05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A <strong>do</strong>utrina comumente divi<strong>de</strong> o ônus da prova em <strong>do</strong>is aspectos: o primeiro, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> ônus subj<strong>et</strong>ivo da prova, e o<br />

segun<strong>do</strong>, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> ônus obj<strong>et</strong>ivo179. No tocante ao ônus subj<strong>et</strong>ivo da prova, an<strong>al</strong>isa-se o instituto sob a perspectiva <strong>de</strong> quem é o<br />

responsável pela produção <strong>de</strong> d<strong>et</strong>erminada prova (“quem <strong>de</strong>ve provar o que”), enquanto no ônus obj<strong>et</strong>ivo da prova o instituto é<br />

visto como uma regra <strong>de</strong> julgamento a ser aplicada pelo juiz no momento <strong>de</strong> proferir a sentença no caso <strong>de</strong> a prova se mostrar<br />

inexistente ou insuficiente. No aspecto obj<strong>et</strong>ivo, o ônus da prova afasta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o juiz <strong>de</strong>clarar o non liqu<strong>et</strong> diante <strong>de</strong><br />

dúvidas a respeito das <strong>al</strong>egações <strong>de</strong> fato em razão da insuficiência ou inexistência <strong>de</strong> provas. Sen<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong> a julgar e não estan<strong>do</strong><br />

convenci<strong>do</strong> das <strong>al</strong>egações <strong>de</strong> fato, aplica a regra <strong>do</strong> ônus da prova.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> as lições <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Greco:<br />

“As regras <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong> ônus da prova têm duplo obj<strong>et</strong>ivo: primeiramente, <strong>de</strong>finir a qu<strong>al</strong> das partes comp<strong>et</strong>e provar<br />

d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong> fato, o chama<strong>do</strong> ônus subj<strong>et</strong>ivo; em seguida, no momento da sentença, servir <strong>de</strong> dir<strong>et</strong>riz no enca<strong>de</strong>amento lógico <strong>do</strong><br />

julgamento das questões <strong>de</strong> fato, fazen<strong>do</strong> o juízo pen<strong>de</strong>r em favor <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra parte conforme tenham ou não resulta<strong>do</strong><br />

prova<strong>do</strong>s os fatos que a cada uma <strong>de</strong>las interessam, o chama<strong>do</strong> ônus obj<strong>et</strong>ivo” 180 .<br />

O ônus da prova é, portanto, regra <strong>de</strong> julgamento, aplican<strong>do</strong>-se para as situações em que, ao fin<strong>al</strong> da <strong>de</strong>manda, persistam fatos<br />

controverti<strong>do</strong>s não <strong>de</strong>vidamente comprova<strong>do</strong>s durante a instrução probatória. Trata-se <strong>de</strong> ônus imperfeito, porque nem sempre a<br />

parte que tinha o ônus <strong>de</strong> prova e não a produziu será colocada num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem processu<strong>al</strong>, bastan<strong>do</strong> imaginar a<br />

hipótese <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> prova <strong>de</strong> ofício ou, ainda, <strong>de</strong> a prova ser produzida pela parte contrária. Mas também é regra <strong>de</strong> conduta<br />

das partes, porque indica a elas quem potenci<strong>al</strong>mente será prejudica<strong>do</strong> diante da ausência ou insuficiência da prova.<br />

Como já afirma<strong>do</strong>, o ônus da prova, em seu aspecto obj<strong>et</strong>ivo, é uma regra <strong>de</strong> julgamento, aplican<strong>do</strong>-se somente no momento<br />

fin<strong>al</strong> da <strong>de</strong>manda, quan<strong>do</strong> o juiz estiver pronto para proferir sentença. É regra aplicável apenas no caso <strong>de</strong> inexistência ou<br />

insuficiência da prova, uma vez que, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> a prova produzida, não interessan<strong>do</strong> por quem, o juiz julgará com base na prova e<br />

não haverá necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação da regra ora an<strong>al</strong>isada. Trata-se <strong>do</strong> princípio da comunhão da prova (ou aquisição da prova),<br />

que d<strong>et</strong>ermina que, uma vez produzida a prova, ela passará a ser <strong>do</strong> processo, e não <strong>de</strong> quem a produziu181. Dessa forma, o<br />

aspecto subj<strong>et</strong>ivo só passa a ter relevância para a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> juiz se ele for obriga<strong>do</strong> a aplicar o ônus da prova em seu aspecto<br />

obj<strong>et</strong>ivo: diante <strong>de</strong> ausência ou insuficiência <strong>de</strong> provas, <strong>de</strong>ve indicar qu<strong>al</strong> das partes tinha o ônus <strong>de</strong> provar e colocá-la numa<br />

situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem processu<strong>al</strong>.<br />

