05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

contratos firma<strong>do</strong>s com empresas que exploram essa ativida<strong>de</strong> no merca<strong>do</strong> e visam ao lucro. Não se aplica o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r ao contrato <strong>de</strong> plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> administra<strong>do</strong> por entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autogestão, por inexistência <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> consumo” (STJ<br />

– REsp 1.285.483/PB – Segunda Seção – Rel. Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão – j. 22.06.2016 – DJe 16.08.2016). Nos termos <strong>do</strong> voto <strong>do</strong><br />

Ministro Relator, “a inegável diferença estrutur<strong>al</strong> existente entre os planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ofereci<strong>do</strong>s pelas entida<strong>de</strong>s constituídas sob<br />

aquele mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong> acesso restrito a um grupo d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong>, daqueles comerci<strong>al</strong>iza<strong>do</strong>s por opera<strong>do</strong>ras que oferecem seus produtos<br />

ao merca<strong>do</strong> ger<strong>al</strong> e obj<strong>et</strong>ivam o lucro, ensejam a r<strong>et</strong>omada <strong>do</strong> tema e encorajam subm<strong>et</strong>er a questão ao criterioso exame <strong>de</strong>sta<br />

Seção”. Não se olvi<strong>de</strong> que, pelo Novo CPC, t<strong>al</strong> <strong>de</strong>cisão vincula os advoga<strong>do</strong>s (art. 332, inciso III) e os julga<strong>do</strong>res <strong>de</strong> primeira e<br />

segunda instâncias (art. 489, § 1º, inciso VI). Em suma, t<strong>al</strong> posição <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada majoritária e consolidada, para os <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s<br />

fins práticos.<br />

Também o seguro empresari<strong>al</strong> po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve estar abrangi<strong>do</strong> pelo Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Na esteira <strong>de</strong> corr<strong>et</strong>o<br />

julgamento <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> da Cidadania, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2014, “há relação <strong>de</strong> consumo no seguro empresari<strong>al</strong> se a pessoa jurídica o firmar<br />

visan<strong>do</strong> à proteção <strong>do</strong> próprio patrimônio (<strong>de</strong>stinação pesso<strong>al</strong>), sem o integrar nos produtos ou serviços que oferece, mesmo que<br />

seja para resguardar insumos utiliza<strong>do</strong>s em sua ativida<strong>de</strong> comerci<strong>al</strong>, pois será a <strong>de</strong>stinatária fin<strong>al</strong> <strong>do</strong>s serviços securitários. Situação<br />

diversa seria se o seguro empresari<strong>al</strong> fosse contrata<strong>do</strong> para cobrir riscos <strong>do</strong>s clientes, ocasião em que faria parte <strong>do</strong>s serviços<br />

presta<strong>do</strong>s pela pessoa jurídica, o que configuraria consumo intermediário, não protegi<strong>do</strong> pelo CDC. A cláusula securitária a qu<strong>al</strong><br />

garante a proteção <strong>do</strong> patrimônio <strong>do</strong> segura<strong>do</strong> apenas contra o furto qu<strong>al</strong>ifica<strong>do</strong>, sem esclarecer o significa<strong>do</strong> e o <strong>al</strong>cance <strong>do</strong> termo<br />

‘qu<strong>al</strong>ifica<strong>do</strong>’, bem como a situação concernente ao furto simples, está eivada <strong>de</strong> abusivida<strong>de</strong> por f<strong>al</strong>ha no <strong>de</strong>ver ger<strong>al</strong> <strong>de</strong><br />

informação da segura<strong>do</strong>ra e por sonegar ao consumi<strong>do</strong>r o conhecimento suficiente acerca <strong>do</strong> obj<strong>et</strong>o contrata<strong>do</strong>. Não po<strong>de</strong> ser<br />

exigi<strong>do</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r o conhecimento <strong>de</strong> termos técnico-jurídicos específicos, ainda mais a diferença entre tipos penais <strong>de</strong> mesmo<br />

gênero” (STJ – REsp 1.352.419/SP – Rel. Min. Ricar<strong>do</strong> Villas Bôas Cueva – Terceira Turma – j. 19.08.2014, DJe 08.09.2014).<br />

Todavia, como se extrai da ementa, se o seguro é celebra<strong>do</strong> para a proteção da máquina produtiva da empresa, especi<strong>al</strong>mente<br />

para cobrir danos sofri<strong>do</strong>s por terceiros, não há que f<strong>al</strong>ar em contrato <strong>de</strong> consumo. Em muitos casos, <strong>al</strong>iás, não haverá sequer um<br />

contrato <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, pois o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> negócio é amplamente discuti<strong>do</strong> e negocia<strong>do</strong> por duas gran<strong>de</strong>s empresas, a segurada e a<br />

segura<strong>do</strong>ra. Nessa linha, <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> Paulista:<br />

