15.04.2013 Views

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

os emboras pela sua chegada, disse-me que já andava em livros a história <strong>de</strong> Vossa<br />

Mercê, com o nome do Engenhoso fidalgo D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> la <strong>Mancha</strong>, e que lá dão<br />

conta <strong>de</strong> mim com o meu próprio nome <strong>de</strong> Sancho Pança, e da senhora Dulcinéia<br />

<strong>de</strong>l Toboso, com outras coisas que passamos a sós, que eu me benzi <strong>de</strong> espantado,<br />

<strong>de</strong> como as pô<strong>de</strong> saber o historiador que as escreveu.<br />

— Asseguro-te, Sancho — tornou D. <strong>Quixote</strong> — que <strong>de</strong>ve <strong>de</strong> ser algum sábio<br />

nigromante o autor da nossa história, que a esses tais nada se lhes encobre do que<br />

querem escrever.<br />

— E, se era sábio o nigromante — redarguiu Sancho — como é que ele se<br />

chama, segundo diz o bacharel Sansão Carrasco, Cid Hamete Beringela?<br />

— Isso é nome <strong>de</strong> mouro — disse D. <strong>Quixote</strong>.<br />

— Assim será — respon<strong>de</strong>u Sancho — porque sempre ouvi dizer que os<br />

mouros gostavam <strong>de</strong> berinjelas.<br />

— Suponho, meu Sancho, que erras nesse nome <strong>de</strong> Cid, que em árabe quer<br />

dizer senhor.<br />

— Po<strong>de</strong> muito bem ser — redarguiu Sancho — mas, se Vossa Mercê quer<br />

que eu o traga aqui, é um instante, enquanto o vou buscar.<br />

— Dar-me-ás nisso muito gosto — disse D. <strong>Quixote</strong> — que fiquei suspenso<br />

com o que me disseste, e não como coisa que bem me saiba, enquanto não for<br />

informado <strong>de</strong> tudo.<br />

— Pois eu vou por ele — respon<strong>de</strong>u Sancho.<br />

E, <strong>de</strong>ixando seu amo, foi procurar o bacharel, com quem voltou daí a pouco, e<br />

houve entre todos três um graciosíssimo colóquio.<br />

CAPÍTULO III<br />

Do divertido arrazoamento que houve entre D. <strong>Quixote</strong>, Sancho Pança e o<br />

bacharel Sansão Carrasco.<br />

Pensativo <strong>de</strong>veras ficou D. <strong>Quixote</strong>, enquanto não vinha o bacharel Carrasco,<br />

<strong>de</strong> quem esperava ouvir as notícias <strong>de</strong> si próprio, postas em livro, como dissera<br />

Sancho, e não se podia persuadir que semelhante história existisse, pois ainda não<br />

estava enxuto na folha da sua espada o sangue dos inimigos que matara, e já<br />

queriam que andassem impressas as suas altas cavalarias. Com tudo isto, imaginou<br />

que algum sábio, ou amigo, ou inimigo, por arte <strong>de</strong> encantamento as haveria dado à<br />

estampa: se amigo, para engran<strong>de</strong>cê-las e levantá-las acima das mais assinaladas<br />

<strong>de</strong> todo e qualquer cavaleiro andante; se inimigo, para as aniquilar e pô-las abaixo<br />

das mais vis que <strong>de</strong> qualquer vil escu<strong>de</strong>iro se houvessem escrito; ainda que dizia<br />

entre si que nunca se escreveram façanhas <strong>de</strong> escu<strong>de</strong>iros; e, quando fosse verda<strong>de</strong><br />

que tal história existisse, sendo <strong>de</strong> cavaleiro andante, havia <strong>de</strong> ser grandíloqua,<br />

altíssona, insigne, magnífica e verda<strong>de</strong>ira. Com isto se consolou um tanto ou quanto;<br />

mas <strong>de</strong>sgostou-o pensar que o seu autor era mouro, como dava a enten<strong>de</strong>r aquele<br />

nome <strong>de</strong> Cid, e dos mouros não se podia esperar verda<strong>de</strong> alguma, porque todos são<br />

embaidores, falsários e mentirosos. Temia que houvesse tratado os seus amores<br />

com alguma in<strong>de</strong>cência, que redundasse em menoscabo e <strong>de</strong>sdouro da sua dama<br />

Dulcinéia <strong>de</strong>l Toboso; <strong>de</strong>sejava que houvesse <strong>de</strong>clarado a sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>coro<br />

que sempre lhe guardara, menosprezando rainhas, imperatrizes e donzelas <strong>de</strong> toda<br />

a qualida<strong>de</strong>, contendo os ímpetos dos movimentos naturais; e assim, envolto e<br />

323

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!