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Assassin's Creed Submundo - Português

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horizonte. Ele já conseguia sentir dali o fedor horrível dos locais onde se abatiam cavalos,

ferviam ossos, derretiam gordura, fabricavam produtos químicos, fogos de artifício e

palitos de fósforo.

À sua esquerda alguém iludido fizera uma corajosa tentativa de cultivar uma pequena

horta, que acabou sendo tomada pelas ervas daninhas, subindo pelas cercas de ferro que

brotavam do chão. Crianças sujas e quase sem roupa corriam pelo campo aberto para

todos os lados, atirando latas velhas umas nas outras e disparando pela rua em frente aos

casebres. Dentro de cada uma das casas havia quartos e casas de banho, e, à noite, seus

donos e inquilinos se amontoavam ali dentro, exatamente como antes faziam no cortiço

de Rookerg.

A carroça passou pelo abatedouro de cavalos. Sob o arco aguardavam cavalos vivos,

cujo olfato e instinto quase que com certeza já os haviam advertido do destino que os

esperava. Na fábrica, eles seriam abatidos, e sua carne, fervida em tonéis de cobre para

fabricar ração para gatos.

Lá fora, nos pátios, homens sem camisa quebravam ossos com marretas, observados

pelas onipresentes crianças imundas vestidas com farrapos amarelados pelo enxofre que

empesteava o ar.

Abberline avistou um grupo de crianças que obviamente tinham se cansado de ficar

olhando homens quebrando ossos com marretas — afinal de contas, essa era uma

atividade muito chata — e que começaram uma partida de críquete. Sem os equipamentos

do jogo, elas improvisaram: um pedaço da armação de uma cama velha fazia as vezes de

um taco, enquanto a bola era... Abberline estremeceu. Meu Deus. A bola era a cabeça

decapitada de um gatinho.

Ele estava prestes a gritar com as crianças, a pedir que tivessem um pouco de pena e

usassem outra coisa como bola, quando percebeu a presença de uma delas, que havia

rumado para a frente da carroça e agora o obrigava a frear.

— Eia! — gritou, acenando, irado, para o jovem rufião. — Polícia. Saia logo da minha

frente.

Porém, o maldito maltrapilho não arredou pé.

— Para onde está indo, senhor? — perguntou, segurando a cabeça do cavalo com as

duas mãos e afagando-a.

Ver aquilo abrandou um pouco o coração de Abberline, que esqueceu sua irritação

enquanto o garoto corria a ponta dos dedos pelas orelhas do animal, desfrutando daquele

raro momento de intimidade — menino e cavalo.

— Para onde está indo, senhor? — repetiu o garoto, desviando os olhos do cavalo e

voltando seu olhar de pivete para Abberline. — Não tá levando esse aqui pra matança,

espero que não, diga que não.

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