05.05.2017 Views

3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

parágrafo único <strong>do</strong> art. 32 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r não se exauriu. Hipótese em que o produto adquiri<strong>do</strong> não satisfez a<br />

legítima expectativa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. 3. Dano mor<strong>al</strong> não configura<strong>do</strong> pelo simples <strong>de</strong>scumprimento contratu<strong>al</strong>, sem estar agregada<br />

qu<strong>al</strong>quer lesão a atributo <strong>de</strong> person<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Recurso parci<strong>al</strong>mente provi<strong>do</strong>” (TJRS – Recurso Cível 71002661379,<br />

Caxias <strong>do</strong> Sul – Terceira Turma Recurs<strong>al</strong> Cível – Rel. Des. Ricar<strong>do</strong> Torres Hermann – j. 09.11.2010 – DJERS 19.11.2010).<br />

Na mesma linha, em <strong>de</strong>cisão da mesma pioneira Corte Estadu<strong>al</strong>, <strong>de</strong>duziu-se, a título ilustrativo, que o prazo <strong>de</strong> cinco anos é<br />

razoável para que o fabricante assegure a reposição <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> um televisor <strong>de</strong> cinquenta e cinco polegadas e v<strong>al</strong>or consi<strong>de</strong>rável<br />

(TJRS – Recurso Cível 71001812007, Lajea<strong>do</strong> – Terceira Turma Recurs<strong>al</strong> Cível – Rel. Des. João Pedro Cav<strong>al</strong>li Júnior – j.<br />

28.05.2009 – DOERS 05.06.2009, p. 150).<br />

A encerrar o presente tópico, como exposto a respeito <strong>do</strong> caso Lada, é comum que o problema <strong>de</strong> reposição esteja relaciona<strong>do</strong><br />

a peças <strong>de</strong> automóveis, sen<strong>do</strong> necessária a sua importação. Em casos tais, <strong>al</strong>ém da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>do</strong> negócio, é viável<br />

que o consumi<strong>do</strong>r permaneça com o veículo, sen<strong>do</strong> in<strong>de</strong>niza<strong>do</strong> por outros prejuízos, como os danos emergentes da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

locar um outro automóvel para uso próprio (TJRJ – Apelação Cível 8656/1997, Rio <strong>de</strong> Janeiro – Quarta Câmara Cível – Rel. Des.<br />

Semy Glanz – j. 17.03.1998).<br />

6.4.<br />

A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SOLIDÁRIA DECORRENTE DA<br />

OFERTA<br />

Como não po<strong>de</strong>ria ser diferente, em sintonia com o sistema a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo CDC, a responsabilida<strong>de</strong> civil que <strong>de</strong>corre da<br />

vinculação da oferta e da publicida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> natureza obj<strong>et</strong>iva, em regra. Como ensina o Ministro Herman Benjamin, “Sem dúvida<br />

<strong>al</strong>guma, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s arts. 30 e 35 é obj<strong>et</strong>iva, pois seu texto em nada <strong>al</strong>u<strong>de</strong> à culpa <strong>do</strong> anunciante, razão pela qu<strong>al</strong> não<br />

po<strong>de</strong> o intérpr<strong>et</strong>e agregá-la, muito menos num contexto em que, seja pela vulnerabilida<strong>de</strong> da parte protegida (o consumi<strong>do</strong>r), seja<br />

pelas características <strong>do</strong> fenômeno regra<strong>do</strong> (a publicida<strong>de</strong>), o direito, antes mesmo da interferência <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r, já se encaminhava<br />

na direção da obj<strong>et</strong>ivação da responsabilida<strong>de</strong> civil”.12<br />

Para o entendimento da responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva como regra, contribui sobremaneira a parte fin<strong>al</strong> <strong>do</strong> art. 14 <strong>do</strong> CDC, que<br />

estabelece a responsabilida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> culpa nos casos <strong>de</strong> informações insuficientes ou ina<strong>de</strong>quadas sobre a fruição e<br />

riscos <strong>do</strong> serviço. Além disso, não se po<strong>de</strong> esquecer que a quebra da confiança e da boa-fé obj<strong>et</strong>iva gera uma responsabilida<strong>de</strong> sem<br />

culpa (Enuncia<strong>do</strong> n. 363 <strong>do</strong> CJF/STJ), o que, via <strong>de</strong> regra, está presente em relação à oferta ou publicida<strong>de</strong>. No plano<br />

jurispru<strong>de</strong>nci<strong>al</strong>, várias são as ementas <strong>de</strong> julga<strong>do</strong>s que trazem tais conclusões <strong>de</strong> afastamento <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo culposo ou subj<strong>et</strong>ivo na<br />

oferta (TJBA – Recurso 0155094-84.2004.805.0001-1 – Quarta Turma Recurs<strong>al</strong> – Rel. Juíza Eloisa Matta da Silveira Lopes –<br />