“Seguro empresari<strong>al</strong>. Ação <strong>de</strong>claratória <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cláusula cumulada com pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização. Cláusula exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

cobertura. Admissibilida<strong>de</strong>. Inaplicabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Relação com a segura<strong>do</strong>ra que se caracteriza<br />

como insumo, e não consumo. Ocorrência <strong>de</strong> furto <strong>de</strong> bens da empresa já parci<strong>al</strong>mente in<strong>de</strong>nizada. Equipamentos não in<strong>de</strong>niza<strong>do</strong>s<br />

cuja cobertura fora expressamente excluída, a teor das ‘condições gerais’ <strong>do</strong> contrato. Sentença reformada. Ação improce<strong>de</strong>nte.<br />

Recurso provi<strong>do</strong>” (TJSP – Apelação 1017459-91.2014.8.26.0071 – Acórdão 9297989, Bauru – Sexta Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> –<br />

Rel. Des. Vito Guglielmi – j. 18.03.2016 – DJESP 01.04.2016).<br />

Ou, ainda, contan<strong>do</strong> com o apoio <strong>de</strong>ste autor, igu<strong>al</strong>mente tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> seguro entre empresas, relativo à proteção da máquina<br />

produtiva da segurada:<br />

“Ação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização. Seguro. CDC. Inaplicabilida<strong>de</strong>. Contrato <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> <strong>al</strong>to v<strong>al</strong>or, <strong>de</strong>ntre eles o guindaste<br />

sinistra<strong>do</strong>, que constitui insumo da ativida<strong>de</strong> empresari<strong>al</strong> das Apelantes. Dimensão <strong>do</strong> negócio jurídico que é substrato suficiente<br />

para afastar a <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> das Apelantes. Cerceamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Questão princip<strong>al</strong> <strong>de</strong>volvida que diz respeito à<br />

v<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> da cláusula <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> risco da segura<strong>do</strong>ra. Prova estritamente <strong>do</strong>cument<strong>al</strong> no caso concr<strong>et</strong>o. Desnecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prova<br />

perici<strong>al</strong> ou <strong>de</strong> instrução probatória. Preliminar afastada. Mérito. Pr<strong>et</strong>ensão <strong>de</strong> recebimento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização securitária da segura<strong>do</strong>ra<br />

Apelada. Pedi<strong>do</strong> corr<strong>et</strong>amente julga<strong>do</strong> improce<strong>de</strong>nte. Documentos que provam o <strong>de</strong>scumprimento contratu<strong>al</strong> pela Apelante, pois o<br />

guindaste sinistra<strong>do</strong> estava sen<strong>do</strong> opera<strong>do</strong> por funcionário sem a experiência mínima exigida na apólice <strong>de</strong> seguro. Imperícia<br />

configurada. Causa <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> risco. Abusivida<strong>de</strong> da cláusula não configurada. Sentença mantida na íntegra, nos termos <strong>do</strong> art.<br />

252 <strong>do</strong> RITJSP. Recurso não provi<strong>do</strong>. Visu<strong>al</strong>izar ementa compl<strong>et</strong>a” (TJSP – Apelação 1062283-82.2013.8.26.0100, São Paulo – 12ª<br />

Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Des. Tasso Duarte <strong>de</strong> Melo – j. 14.09.2016 – Registro em 20.09.2016).<br />

Continuan<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> da norma, estão excluídas as relações <strong>de</strong> caráter trab<strong>al</strong>hista, regidas pela legislação especi<strong>al</strong>, no caso a<br />

Consolidação das Leis <strong>do</strong> Trab<strong>al</strong>ho (CLT). Por tais relações são compreendidas as relações <strong>de</strong> emprego, com os elementos que lhe<br />

são peculiares, como a pesso<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, a subordinação jurídica, a onerosida<strong>de</strong>, a habitu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> ou não eventu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, a <strong>al</strong>ienida<strong>de</strong> e<br />

a exclusivida<strong>de</strong>.26<br />

Sen<strong>do</strong> assim, imagine-se que um produto explo<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma fábrica, vin<strong>do</strong> a atingir um <strong>de</strong> seus emprega<strong>do</strong>s.<br />

Logicamente, o emprega<strong>do</strong> <strong>de</strong>mandará o emprega<strong>do</strong>r, e não o fabricante <strong>do</strong> produto, com base no aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trab<strong>al</strong>ho e não no<br />

aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> consumo. Em suma, inci<strong>de</strong> a CLT na situação <strong>de</strong>scrita e não o CDC. Em outras p<strong>al</strong>avras, o protecionismo <strong>do</strong><br />

emprega<strong>do</strong> prev<strong>al</strong>ece sobre o protecionismo <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Entr<strong>et</strong>anto, <strong>de</strong>ve ficar claro que o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r inci<strong>de</strong> sobre <strong>al</strong>gumas relações <strong>de</strong> trab<strong>al</strong>ho individu<strong>al</strong>,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!