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Assassin's Creed Submundo - Português

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experiência talvez não servisse de nada: afinal de contas, aquilo era algo que ele nunca

havia feito antes, uma linha de trem subterrânea. Tratava-se, nada mais, nada menos, de

uma obra enorme — enorme não, monstruosa. De fato, havia quem dissesse que aquele era

o projeto de construção mais ambicioso jamais feito desde as pirâmides. Um exagero,

claro, mas havia dias em que Fowler bem que concordava.

Fowler decidiu que a maioria da linha, por não ser muito profunda, poderia ser

escavada com um método chamado de “falsos túneis”. Com ele, escava-se uma trincheira

na terra com 8,5 metros de largura e 4,5 de profundidade. Nela se construíam muros de

contenção com três tijolos de espessura. Em alguns trechos eram colocadas vigas de ferro

no topo dos muros laterais; em outros, construíam-se arcos de tijolos. Depois, a

trincheira era coberta e a superfície restabelecida: um novo túnel estava criado.

Isso significava destruir ruas e casas e, em alguns casos, construir estradas

temporárias que mais tarde teriam de ser reconstruídas. Significava transferir toneladas de

matéria e desviar dos sistemas de gás, água e esgoto. Significava forjar um pesadelo

interminável de barulho e destruição, como se houvessem detonado uma bomba no Fleet

Valley londrino. Não. Como se detonassem uma bomba no Fleet Valley todos os dias

durante dois anos.

O trabalho seguia noite adentro, quando eram acesos lampiões e braseiros. Os

operários trabalhavam em dois grandes turnos — cuja mudança era sinalizada pelos três

toques de um sino, ao meio-dia e à meia-noite — e outros menores, em que os homens se

revezavam em uma tarefa extenuante e monótona atrás da outra, mas sempre trabalhando,

sem parar.

Boa parte do barulho vinha das sete esteiras transportadoras usadas na obra, uma das

quais tinha sido construída bem ali: um andaime alto de madeira, erguido no meio do

fosso, com quase nove metros de altura, fonte de imundície e ruído estridente como o de

martelos golpeando uma bigorna. Ela trouxe uma carga de um ponto mais à frente da

escavação e agora os homens — grupos deles — trabalhavam ali. Alguns ficavam no fosso,

outros, na superfície, e outros, pendurados como lêmures na construção, para garantir o

desimpedimento da passagem da esteira enquanto os baldes gigantescos cheios de argila

eram içados para fora da trincheira, balançando.

Na superfície, homens com pás labutavam incansáveis na montanha de terra escavada,

atirando-a em quatro carroças puxadas a cavalo. Cada qual era sobrevoada por uma

nuvem de gaivotas que rodopiavam e mergulhavam para pegar comida da terra, sem dar a

mínima para a chuva que começava a cair.

Fowler virou-se para olhar Charles, que parecia doente (estava segurando um lenço

contra a boca), mas, fora isso, estava de bom humor. Havia um quê indômito em Charles

Pearson, pensou Fowler, sem saber se de determinação ou loucura. Aquele era um

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