros <strong>de</strong> inadimplência; ii) <strong>de</strong>ve o consumi<strong>do</strong>r permanecer na<br />

posse <strong>do</strong> bem <strong>al</strong>iena<strong>do</strong> fiduciariamente; e iii) não se admite o protesto <strong>do</strong> título representativo da dívida. Não há qu<strong>al</strong>quer vedação<br />

leg<strong>al</strong> à ef<strong>et</strong>ivação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos parciais, segun<strong>do</strong> o que a parte enten<strong>de</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>. Não se conhece <strong>do</strong> recurso quanto à comissão <strong>de</strong><br />

permanência, pois <strong>de</strong>ficiente o fundamento no tocante à <strong>al</strong>ínea “a” <strong>do</strong> permissivo constitucion<strong>al</strong> e também pelo fato <strong>de</strong> o dissídio<br />

jurispru<strong>de</strong>nci<strong>al</strong> não ter si<strong>do</strong> comprova<strong>do</strong>, mediante a re<strong>al</strong>ização <strong>do</strong> cotejo entre os julga<strong>do</strong>s ti<strong>do</strong>s como divergentes. Venci<strong>do</strong>s quanto<br />

ao conhecimento <strong>do</strong> recurso a Min. Relatora e o Min. Carlos Fernan<strong>do</strong> Mathias. Recurso especi<strong>al</strong> parci<strong>al</strong>mente conheci<strong>do</strong> e, nesta<br />

parte, provi<strong>do</strong>, para <strong>de</strong>clarar a leg<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> da cobrança <strong>do</strong>s juros remuneratórios, como pactua<strong>do</strong>s, e ainda <strong>de</strong>cotar <strong>do</strong> julgamento as<br />

disposições <strong>de</strong> ofício. Ônus sucumbenciais redistribuí<strong>do</strong>s” (STJ – REsp 1061530/RS – Segunda Seção – Rel. Min. Nancy Andrighi<br />

– j. 22.10.2008 – DJe 10.03.2009).<br />

Cumpre <strong>de</strong>stacar que, <strong>do</strong> julgamento, surgiram quatro súmulas <strong>do</strong> STJ a respeito da matéria: “A estipulação <strong>de</strong> juros<br />

remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusivida<strong>de</strong>” (Súmula 382); “Nos contratos bancários, é veda<strong>do</strong> ao<br />

julga<strong>do</strong>r conhecer, <strong>de</strong> ofício, da abusivida<strong>de</strong> das cláusulas” (Súmula 381); “A simples propositura da ação <strong>de</strong> revisão <strong>de</strong> contrato<br />

não inibe a caracterização da mora <strong>do</strong> autor” (Súmula 380); “Nos contratos bancários não regi<strong>do</strong>s por legislação específica, os<br />

juros moratórios po<strong>de</strong>rão ser convenciona<strong>do</strong>s até o limite <strong>de</strong> 1% ao mês” (Súmula 379).<br />

Em complemento, nota-se que as exigências expostas passaram a compor a ferramenta Jurisprudência em Teses, <strong>do</strong> STJ, que<br />

em sua Edição n. 59 trata <strong>do</strong> Cadastro <strong>de</strong> Inadimplentes (publicada em 2016). Conforme a sua premissa 12, “a abstenção da<br />

inscrição/manutenção em cadastro <strong>de</strong> inadimplentes, requerida em antecipação <strong>de</strong> tutela e/ou medida cautelar, somente será<br />

<strong>de</strong>ferida se, cumulativamente: a) a ação for fundada em questionamento integr<strong>al</strong> ou parci<strong>al</strong> <strong>do</strong> débito; b) houver <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

que a cobrança in<strong>de</strong>vida se funda na aparência <strong>do</strong> bom direito e em jurisprudência consolidada <strong>do</strong> STF ou STJ; c) houver <strong>de</strong>pósito<br />

da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o pru<strong>de</strong>nte arbítrio <strong>do</strong> juiz”.<br />

Sem prejuízo <strong>de</strong> outras críticas aqui antes <strong>de</strong>monstradas, as ementas transcritas representam um excesso <strong>de</strong> proteção das<br />

entida<strong>de</strong>s bancárias em d<strong>et</strong>rimento <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> um r<strong>et</strong>rocesso <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> Superior a respeito <strong>de</strong>sses temas<br />

correlatos.<br />

Relativamente à r<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> cadastro, o r<strong>et</strong>rocesso, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, é flagrante. Pela leitura <strong>do</strong> resumo<br />

<strong>do</strong> julgamento, constata-se que a jurisprudência exige uma soma <strong>de</strong> elementos que, por muitas vezes, é in<strong>al</strong>cançável (ação judici<strong>al</strong><br />

<strong>de</strong> questionamento <strong>do</strong> débito + <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que a cobrança in<strong>de</strong>vida se funda na aparência <strong>do</strong> bom direito e em jurisprudência<br />

consolidada <strong>do</strong> STF ou STJ + <strong>de</strong>pósito da parcela incontroversa ou prestação <strong>de</strong> caução pelo juiz).<br />

No que tange ao <strong>de</strong>pósito da parte incontroversa, a questão passou a ser tratada pelo Código <strong>de</strong> Processo Civil <strong>de</strong> 1973, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> inseri<strong>do</strong> o art. 285-B no Estatuto Processu<strong>al</strong> anterior, pela Lei 12.810/2013. De acor<strong>do</strong> com o dispositivo, nos litígios que<br />

tivessem por obj<strong>et</strong>o obrigações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor <strong>de</strong>veria discriminar<br />

na p<strong>et</strong>ição inici<strong>al</strong>, <strong>de</strong>ntre as obrigações contratuais, aquelas que pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong>sse controverter, quantifican<strong>do</strong> o v<strong>al</strong>or incontroverso.<br />

A<strong>de</strong>mais, o v<strong>al</strong>or incontroverso <strong>de</strong>veria continuar sen<strong>do</strong> pago no tempo e mo<strong>do</strong> contrata<strong>do</strong>s.<br />

O Novo CPC rep<strong>et</strong>iu a regra e até a ampliou, impon<strong>do</strong> expressamente a pena <strong>de</strong> inépcia da p<strong>et</strong>ição inici<strong>al</strong>, no caso <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>srespeito. Conforme o art. 330, § 2º, <strong>do</strong> CPC/2015, “nas ações que tenham por obj<strong>et</strong>o a revisão <strong>de</strong> obrigação <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

empréstimo, <strong>de</strong> financiamento ou <strong>de</strong> <strong>al</strong>ienação <strong>de</strong> bens, o autor terá <strong>de</strong>, sob pena <strong>de</strong> inépcia, discriminar na p<strong>et</strong>ição inici<strong>al</strong>, <strong>de</strong>ntre<br />

as obrigações contratuais, aquelas que pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong> controverter, <strong>al</strong>ém <strong>de</strong> quantificar o v<strong>al</strong>or incontroverso <strong>do</strong> débito”. O § 3º <strong>do</strong>

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