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D.Quixote de La Mancha - Unama

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www.nead.unama.br<br />

O André agarrou no seu pão e queijo, e vendo que ninguém lhe dava mais<br />

nada, abaixou a cabeça e meteu pernas ao potro, como se costuma dizer. Verda<strong>de</strong><br />

é que ao partir sempre disse a D. <strong>Quixote</strong>:<br />

— Se me tornar a encontrar, senhor cavaleiro andante, ainda que veja que<br />

me estão fazendo pedaços, por amor <strong>de</strong> Deus não me acuda, <strong>de</strong>ixe-me com a<br />

minha <strong>de</strong>sgraça, que nunca ela será tanta, como a que po<strong>de</strong>ria acarretar o socorro<br />

<strong>de</strong> Vossa Mercê, a quem Nosso Senhor maldiga e a todos quantos cavaleiros<br />

andantes tiverem nascido neste mundo.<br />

Ia-se levantar D. <strong>Quixote</strong> para lhe dar ensino; mas ele <strong>de</strong>satou a correr, <strong>de</strong><br />

modo que ninguém se animou a segui-lo. Com os ditos <strong>de</strong> André ficou D. <strong>Quixote</strong><br />

corridíssimo; e, para o não ficar <strong>de</strong> todo, necessário foi que os mais tivessem sumo<br />

tento em se não rir.<br />

CAPÍTULO XXXII<br />

Que trata do que na venda suce<strong>de</strong>u a todo o rancho <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong>.<br />

Concluída a bela refeição, ensilharam logo, e no dia seguinte, sem lhes ter<br />

pelo caminho sucedido coisa digna <strong>de</strong> contar-se, chegaram à venda, espanto e<br />

enguiço <strong>de</strong> Sancho Pança. Este não queria nem à mão <strong>de</strong> Deus Padre pôr lá os pés,<br />

mas não teve outro remédio.<br />

A ven<strong>de</strong>ira, o ven<strong>de</strong>iro, a filha e Maritornes, que viram chegar D. <strong>Quixote</strong> e<br />

Sancho, saíram a recebê-los com mostras <strong>de</strong> muita alegria, mostras essas que o<br />

fidalgo recebeu com o seu ar grave e majestoso, recomendando-lhes logo que lhe<br />

arranjassem melhor cama que da vez passada; ao que a hospe<strong>de</strong>ira respon<strong>de</strong>u que,<br />

se lhe pagasse melhor que da outra vez, ela lhe daria uma jazida que nem <strong>de</strong><br />

Príncipe.<br />

D. <strong>Quixote</strong> disse que assim o faria; pelo que lhe armaram um sofrível leito no<br />

mesmo quarto que já conhecemos. Deitou-se logo o fidalgo, porque vinha muito<br />

moído e morto <strong>de</strong> sono. Mal se tinha encerrado, quando a ven<strong>de</strong>ira arremeteu ao<br />

barbeiro e, agarrando-o pela barba, disse:<br />

— Juro-lhe pela minha cruz benta que nunca mais se há-<strong>de</strong> servir do meu<br />

rabo para lhe fazer <strong>de</strong> barba. Ponha-me para aí já a rabada, que anda aí pelo chão o<br />

pente do meu homem, que é uma vergonha, sem eu ter on<strong>de</strong> o costumava espetar.<br />

Não lha queria dar o barbeiro, por mais que ela lha puxasse, mas pôs termo à<br />

porfia o licenciado, dizendo ao mestre que entregasse a cauda, que já não era<br />

precisa, e se mostrasse no seu verda<strong>de</strong>iro ser; que disse a D. <strong>Quixote</strong> que, quando<br />

os ladrões o tinham <strong>de</strong>spojado, viera ele fugido para aquela venda; e se ele<br />

perguntasse pelo escu<strong>de</strong>iro da Princesa, lhe respon<strong>de</strong>riam tê-lo ela enviado adiante<br />

a dar aviso à gente do seu reino, <strong>de</strong> que ela ia já a caminho, levando consigo quem<br />

a todos os libertava.<br />

Com estas explicações entregou o barbeiro <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> à ven<strong>de</strong>ira o rabo<br />

<strong>de</strong> boi, e ao mesmo tempo lhe foram também restituídos todos os mais adminículos<br />

que ela lhe havia emprestado para o auto da libertação <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong>. Todos os da<br />

venda se maravilharam da formosura <strong>de</strong> D. Dorotéia e não menos da boa presença<br />

do pastor Cardênio. Mandou o cura lhes arranjassem para comer o que na venda<br />

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