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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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esponsabilida<strong>de</strong> solidária da concessionária (fornece<strong>do</strong>r) e <strong>do</strong> fabricante por vício em veículo zero quilôm<strong>et</strong>ro. A aquisição <strong>de</strong><br />

veículo zero quilôm<strong>et</strong>ro para uso profission<strong>al</strong> como táxi, por si só, não afasta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação das normas prot<strong>et</strong>ivas <strong>do</strong><br />

CDC. To<strong>do</strong>s os que participam da introdução <strong>do</strong> produto ou serviço no merca<strong>do</strong> respon<strong>de</strong>m solidariamente por eventu<strong>al</strong> vício <strong>do</strong><br />

produto ou <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação, ou seja, imputa-se a toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecimento a responsabilida<strong>de</strong> pela garantia <strong>de</strong> qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> e<br />

a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> produto ou serviço (arts. 14 e 18 <strong>do</strong> CDC). Ao contrário <strong>do</strong> que ocorre na responsabilida<strong>de</strong> pelo fato <strong>do</strong><br />

produto, no vício <strong>do</strong> produto a responsabilida<strong>de</strong> é solidária entre to<strong>do</strong>s os fornece<strong>do</strong>res, inclusive o comerciante, a teor <strong>do</strong> que<br />

preconiza o art. 18 <strong>do</strong> menciona<strong>do</strong> Co<strong>de</strong>x” (STJ – REsp 611.872/RJ – Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira – j. 02.10.2012, publica<strong>do</strong><br />

no Informativo n. 505).<br />

“Civil. Processu<strong>al</strong> civil. Recurso especi<strong>al</strong>. <strong>Direito</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Veículo com <strong>de</strong>feito. Responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r.<br />

In<strong>de</strong>nização. Danos morais. V<strong>al</strong>or in<strong>de</strong>nizatório. Redução <strong>do</strong> quantum. Prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sta Corte. 1. Aplicável à hipótese a legislação<br />

consumerista. O fato <strong>de</strong> o recorri<strong>do</strong> adquirir o veículo para uso comerci<strong>al</strong> – taxi – não afasta a sua condição <strong>de</strong> hipossuficiente na<br />

relação com a empresa-recorrente, ensejan<strong>do</strong> a aplicação das normas prot<strong>et</strong>ivas <strong>do</strong> CDC. 2. Verifica-se, in casu, que se trata <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>feito relativo à f<strong>al</strong>ha na segurança, <strong>de</strong> caso em que o produto traz um vício intrínseco que potenci<strong>al</strong>iza um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> consumo,<br />

sujeitan<strong>do</strong>-se o consumi<strong>do</strong>r a um perigo iminente (<strong>de</strong>feito na mangueira <strong>de</strong> <strong>al</strong>imentação <strong>de</strong> combustível <strong>do</strong> veículo, propician<strong>do</strong><br />

vazamento causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> incêndio). Aplicação da regra <strong>do</strong> art. 27 <strong>do</strong> CDC. 3. O Tribun<strong>al</strong> a quo, com base no conjunto fáticoprobatório<br />

trazi<strong>do</strong> aos autos, enten<strong>de</strong>u que o <strong>de</strong>feito fora publicamente reconheci<strong>do</strong> pela recorrente, ao proce<strong>de</strong>r ao rec<strong>al</strong>l com vistas<br />

à substituição da mangueira <strong>de</strong> <strong>al</strong>imentação <strong>do</strong> combustível. A pr<strong>et</strong>endida reversão <strong>do</strong> <strong>de</strong>cisum recorri<strong>do</strong> <strong>de</strong>manda reexame <strong>de</strong><br />

provas an<strong>al</strong>isadas nas instâncias ordinárias. Óbice da Súmula 7/STJ. 4. Esta Corte tem entendimento firma<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que<br />

‘quanto ao dano mor<strong>al</strong>, não há que se f<strong>al</strong>ar em prova, <strong>de</strong>ve-se, sim, comprovar o fato que gerou a <strong>do</strong>r, o sofrimento, sentimentos<br />

íntimos que o ensejam. Prova<strong>do</strong> o fato, impõe-se a con<strong>de</strong>nação’ (Cf. AGA 356.447-RJ, DJ 11.06.2001). 5. Consi<strong>de</strong>radas as<br />

peculiarida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> caso em questão e os princípios <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração e da razoabilida<strong>de</strong>, o v<strong>al</strong>or fixa<strong>do</strong> pelo Tribun<strong>al</strong> a quo, a titulo <strong>de</strong><br />

danos morais, em 100 (cem) s<strong>al</strong>ários mínimos, mostra-se excessivo, não se limitan<strong>do</strong> à compensação <strong>do</strong>s prejuízos advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

evento danoso, pelo que se impõe a respectiva redução à quantia certa <strong>de</strong> R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 6. Recurso conheci<strong>do</strong><br />

parci<strong>al</strong>mente e, nesta parte, provi<strong>do</strong>” (STJ – REsp 575.469/RJ – Quarta Turma – Rel. Min. Jorge Scartezzini – j. 18.11.2004 – DJ<br />

