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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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inserção <strong>de</strong> cláusulas eventu<strong>al</strong>mente discutidas no formulário não afasta a natureza <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são. Somente se houve uma<br />

mudança substanci<strong>al</strong> da estrutura <strong>do</strong> negócio, po<strong>de</strong>rá ele ser ti<strong>do</strong> como um contrato paritário.<br />

De acor<strong>do</strong> com a previsão seguinte, o § 2º <strong>do</strong> art. 54 admite, na figura negoci<strong>al</strong>, a cláusula resolutória, uma condição resolutiva<br />

expressa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esta não traga uma <strong>de</strong>svantagem excessiva ao consumi<strong>do</strong>r. T<strong>al</strong> preceito po<strong>de</strong> abranger a <strong>al</strong>ienação fiduciária em<br />

garantia <strong>de</strong> bem móvel, caso estejam presentes os elementos da relação <strong>de</strong> consumo. O tema merece uma abordagem à parte, diante<br />

da <strong>al</strong>teração <strong>do</strong> art. 3º, § 2º, <strong>do</strong> Decr<strong>et</strong>o-lei 911/1969, pela Lei 10.931/2004, conforme tabela a seguir. Cabe anotar que <strong>do</strong> quadro<br />

comparativo consta o novo tratamento da<strong>do</strong> ao instituto, pela Lei 13.043, <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2014, que modificou o caput <strong>do</strong><br />

coman<strong>do</strong>, sem qu<strong>al</strong>quer relevância para o tema exposto:<br />

Redação anterior<br />

Art. 3º O propri<strong>et</strong>ário fiduciário ou cre<strong>do</strong>r po<strong>de</strong>rá<br />

requerer contra o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r ou terceiro a busca e<br />

apreensão <strong>do</strong> bem <strong>al</strong>iena<strong>do</strong> fiduciariamente, a qu<strong>al</strong><br />

será concedida liminarmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

comprovada a mora ou o inadimplemento <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r.<br />

§ 1º Despachada a inici<strong>al</strong> e executada a liminar, o<br />

réu será cita<strong>do</strong> para, em três dias, apresentar<br />

contestação ou, se já tiver pago 40% (quarenta<br />

por cento) <strong>do</strong> preço financia<strong>do</strong>, requerer a<br />

purgação <strong>de</strong> mora.<br />

§ 2º Na contestação, só se po<strong>de</strong>rá <strong>al</strong>egar o<br />

pagamento <strong>do</strong> débito venci<strong>do</strong> ou o cumprimento<br />

das obrigações contratuais.<br />

Nova redação, conforme a Lei 10.931/2004 e Lei<br />

13.043/2014<br />

Art. 3º O propri<strong>et</strong>ário fiduciário ou cre<strong>do</strong>r po<strong>de</strong>rá, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 2º <strong>do</strong> art. 2º,<br />

ou o inadimplemento, requerer contra o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r ou terceiro a<br />

busca e apreensão <strong>do</strong> bem <strong>al</strong>iena<strong>do</strong> fiduciariamente, a qu<strong>al</strong><br />

será concedida liminarmente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser apreciada em<br />

plantão judiciário.<br />

§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput,<br />

consolidar-se-ão a proprieda<strong>de</strong> e a posse plena e exclusiva <strong>do</strong><br />

bem no patrimônio <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r fiduciário, caben<strong>do</strong> às repartições<br />

comp<strong>et</strong>entes, quan<strong>do</strong> for o caso, expedir novo certifica<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

registro <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> em nome <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r, ou <strong>de</strong> terceiro por<br />

ele indica<strong>do</strong>, livre <strong>do</strong> ônus da proprieda<strong>de</strong> fiduciária.<br />

§ 2º No prazo <strong>do</strong> § 1º, o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r fiduciante po<strong>de</strong>rá pagar a<br />

integr<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> da dívida pen<strong>de</strong>nte, segun<strong>do</strong> os v<strong>al</strong>ores<br />

apresenta<strong>do</strong>s pelo cre<strong>do</strong>r fiduciário na inici<strong>al</strong>, hipótese na<br />

qu<strong>al</strong> o bem lhe será restituí<strong>do</strong> livre <strong>do</strong> ônus.<br />

