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D.Quixote de La Mancha - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Vossas Mercês, do que a minha raparia a cabeça dos ombros <strong>de</strong> Malambruno; que<br />

Deus suporta os maus, mas não para sempre.<br />

— Ai! — bradou a Dolorida — com benignos olhos contemplem vossa<br />

gran<strong>de</strong>za, valoroso cavaleiro, todas as estrelas das celestes regiões, e infundam no<br />

vosso ânimo toda a prosperida<strong>de</strong> e valentia, para ser<strong>de</strong>s escudo e amparo das<br />

vituperadas e abatidas donas, a quem os boticários abominam, <strong>de</strong> quem os<br />

escu<strong>de</strong>iros murmuram, e que os pajens atormentam, e mal haja a tola que na flor da<br />

ida<strong>de</strong> não preferir ser monja a ser dona; <strong>de</strong>sditosas nós outras, que, ainda que<br />

venhamos em linha reta por varonia do próprio Heitor, o troiano, as nossas senhoras<br />

não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> nos tratar por vós, nem que as façam rainhas. Ó gigante<br />

Malambruno, que, apesar <strong>de</strong> seres nigromante, és certíssimo nas tuas promessas,<br />

envia-nos já o incomparável Clavilenho, para que se acabe esta <strong>de</strong>sdita, que, se<br />

entra o calor e as nossas barbas ainda duram, ai da nossa ventura!<br />

A Trifaldi disse isto com tanto sentimento, que a todos os circunstantes<br />

arrancou lágrimas, e até arrasou <strong>de</strong> água os olhos <strong>de</strong> Sancho; e resolveu no seu<br />

coração acompanhar seu amo até às últimas partes do mundo, se daí resultasse o<br />

tirar a lã àqueles veneráveis rostos.<br />

CAPÍTULO XLI<br />

Da vinda <strong>de</strong> Clavilenho, com o fim <strong>de</strong>sta dilatada aventura.<br />

Nisto, chegou a noite, e com ela o prazo fixado para a vinda <strong>de</strong> Clavilenho,<br />

cuja tardança já fatigava D. <strong>Quixote</strong>, parecendo-lhe que, visto que Malambruno se<br />

<strong>de</strong>morava em enviá-lo, ou não era ele o cavaleiro para quem estava guardada<br />

aquela aventura, ou Malambruno não ousava vir com ele a singular batalha. Eis que<br />

<strong>de</strong> repente entraram pelo jardim quatro selvagens, vestidos todos <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> hera, que<br />

traziam aos ombros um gran<strong>de</strong> cavalo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Puseram-no no chão, e um dos<br />

selvagens disse:<br />

— Monte nesta máquina o cavaleiro, que para isso tiver ânimo.<br />

— Então não monto eu — disse Sancho — que nem tenho ânimo, nem sou<br />

cavaleiro.<br />

E o selvagem prosseguiu, dizendo:<br />

— E se o cavaleiro tiver escu<strong>de</strong>iro, este que monte na garupa, e fie-se no<br />

valoroso Malambruno, que, a não ser pela sua espada, por nenhuma outra, nem por<br />

malícia alguma será ofendido; e basta só dar volta a esta escaravelha que traz no<br />

pescoço, e logo o cavalo os levará pelos ares ao sítio on<strong>de</strong> Malambruno os espera;<br />

mas para que a altura e sublimida<strong>de</strong> do caminho lhes não cause vágados, <strong>de</strong>vem ir<br />

com os olhos tapados, até o cavalo rinchar, que é sinal <strong>de</strong> ter chegado ao termo da<br />

viagem.<br />

Dito isto, <strong>de</strong>ixaram Clavilenho, e saíram, com gentil porte, pelo sítio por on<strong>de</strong><br />

tinham vindo. A Dolorida, assim que viu o cavalo, disse, quase com lágrimas, a D.<br />

<strong>Quixote</strong>:<br />

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