05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma ampliação obj<strong>et</strong>iva da <strong>de</strong>manda em razão da <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong>, essa parcela da <strong>do</strong>utrina enten<strong>de</strong> que t<strong>al</strong> ampliação <strong>de</strong>ve ser<br />

mínima, não se admitin<strong>do</strong> que se exija <strong>do</strong> juiz o enfrentamento da questão referente ao direito regressivo. Quan<strong>do</strong> menciona a<br />

responsabilida<strong>de</strong> dir<strong>et</strong>a, quer essa <strong>do</strong>utrina dizer que o direito regressivo tem que ser natur<strong>al</strong> e indiscutível diante <strong>do</strong> dano<br />

suporta<strong>do</strong> pela parte <strong>de</strong>nunciante, o que não exigirá <strong>do</strong> juiz o enfrentamento <strong>de</strong> novas questões relativas a esse direito, limitan<strong>do</strong>-se<br />

o julga<strong>do</strong>r a, uma vez con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> o <strong>de</strong>nunciante, automaticamente con<strong>de</strong>nar o <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> ao ressarcimento152.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, em teoria que merece ser acolhida, parcela da <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um entendimento significativamente amplo<br />

para o art. 125, II, <strong>do</strong> Novo CPC, afirman<strong>do</strong> basicamente que as diferenças entre a garantia própria e imprópria e correspon<strong>de</strong>ntes<br />

institutos jurídicos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para sua discussão em termos <strong>de</strong> direito regressivo, teoricamente existentes na Itália, não po<strong>de</strong>m<br />

contaminar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> tema no Brasil. Nosso direito não prevê diferença entre a garantia própria e a imprópria, <strong>de</strong><br />

forma que não será legítimo o intérpr<strong>et</strong>e criar essa diferença não prevista em lei para limitar a abrangência <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar<br />

da li<strong>de</strong> o responsável regressivo 153 .<br />

Dessa forma, ainda que a <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong> leve ao processo um fundamento jurídico novo, funda<strong>do</strong> na existência ou não <strong>do</strong><br />

direito <strong>de</strong> regresso no caso concr<strong>et</strong>o, esta <strong>de</strong>ve ser admitida. Dentro da concepção <strong>de</strong> ef<strong>et</strong>ivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo, da celerida<strong>de</strong><br />

processu<strong>al</strong> e da harmonização <strong>do</strong>s julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s da <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong>, não se admite que tais princípios sejam sacrifica<strong>do</strong>s<br />

pela interpr<strong>et</strong>ação restritiva <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> terceiro, até mesmo porque t<strong>al</strong> entendimento impediria a situação mais<br />

frequente <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong>, que envolve segura<strong>do</strong> e segura<strong>do</strong>ra, na qu<strong>al</strong> evi<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>verá ser enfrentada e <strong>de</strong>cidida no<br />

processo não só a existência <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> regresso <strong>al</strong>ega<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>, como também a sua extensão 154 .<br />

Como a<strong>do</strong>to a teoria que admite a ampliação da causa <strong>de</strong> pedir por meio da <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong>, não concor<strong>do</strong> com essa<br />

segunda justificativa para a vedação contida no art. 88 <strong>do</strong> CDC. A vinda <strong>de</strong> nova causa <strong>de</strong> pedir parece ser natur<strong>al</strong> ao instituto em<br />

comento, em especi<strong>al</strong> nas relações consumeristas. Na re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, a preocupação com o aumento <strong>de</strong> causas <strong>de</strong> pedir na <strong>de</strong>manda<br />

refl<strong>et</strong>e na preocupação exposta no item anterior, <strong>de</strong> que o processo passe a <strong>de</strong>morar mais <strong>do</strong> que <strong>de</strong>moraria sem a <strong>de</strong>nunciação da<br />

li<strong>de</strong>. Mais uma vez, portanto, lembro que a economia macroscópica <strong>de</strong>ve prev<strong>al</strong>ecer diante da economia microscópica, mas se a<br />

opção <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r foi afastar essa forma mais ampla <strong>de</strong> economia processu<strong>al</strong> para a proteção <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r no caso concr<strong>et</strong>o,<br />

cabe ao opera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> respeitá-la.<br />

10.5.2.2.3.<br />

Abrangência da vedação leg<strong>al</strong><br />

O art. 88 <strong>do</strong> CDC, ao impedir a <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong>, prevê que a vedação <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> terceiro se dê<br />

somente na hipótese <strong>do</strong> art. 13, parágrafo único <strong>do</strong> mesmo diploma leg<strong>al</strong>. Como esse dispositivo está conti<strong>do</strong> no capítulo da<br />

