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Assassin's Creed Submundo - Português

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homem de quem riram durante quase duas décadas, desde que ele sugeriu a construção

de uma linha subterrânea de trem. “Trens encanados”, era a piada da época. Riram

quando ele revelou seus planos de construir uma ferrovia aérea, com vagões

impulsionados através de um tubo de ar comprimido. Por um tubo. Não é de se admirar

que por mais de uma década Pearson fosse figurinha carimbada na revista Punch. Quanto

não se divertiram às suas custas!

Então, quando todos ainda caçoavam de tudo aquilo, veio um plano, a menina dos

olhos de Pearson — um plano de construir uma linha subterrânea de trem entre

Paddington e Farringdon. Os cortiços do Fleet Valley desapareceriam, seus habitantes

seriam transferidos para lares fora da cidade — nos subúrbios —, e as pessoas usariam

esta nova linha para fazer o trajeto pendular, de Londres para os arredores.

Bastou uma injeção súbita de dinheiro — vinda da Great Western Railway, da Great

Northern Highway e da City of London Corporation — para que o projeto se

transformasse em realidade. Ele, o famoso John Fowler, foi contratado como engenheiro

chefe da Metropolitan Railway Company, e as obras começaram em Euston, no primeiro

fosso de escavações — quase exatamente dezoito meses antes.

E as pessoas continuavam rindo?

Sim, continuavam — só que agora era uma risada entrecortada, melancólica. Porque

dizer que o projeto de Pearson de eliminação dos cortiços tinha ido mal era um

eufemismo. Não havia casas nos subúrbios e, afinal, ninguém estava disposto a construir

nenhuma. E baixa população em cortiços é uma coisa que não existe: todas aquelas

pessoas tiveram de ir para algum canto; portanto, foram para outros cortiços.

E, obviamente, também havia os incômodos causados pela obra em si: ruas que se

tornaram intransitáveis, estradas sendo abertas, empresas que acabavam fechando as

portas, com os negociantes exigindo compensação financeira. Quem vivia ao longo do

trajeto passou a morar no meio de um caos eterno de lama, máquinas, trens, o barulho

agudo das correias transportadoras, o ruído das pás e picaretas e os operários gritando

uns com os outros, e com um medo constante de desabamentos.

Não havia descanso; à noite, o fogo era aceso e o turno noturno começava. O pessoal

do turno diurno então ia fazer o que homens que trabalham no turno diurno fazem:

beber e brigar até de manhã. A impressão que se tinha é que Londres havia sido invadida

por operários que, onde quer que fossem, tomavam conta do lugar; somente as

prostitutas e os taverneiros se alegravam com sua presença.

E havia ainda os acidentes. Primeiro, um motorista de trem bêbado tinha

descarrilhado em King’s Cross e despencado obra abaixo. Ninguém se feriu. A Punch teve

um dia de glória. Então, quase um ano depois, houve um desabamento em Euston Road,

que levou consigo jardins, ruas asfaltadas e cabos telegráficos, destruindo dutos de gás e

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