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D.Quixote de La Mancha - Unama

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www.nead.unama.br<br />

que todos se acomodou, <strong>de</strong>itando-se sobre os aparelhos do seu burro, que lhe<br />

custaram tão caros como ao diante se dirá.<br />

Recolhidas as damas no lugar que lhes estava <strong>de</strong>stinado, e acomodando-se<br />

os outros como pu<strong>de</strong>ram, D. <strong>Quixote</strong> saiu fora da venda para fazer a sentinela do<br />

castelo, conforme o tinha prometido.<br />

Estava quase a romper a aurora, quando chegou aos ouvidos das damas uma<br />

voz tão entoada e tão suave, que as obrigou a todas a aplicar o ouvido,<br />

especialmente a Dorotéia, que estava <strong>de</strong>sperta, e ao lado da qual dormia D. Clara<br />

<strong>de</strong> Viedma, que assim se chamava a filha do ouvidor. Ninguém podia imaginar quem<br />

era a pessoa que tão bem cantava, e era uma voz só, sem que a acompanhasse<br />

instrumento algum. Umas vezes parecia-lhes que cantava no pátio, outras que era<br />

na cavalariça, e, estando todas atentas mas nesta confusão, Cardênio chegou à<br />

porta do aposento, e disse:<br />

— Quem não dorme, escute, e ouvirá a voz <strong>de</strong> um moço das mulas, que <strong>de</strong><br />

tal modo canta que encanta.<br />

— Já o ouvimos, senhor — respon<strong>de</strong>u Dorotéia — e com isto se foi Cardênio;<br />

e Dorotéia, prestando toda a sua atenção, enten<strong>de</strong>u que o que se cantava era isto:<br />

CAPÍTULO XLIII<br />

On<strong>de</strong> se conta a agradável história do moço das mulas com outros estranhos<br />

sucessos acontecidos na venda.<br />

Sou marinheiro <strong>de</strong> amor,<br />

e em seu pélago profundo<br />

navego, sem ter esp'rança<br />

<strong>de</strong> encontrar porto no mundo.<br />

E vou seguindo uma estrela,<br />

que brilha no céu escuro,<br />

mais bela e resplan<strong>de</strong>cente<br />

que quantas viu Palinuro.<br />

Eu não sei aon<strong>de</strong> me guia,<br />

e a navegar me costumo,<br />

mirando-a com alma atenta,<br />

cuidoso, mas não do rumo.<br />

Recatos impertinentes,<br />

honestida<strong>de</strong> no apuro,<br />

são as nuvens que ma encobrem,<br />

quando mais vê-la procuro.<br />

Límpida e lúcida estrela,<br />

só teu clarão me conduz!<br />

Extingue-se a minha vida,<br />

em se extinguindo a tua luz.<br />

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