10.7.2.<br />

Regras <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong> ônus da prova<br />

Segun<strong>do</strong> a regra ger<strong>al</strong> estabelecida pelo art. 373, I e II, <strong>do</strong> Novo CPC, cabe ao autor o ônus <strong>de</strong> provar os fatos constitutivos <strong>de</strong><br />

seu direito, ou seja, <strong>de</strong>ve provar a matéria fática que traz em sua p<strong>et</strong>ição inici<strong>al</strong> e que serve como origem da relação jurídica<br />

<strong>de</strong>duzida em juízo. Em relação ao réu, também o or<strong>de</strong>namento processu<strong>al</strong> dispõe sobre ônus probatórios, mas não concernentes aos<br />

fatos constitutivos <strong>do</strong> direito <strong>do</strong> autor. Natur<strong>al</strong>mente, se <strong>de</strong>sejar, po<strong>de</strong>rá tentar <strong>de</strong>monstrar a inverda<strong>de</strong> das <strong>al</strong>egações <strong>de</strong> fato feitas<br />

pelo autor por meio <strong>de</strong> produção probatória, mas, caso não o faça, não será coloca<strong>do</strong> em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem, a não ser que o<br />

autor comprove a veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tais fatos. Nesse caso, entr<strong>et</strong>anto, a situação prejudici<strong>al</strong> não se dará em consequência da ausência<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> prova pelo réu, mas sim pela produção <strong>de</strong> prova pelo autor.<br />

Caso o réu <strong>al</strong>egue, por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> mérito indir<strong>et</strong>a, um fato novo, impeditivo, modificativo ou extintivo <strong>do</strong> direito <strong>do</strong><br />

autor, terá o ônus <strong>de</strong> comprová-lo. Por fato impeditivo enten<strong>de</strong>-se aquele <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> negativo, <strong>de</strong>monstrativo da ausência <strong>de</strong><br />

<strong>al</strong>gum <strong>do</strong>s requisitos genéricos <strong>de</strong> v<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ato jurídico, como, por exemplo, a <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> que o contratante era absolutamente<br />

incapaz quan<strong>do</strong> celebrou o contrato. Fato modificativo é aquele que <strong>al</strong>tera apenas parci<strong>al</strong>mente o fato constitutivo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser t<strong>al</strong><br />

<strong>al</strong>teração subj<strong>et</strong>iva, ou seja, referente aos sujeitos da relação jurídica (como ocorre, por exemplo, na cessão <strong>de</strong> crédito) ou obj<strong>et</strong>iva,<br />

ou seja, referente ao conteú<strong>do</strong> da relação jurídica (como ocorre, por exemplo, na compensação parci<strong>al</strong>). Fato extintivo é o que faz<br />

cessar a relação jurídica origin<strong>al</strong>, como a compensação numa ação <strong>de</strong> cobrança. A simples negação <strong>do</strong> fato <strong>al</strong>ega<strong>do</strong> pelo autor não<br />

acarr<strong>et</strong>a ao réu o ônus da prova.<br />

O ônus da prova carrea<strong>do</strong> ao réu pelo art. 373, II, <strong>do</strong> Novo CPC só passa a ser exigi<strong>do</strong> no caso concr<strong>et</strong>o na hipótese <strong>de</strong> o autor<br />

ter se <strong>de</strong>sincumbi<strong>do</strong> <strong>de</strong> seu ônus probatório, porque só passa a ter interesse na <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> juiz a existência ou não <strong>de</strong> um fato<br />

impeditivo, modificativo ou extintivo <strong>do</strong> autor, após se convencer da existência <strong>do</strong> fato constitutivo <strong>do</strong> autor. Significa dizer que,<br />

se nenhuma das partes se <strong>de</strong>sincumbir <strong>de</strong> seus ônus no caso concr<strong>et</strong>o e o juiz tiver que <strong>de</strong>cidir com fundamento na regra <strong>do</strong> ônus<br />

da prova, o pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> autor será julga<strong>do</strong> improce<strong>de</strong>nte.<br />

O Novo Código <strong>de</strong> Processo Civil inova quanto ao sistema <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong>s ônus probatórios, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> corrente<br />

<strong>do</strong>utrinária que já vinha <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a chamada “distribuição dinâmica <strong>do</strong> ônus da prova”. Na re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, criou-se um sistema<br />

misto: existe abstratamente prevista em lei uma forma <strong>de</strong> distribuição, que po<strong>de</strong>rá ser, no caso concr<strong>et</strong>o, modificada pelo juiz.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!