Diante <strong>de</strong>ssa confrontação, surge o entendimento pelo qu<strong>al</strong> a lei não mais <strong>de</strong>fere, na <strong>al</strong>ienação fiduciária em garantia <strong>de</strong> bens<br />

móveis, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> purgação da mora nos casos em que houver o pagamento <strong>de</strong> 40% (quarenta por cento) <strong>do</strong> v<strong>al</strong>or <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>.<br />

Pela nova redação <strong>do</strong> texto leg<strong>al</strong>, o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r fiduciante teria que pagar integr<strong>al</strong>mente a dívida, pois caso contrário ocorreria<br />

consolidação da proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r fiduciário. Acertadamente, o extinto Segun<strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Alçada Civil <strong>de</strong> São Paulo,<br />

logo após a entrada em vigor da <strong>al</strong>teração, assim não enten<strong>de</strong>u, concluin<strong>do</strong> que o direito <strong>de</strong> purgação da mora está manti<strong>do</strong>, pela<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> liquidação antecipada da dívida. Vejamos esse importante prece<strong>de</strong>nte:<br />

“Agravo <strong>de</strong> instrumento. Alienação fiduciária. Purgação da mora. Faculda<strong>de</strong> não excluída pelas inovações introduzidas no<br />

Decr<strong>et</strong>o-lei 911, <strong>de</strong> 1.º.10.1969, pela Lei 10.931, <strong>de</strong> 02.08.2004. Normas que <strong>de</strong>vem ser interpr<strong>et</strong>adas em conjunto com o art. 54, §<br />

2º, <strong>do</strong> CDC. Recurso improvi<strong>do</strong>” (2º TAC-SP – Agravo <strong>de</strong> Instrumento 869850-0/3, Carapicuíba – Oitava Câmara – Rel. Juiz<br />

Antonio Carlos Vilen – j. 18.11.2004 – Bol<strong>et</strong>im da AASP 2.426, p. 3.513).<br />

Consta <strong>do</strong> julga<strong>do</strong> que o art. 54 <strong>do</strong> CDC admite que os contratos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são contenham cláusula resolutiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a escolha<br />

caiba ao consumi<strong>do</strong>r. Ora, saben<strong>do</strong>-se que a resolução é forma <strong>de</strong> extinção <strong>do</strong>s contratos por inexecução, a “escolha a que se refere<br />

o dispositivo, em caso <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> cláusula resolutória expressa, <strong>de</strong>ve ser interpr<strong>et</strong>ada como a possibilida<strong>de</strong> que o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r em<br />

mora tem <strong>de</strong> optar entre a purgação e a continuida<strong>de</strong> da relação contratu<strong>al</strong>, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, e a extinção por inadimplemento, <strong>de</strong> outro”.<br />

A conclusão é que a inovação introduzida pela Lei 10.931/2004 não é incompatível com essa interpr<strong>et</strong>ação, mas “simplesmente<br />

conferiu mais uma faculda<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, qu<strong>al</strong> seja a <strong>de</strong> obter a extinção <strong>do</strong> contrato, com a restituição <strong>do</strong> bem apreendi<strong>do</strong>, livre <strong>de</strong><br />

ônus, pela integr<strong>al</strong> execução das obrigações pactuadas”. Em suma, permanece íntegro o direito <strong>de</strong> utilização da purgação da mora<br />

em favor <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.<br />

Este autor concorda integr<strong>al</strong>mente com a conclusão <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>, pois está em sintonia com o princípio da conservação negoci<strong>al</strong>,<br />

anexo à função soci<strong>al</strong> <strong>do</strong>s contratos. Em reforço, está mantida a proteção <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res vulneráveis, conforme a Lei<br />

8.078/1990, sen<strong>do</strong> certo que a <strong>al</strong>ienação fiduciária <strong>de</strong> bens móveis quase sempre tem como parte <strong>de</strong>stinatários finais, fáticos e

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