15.04.2013 Views

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Sem esperar resposta do pastor, esten<strong>de</strong>u a mão, e tomou alguns dos que mais<br />

perto lhe estavam.<br />

Vendo aquilo Ambrósio, disse:<br />

— Por cortesia, senhor meu, consentirei que fiqueis com os que tomastes;<br />

mas cuidar<strong>de</strong>s que hão-<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ar<strong>de</strong>r os que restam é pensamento vão.<br />

Vivaldo, que <strong>de</strong>sejava ver o que os papéis rezavam, abriu logo um <strong>de</strong>les, e viu que<br />

tinha por título: Canção <strong>de</strong>sesperada.<br />

Ouviu Ambrósio, e disse:<br />

— Esse é o último papel que o sem-ventura escreveu; e para que vejais,<br />

senhor, o extremo em que o tinham as suas <strong>de</strong>sgraças, le<strong>de</strong>-o <strong>de</strong> modo que sejais<br />

ouvido; bem vos dará tempo a <strong>de</strong>mora <strong>de</strong> se abrir a sepultura.<br />

— Da melhor vonta<strong>de</strong> o farei — respon<strong>de</strong>u Vivaldo. E como todos os<br />

circunstantes tinham o mesmo <strong>de</strong>sejo, puseram-se-lhe em <strong>de</strong>rredor, e ele, lendo em<br />

voz clara, viu que falava assim:<br />

CAPÍTULO XI<br />

On<strong>de</strong> se põem os versos <strong>de</strong>sesperados do pastor <strong>de</strong>funto, com outros imprevistos<br />

sucessos.<br />

Pois <strong>de</strong>sejas, cruel, que se publique<br />

<strong>de</strong> boca em boca, e vá <strong>de</strong> gente em gente,<br />

do teu rigor a nunca vista força;<br />

farei que o mesmo inferno comunique<br />

a este peito aflito um som veemente,<br />

e à minha voz o usual estilo torça.<br />

E a par do meu <strong>de</strong>sejo, que se esforça<br />

a contar minha dor e tuas façanhas,<br />

da voz terrível brotará o acento;<br />

e nele envoltos por maior tormento<br />

pedaços <strong>de</strong>stas míseras entranhas.<br />

Escuta pois, e presta atento ouvido,<br />

não a aprazíveis sons, sim ao ruído,<br />

que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o abismo do meu triste peito,<br />

obrigado <strong>de</strong> indômito <strong>de</strong>lírio,<br />

sai para meu martírio e teu <strong>de</strong>speito.<br />

O rugir do leão; do lobo fero<br />

o ulular temeroso; o silvo horrendo<br />

da escamosa serpente; o formidável<br />

som <strong>de</strong> algum negro monstro; o grasno austero<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!