DJBA 24.11.2010; TJCE – Recurso Cível 2004.0004.3352-0/1 – Sexta Turma Recurs<strong>al</strong> <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais – Rel. Des.<br />

Heraclito Vieira <strong>de</strong> Sousa N<strong>et</strong>o – DJCE 19.02.2009, p. 184; TJDF – Recurso 2007.11.1.002268-6 – Acórdão 324.616 – Segunda<br />

Turma Recurs<strong>al</strong> <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais Cíveis e Criminais – Rel. Juiz Alfeu Macha<strong>do</strong> – DJDFTE 20.10.2008, p. 147; TJMG –<br />

Apelação Cível 1.0024.05.786808-5/0031, Belo Horizonte – Décima Sexta Câmara Cível – Rel. Des. Batista <strong>de</strong> Abreu – j.<br />

26.03.2008 – DJEMG 26.04.2008; TJRJ – Apelação Cível 9348/2003, Rio <strong>de</strong> Janeiro – Nona Câmara Cível – Rel. Des. Laerson<br />

Mauro – j. 17.06.2003; e 1º TAC-SP – Recurso 952708-2 – Quarta Câmara – Rel. Juiz Luiz Antonio Rizzatto Nunes – j.<br />

29.11.2000).<br />

Imperioso verificar a natureza da responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>do</strong> profission<strong>al</strong> liber<strong>al</strong> em relação à oferta e à publicida<strong>de</strong>, se obj<strong>et</strong>iva<br />

ou subj<strong>et</strong>iva. Por incidência <strong>do</strong> § 4º <strong>do</strong> art. 14 <strong>do</strong> CDC – que, como visto, serve para compl<strong>et</strong>ar o senti<strong>do</strong> da responsabilida<strong>de</strong> pela<br />

oferta –, a responsabilida<strong>de</strong> é subj<strong>et</strong>iva, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser provada a sua culpa. A título <strong>de</strong> exemplo, cite-se a hipótese envolven<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> reparar pesso<strong>al</strong> <strong>do</strong> publicitário responsável pelo conteú<strong>do</strong> das informações ou da celebrida<strong>de</strong> que relaciona o seu nome ao<br />

produto, como se verá.<br />

Além da responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva como regra, a Lei 8.078/1990 estabelece a solidarieda<strong>de</strong> entre to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s na<br />

veiculação da oferta. Preconiza o caput <strong>do</strong> seu art. 34 que “O fornece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> produto ou serviço é solidariamente responsável pelos<br />

atos <strong>de</strong> seus prepostos ou representantes autônomos”. Trata-se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>corrência norm<strong>al</strong> <strong>do</strong> regime <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> r<strong>et</strong>ira<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

art. 7º, parágrafo único, <strong>do</strong> CDC. A<strong>de</strong>mais, como bem expõe a <strong>do</strong>utrina consumerista, a<strong>do</strong>tou-se um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

solidária por relação <strong>de</strong> pressuposição, nos mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong> que consta <strong>do</strong>s arts. 932, inc. III, e 942, parágrafo único, <strong>do</strong> Código Civil<br />

<strong>de</strong> 2002.13<br />

Compare-se que a responsabilida<strong>de</strong> pelo ato <strong>do</strong> preposto é obj<strong>et</strong>iva, com a diferença substanci<strong>al</strong> <strong>de</strong> que, no sistema<br />

consumerista, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se provar a culpa <strong>do</strong> último, <strong>do</strong> preposto. T<strong>al</strong> confrontação é importante, pois, no sistema<br />

civil, a <strong>do</strong>utrina majoritária enten<strong>de</strong> pela responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r ou comitente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que provada a culpa <strong>do</strong><br />

emprega<strong>do</strong> ou preposto, o que é interpr<strong>et</strong>ação <strong>do</strong> art. 933 da codificação privada. 14 Trata-se daquilo que Álvaro Villaça Azeve<strong>do</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!