Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
descansasse.
Enquanto isso, Aubrey era considerado desaparecido. “Desaparecido provavelmente
porque estava entediado do trabalho policial e fora de vez para o Green Man”, diziam os
boatos, mas Abberline sabia que não era bem assim. Sabia que o objetivo do ataque havia
sido enviar um recado, e, para todos os efeitos, considerou o recado dado. Deixou de
fazer visitas ao canteiro de obras. Por uma coincidência completa, o sargento da sua
divisão encarregou-o de outra investigação, que o deixava bem longe do canteiro de obras
da ferrovia. “Assim você não fica tentado”, foi o que ele lhe disse ao lhe dar a notícia.
Você está envolvido nisso até o pescoço, não está?, foi o que Abberline pensou, olhando
com fúria secreta para o sargento da sua divisão. Mas ele obedeceu, e, depois que
terminava seu turno, voltava para casa, tirava o uniforme, verificava se Aubrey estava bem,
e, em seguida, ignorava as advertências dele: voltava para o canteiro. Todas as noites,
escondido nas sombras. O que esperava com aquela vigília solitária ele não sabia, mas era
uma vigília mesmo assim.
Aubrey agora já estava se movimentando, embora com certas limitações. Mais tarde,
os dois se sentavam diante da lareira e batiam papo. Abberline falava sobre o caso, estava
obcecado. Aubrey falava de pouca coisa além da família, e, o que é mais pertinente,
perguntava quando iria vê-los.
– Não, Aubs, lamento muito – disse Abberline. – Esses malandros deixaram você
achando que estivesse morto. Se você der as caras de novo, eles vão querer terminar o
serviço. Você fica aqui até isso tudo acabar.
– Mas quando vai acabar, Freddie? – perguntou Aubrey. Movimentou-se com
dificuldade e dor na cadeira. Embora seu rosto não revelasse muito do que ele tinha
sofrido, fora um emaranhado de cicatrizes deixadas em sua bochecha pelas soqueiras de
metal, suas entranhas tinham sido esmurradas. Ele sentia uma dor no quadril que não
parecia que iria embora tão cedo. Aquela dor dificultava que ele andasse, dificultava até
que sentasse, às vezes, e sempre que ele estremecia de dor no quadril, voltava a se lembrar
do quarto escuro desconhecido e dos punhos socando um corpo macio que, um dia,
pertencera a ele.
Aubrey jamais voltaria a ser um policial, mas, graças, a uma mistura de descuido do
torturador com os cuidados de Abberline, ele estava vivo, e jamais se esqueceria de
agradecer por isso. Por outro lado, que vida era aquela, passada longe das pessoas que
amava?
– Como você acha que essa coisa toda, seja lá o que for, vai terminar? – perguntou.
Abberline esticou a mão até a lareira e deu um sorriso triste para o amigo.
– Não sei, Aubs, essa é a verdade. Não sei. Mas guarde minhas palavras: embora eu
não possa dizer que estou no controle da situação, estou por ali, nas proximidades. Vou