06.12.2004, p. 325).<br />

“Consumi<strong>do</strong>r. Taxista. Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Financiamento para aquisição <strong>de</strong> automóvel. Aplicação <strong>do</strong> CDC. O CDC<br />

inci<strong>de</strong> sobre contrato <strong>de</strong> financiamento celebra<strong>do</strong> entre a CEF e o taxista para aquisição <strong>de</strong> veículo. A multa é c<strong>al</strong>culada sobre o<br />

v<strong>al</strong>or das prestações vencidas, não sobre o tot<strong>al</strong> <strong>do</strong> financiamento (art. 52, § 1º, <strong>do</strong> CDC). Recurso não conheci<strong>do</strong>” (STJ – REsp<br />

231.208/PE – Quarta Turma – Rel. Min. Ruy Rosa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Aguiar – j. 07.12.2000 – DJ 19.03.2001, p. 114).<br />

Pelo mesmo raciocínio, a <strong>de</strong>cisão mais recente <strong>do</strong> STJ a respeito <strong>do</strong> caminhoneiro:<br />

“Civil. Relação <strong>de</strong> consumo. Destinatário fin<strong>al</strong>. A expressão <strong>de</strong>stinatário fin<strong>al</strong>, <strong>de</strong> que trata o art. 2º, caput, <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r abrange quem adquire merca<strong>do</strong>rias para fins não econômicos, e também aqueles que, <strong>de</strong>stinan<strong>do</strong>-os a fins econômicos,<br />

enfrentam o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> consumo em condições <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>; espécie em que caminhoneiro reclama a proteção <strong>do</strong> Código <strong>de</strong><br />

Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r porque o veículo adquiri<strong>do</strong>, utiliza<strong>do</strong> para prestar serviços que lhe possibilitariam sua mantença e a da<br />

família, apresentou <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> fabricação. Recurso especi<strong>al</strong> não conheci<strong>do</strong>” (STJ – REsp 716.877/SP – Terceira Turma – Rel. Min.<br />

Ari Pargendler – j. 21.03.2007 – DJ 23.04.2007, p. 257).<br />

Outros acórdãos mais recentes fazem incidir as mesmas premissas, confirman<strong>do</strong> as p<strong>al</strong>avras expostas por Claudia Lima<br />

Marques. Conforme publica<strong>do</strong> na ferramenta Jurisprudência em Teses (Edição n. 39), <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> da Cidadania, em 2015, “o<br />

Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça admite a mitigação da teoria fin<strong>al</strong>ista para autorizar a incidência <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r<br />

nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), apesar <strong>de</strong> não ser <strong>de</strong>stinatária fin<strong>al</strong> <strong>do</strong> produto ou serviço, apresenta-se em<br />

situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>” (tese n. 1).<br />

Seguin<strong>do</strong> nas concr<strong>et</strong>izações <strong>de</strong>ssa tese, vejamos <strong>de</strong>cisão publicada em 2010 no Informativo n. 441 <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong><br />

Justiça, a respeito da aquisição da aquisição <strong>de</strong> máquina <strong>de</strong> bordar para pequena produção <strong>de</strong> subsistência:<br />

“A jurisprudência <strong>do</strong> STJ a<strong>do</strong>ta o conceito subj<strong>et</strong>ivo ou fin<strong>al</strong>ista <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>r, restrito à pessoa física ou jurídica que adquire o<br />

produto no merca<strong>do</strong> a fim <strong>de</strong> consumi-lo. Contu<strong>do</strong>, a teoria fin<strong>al</strong>ista po<strong>de</strong> ser abrandada a ponto <strong>de</strong> autorizar a aplicação das regras<br />

<strong>do</strong> CDC para resguardar, como consumi<strong>do</strong>res (art. 2º daquele Código), d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong>s profissionais (microempresas e empresários<br />

individuais) que adquirem o bem para usá-lo no exercício <strong>de</strong> sua profissão. Para tanto, há que <strong>de</strong>monstrar sua vulnerabilida<strong>de</strong><br />

técnica, jurídica ou econômica (hipossuficiência). No caso, cuida-se <strong>do</strong> contrato para a aquisição <strong>de</strong> uma máquina <strong>de</strong> bordar<br />

entabula<strong>do</strong> entre a empresa fabricante e a pessoa física que utiliza o bem para sua sobrevivência e <strong>de</strong> sua família, o que <strong>de</strong>monstra<br />

sua vulnerabilida<strong>de</strong> econômica. Destarte, corr<strong>et</strong>a a aplicação das regras <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, a impor a nulida<strong>de</strong> da cláusula<br />

<strong>de</strong> eleição <strong>de</strong> foro que dificulta o livre acesso <strong>do</strong> hipossuficiente ao Judiciário. Prece<strong>de</strong>ntes cita<strong>do</strong>s: REsp 541.867-BA, DJ<br />

16.05.2005; REsp 1.080.719-MG, DJe 17.08.2009; REsp 660.026-RJ, DJ 27.06.2005; REsp 684.613-SP, DJ 1º.07.2005; REsp<br />

669.990-CE, DJ 11.09.2006, e CC 48.647-RS, DJ 05.12.2005” (STJ – REsp 1.010.834-GO – Rel. Min. Nancy Andrighi – j.<br />

03.08.2010).

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