“responsabilida<strong>de</strong> pelo fato <strong>do</strong> produto e <strong>do</strong> serviço”, há certa divergência <strong>do</strong>utrinária a respeito <strong>do</strong> âmbito <strong>de</strong> aplicação da<br />

vedação leg<strong>al</strong>.<br />

Para parcela da <strong>do</strong>utrina, embora numa interpr<strong>et</strong>ação liter<strong>al</strong> possa se dizer que a vedação não <strong>al</strong>cança outras <strong>de</strong>mandas<br />

consumeristas que versem sobre outro obj<strong>et</strong>o que não a responsabilida<strong>de</strong> pelo fato <strong>do</strong> produto ou <strong>do</strong> serviço, é preferível se v<strong>al</strong>er<br />

da vedação para qu<strong>al</strong>quer hipótese que envolva o consumi<strong>do</strong>r no polo ativo e o fornece<strong>do</strong>r no polo passivo. Para essa corrente<br />

<strong>do</strong>utrinária, “a remissão apenas aos casos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> por fato <strong>do</strong> produto, e não aos <strong>de</strong>mais, contu<strong>do</strong>, não se justifica. É<br />

que também nas outras hipóteses <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m existir vários responsáveis – fornece<strong>do</strong>res que compõem a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

consumo –, cuja permissão <strong>de</strong> ingresso em juízo, contra a vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r-autor (que não os escolheu como réus, embora<br />

pu<strong>de</strong>sse fazê-lo, repita-se, em razão da solidarieda<strong>de</strong>), po<strong>de</strong>ria ser-lhe bastante prejudici<strong>al</strong>. A an<strong>al</strong>ogia, aqui, se impõe”155.<br />

O entendimento é lógico, funda<strong>do</strong> nos obj<strong>et</strong>ivos pr<strong>et</strong>endi<strong>do</strong>s pelo legisla<strong>do</strong>r. Se a premissa da vedação é proteger o<br />

consumi<strong>do</strong>r, evitan<strong>do</strong> que seja obriga<strong>do</strong> a litigar contra quem não escolheu para compor o polo passivo, não há razão para uma<br />

interpr<strong>et</strong>ação restritiva. O Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, entr<strong>et</strong>anto, vinha enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> limitar a vedação leg<strong>al</strong> nos<br />

termos da lei, admitin<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong> nas hipóteses <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> por vício <strong>do</strong> produto e <strong>do</strong> serviço:<br />

“Recurso especi<strong>al</strong>. Ação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização. Relação consumerista. Defeito no serviço. Decadência (art. 26 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r). Inaplicabilida<strong>de</strong>. Denunciação da li<strong>de</strong>. Impossibilida<strong>de</strong>, in casu. P<strong>et</strong>ição inici<strong>al</strong>. Documentos indispensáveis à<br />

propositura da ação. Acórdão recorri<strong>do</strong> em harmonia com o entendimento <strong>de</strong>sta corte. Litigância <strong>de</strong> má-fé. Não ocorrência. Recurso<br />

improvi<strong>do</strong>. 1. Na discussão acerca <strong>do</strong> <strong>de</strong>feito no serviço, previsto na Seção II <strong>do</strong> Capítulo IV <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r,<br />

aplica-se o art. 27 <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> diploma leg<strong>al</strong>, segun<strong>do</strong> o qu<strong>al</strong> o prazo é prescricion<strong>al</strong>, <strong>de</strong> 5 (cinco) anos, a partir <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong><br />

dano e da sua autoria. 2. Nas relações <strong>de</strong> consumo, a <strong>de</strong>nunciação da li<strong>de</strong> é vedada apenas na responsabilida<strong>de</strong> pelo fato <strong>do</strong> produto<br />

(art. 13 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r), admitin<strong>do</strong>-o nos casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>feito no serviço (art. 14 <strong>do</strong> CDC), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que preenchi<strong>do</strong>s<br />

os requisitos <strong>do</strong> art. 70 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Processo Civil, inocorrente, na espécie. 3. Está em harmonia com entendimento <strong>de</strong>sta Corte<br />

Superior <strong>de</strong> Justiça o julgamento proferi<strong>do</strong> pelo Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> origem no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que os <strong>do</strong>cumentos indispensáveis à propositura<br />

da ação são os aptos a comprovar a presença das condições da ação. 4. A aplicação <strong>de</strong> pen<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>s por litigância <strong>de</strong> má-fé exige<br />

<strong>do</strong>lo específico. 5. Recurso improvi<strong>do</strong>” (STJ – REsp 1.123.195/SP – Terceira Turma – Rel. Min. Massami Uyeda – j. 16.12.2011 –

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!