15.04.2013 Views

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> <strong>La</strong> <strong>Mancha</strong><br />

<strong>de</strong> Miguel Cervantes<br />

www.nead.unama.br<br />

Primeira Parte (1605)<br />

Tradução:<br />

Francisco Lopes <strong>de</strong> Azevedo Velho <strong>de</strong> Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá<br />

Coelho (1809-1876)<br />

Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Azevedo<br />

Antônio Feliciano <strong>de</strong> Castilho (1800-1875)<br />

Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castilho<br />

PRIMEIRA PARTE<br />

Livro Primeiro<br />

CAPÍTULO I<br />

Que trata da condição e exercício do famoso fidalgo D. <strong>Quixote</strong> <strong>de</strong> <strong>La</strong><br />

<strong>Mancha</strong>.<br />

Num lugar da <strong>Mancha</strong>, <strong>de</strong> cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há<br />

muito, um fidalgo, dos <strong>de</strong> lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo<br />

corredor.<br />

Passadio olha seu tanto mais <strong>de</strong> vaca do que <strong>de</strong> carneiro, as mais das ceias<br />

restos da carne picados com sua cebola e vinagre, aos sábados outros sobejos<br />

ainda somenos, lentilhas às sextas-feiras, algum pombito <strong>de</strong> crescença aos<br />

domingos, consumiam três quartos do seu haver. O remanescente levavam-no saio<br />

<strong>de</strong> belarte, calças <strong>de</strong> veludo para as festas, com seus pantufos do mesmo; e para os<br />

dias <strong>de</strong> semana o seu bellori do mais fino.<br />

Tinha em casa uma ama que passava dos quarenta, uma sobrinha que não<br />

chegava aos vinte, e um moço da poisada e <strong>de</strong> porta a fora, tanto para o trato do<br />

rocim, como para o da fazenda.<br />

Orçava na ida<strong>de</strong> o nosso fidalgo pelos cinqüenta anos. Era rijo <strong>de</strong> compleição,<br />

seco <strong>de</strong> carnes, enxuto <strong>de</strong> rosto, madrugador, e amigo da caça.<br />

Querem dizer que tinha o sobrenome <strong>de</strong> Quijada ou Quesada (que nisto<br />

discrepam algum tanto os autores que tratam da matéria), ainda que por conjecturas<br />

verossímeis se <strong>de</strong>ixa enten<strong>de</strong>r que se chamava Quijana. Isto, porém pouco faz para<br />

a nossa história; basta que, no que tivermos <strong>de</strong> contar, não nos <strong>de</strong>sviemos da<br />

verda<strong>de</strong> nem um til.<br />

É, pois, <strong>de</strong> saber que este fidalgo, nos intervalos que tinha <strong>de</strong> ócio (que eram<br />

os mais do ano) se dava a ler livros <strong>de</strong> cavalaria, com tanta afeição e gosto, que se<br />

esqueceu quase <strong>de</strong> todo do exercício da caça, e até da administração dos seus<br />

bens; e a tanto chegou a sua curiosida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>satino neste ponto, que ven<strong>de</strong>u muitas<br />

courelas <strong>de</strong> semeadura para comprar livros <strong>de</strong> cavalarias que ler; com o que juntou<br />

em casa quantos pô<strong>de</strong> apanhar daquele gênero.<br />

Dentre todos eles, nenhuns lhe pareciam tão bem como os compostos pelo<br />

famoso Feliciano da Silva, porque a clareza da sua prosa e aquelas intrincadas<br />

2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!