15.04.2013 Views

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

do <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong>, dividido só por um <strong>de</strong>lgado tabique, ouviu o nosso herói dizer-se<br />

<strong>de</strong> repente:<br />

— Por vida <strong>de</strong> Vossa Mercê, senhor D. Jerônimo, vamos ler, enquanto não<br />

vem a ceia, outro capítulo da segunda parte <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> la <strong>Mancha</strong>.<br />

Apenas D. <strong>Quixote</strong> ouviu o seu nome, pôs-se <strong>de</strong> pé, e, com o ouvido alerta,<br />

escutou o que diziam <strong>de</strong>le; e ouviu o tal D. Jerônimo respon<strong>de</strong>r:<br />

— Para que quer Vossa Mercê ler esses disparates, senhor D. João, se quem<br />

tiver lido a primeira parte da história <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> la <strong>Mancha</strong> não po<strong>de</strong> encontrar<br />

gosto em ler a segunda?<br />

— Apesar disso — tornou D. João — sempre se <strong>de</strong>ve ler, porque não há livro<br />

tão ruim que não tenha alguma coisa boa.<br />

— Neste, o que mais me <strong>de</strong>sagrada é pintar D. <strong>Quixote</strong> já <strong>de</strong>senamorado <strong>de</strong><br />

Dulcinéia <strong>de</strong>l Toboso.<br />

Ouvindo isto, D. <strong>Quixote</strong>, cheio <strong>de</strong> ira e <strong>de</strong> <strong>de</strong>speito, levantou a voz e disse:<br />

— A quem disser que D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> la <strong>Mancha</strong> esqueceu ou po<strong>de</strong> esquecer<br />

Dulcinéia <strong>de</strong>l Toboso, eu lhe farei perceber, com armas iguais, que está muito longe<br />

da verda<strong>de</strong>, e que, nem a incomparável Dulcinéia <strong>de</strong>l Toboso po<strong>de</strong> ser olvidada,<br />

nem po<strong>de</strong> caber o olvido no peito <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong>: o seu brasão é a firmeza, e a sua<br />

profissão guardá-la com suavida<strong>de</strong>, e sem esforço algum.<br />

— Quem é que nos respon<strong>de</strong>? — tornaram do outro aposento.<br />

— Quem há-<strong>de</strong> ser — respon<strong>de</strong>u Sancho — senão o próprio D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> la<br />

<strong>Mancha</strong>, que sustentará tudo o que disse, e ainda o que tiver <strong>de</strong> dizer, que ao bom<br />

pagador não lhe custa dar penhor?<br />

Apenas Sancho disse isto, entraram pela porta do seu aposento dois<br />

cavaleiros, e um <strong>de</strong>les, <strong>de</strong>itando os braços ao pescoço <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong>, disse-lhe:<br />

— Nem a vossa presença po<strong>de</strong> <strong>de</strong>smentir o vosso nome, nem o vosso nome<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sacreditar a vossa presença. Sem dúvida, senhor, sois o verda<strong>de</strong>iro D.<br />

<strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> la <strong>Mancha</strong>, norte e luz da cavalaria andante, a <strong>de</strong>speito e apesar <strong>de</strong><br />

quem quis usurpar o vosso nome e aniquilar as vossas façanhas, como fez o autor<br />

<strong>de</strong>ste livro, que aqui vos entrego.<br />

E pôs-lhe um livro nas mãos, livro que o seu companheiro trazia; pegou-lhe D.<br />

<strong>Quixote</strong> e, sem respon<strong>de</strong>r palavra, principiou a folheá-lo; e dali a pedaço <strong>de</strong>volveulho,<br />

dizendo:<br />

— No pouco que vi, achei três coisas neste autor dignas <strong>de</strong> repreensão. A<br />

primeira, são algumas palavras que li no prólogo; a segunda, ser a linguagem<br />

aragonesa, porque muitas vezes escreve sem artigos; e a terceira, que mais o<br />

confirma por ignorante, é o errar e <strong>de</strong>sviar-se da verda<strong>de</strong> no mais principal da<br />

história, porque diz aqui que a mulher do meu Sancho Pança se chama Maria<br />

Gutiérrez, e não se chama tal: chama-se Teresa Pança; e, quem erra nesta parte tão<br />

importante, bem se po<strong>de</strong>rá recear que erre em todas as outras da história.<br />

569

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!