15.04.2013 Views

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

D.Quixote de La Mancha - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Dessa maneira — respon<strong>de</strong>u D. <strong>Quixote</strong> — viverás longo tempo sobre a<br />

superfície da terra, porque abaixo dos pais se hão-<strong>de</strong> os amos respeitar como se o<br />

foram.<br />

CAPÍTULO XXII<br />

Que trata da alta aventura e preciosa ganância do elmo <strong>de</strong> Mambrino, com<br />

outras coisas sucedidas ao nosso invencível cavaleiro.<br />

Nisto começou a chover um pouco, e quisera Sancho que se recolhessem no<br />

moinho do pisão; mas tamanho teiró lhe havia tomado D. <strong>Quixote</strong> em razão do<br />

<strong>de</strong>sencantamento passado, que por modo nenhum lá quis entrar; e, torcendo o<br />

caminho para a mão direita, <strong>de</strong>ram noutro como o da véspera.<br />

Dali a pouco <strong>de</strong>scobriu D. <strong>Quixote</strong> um homem a cavalo, que trazia na cabeça<br />

coisa que relampagueava como se fora <strong>de</strong> ouro; apenas o viu, voltou-se para<br />

Sancho, e lhe disse:<br />

— Parece-me, Sancho, que não há rifão que não seja verda<strong>de</strong>iro, porque<br />

todos eles são sentenças tiradas da própria experiência, mãe das ciências todas, e<br />

especialmente aquele que diz: "uma porta se fecha, outra se abre". Digo isto,<br />

porque, se a noite passada se nos fechou a porta da ventura que buscávamos,<br />

enganando-nos com os pisões, agora se nos abre outra <strong>de</strong> par em par para melhor e<br />

mais certa aventura. Se eu não acertar a entrar por ela, toda a culpa será minha,<br />

sem eu a po<strong>de</strong>r atribuir, nem a pisões, nem ao escuro da noite. Isto digo, porque, se<br />

me não engano, aí vem caminhando para nós um homem que traz na cabeça o elmo<br />

<strong>de</strong> Mambrino, sobre o qual me ouviste o juramento que sabes.<br />

— Olhe Vossa Mercê bem o que diz, e melhor o que faz — respon<strong>de</strong>u<br />

Sancho. — Deus nos livrara <strong>de</strong> que fossem estes agora outros pisões, que nos<br />

acabassem <strong>de</strong> apisoar, e amofinar-nos o entendimento.<br />

— Valha-te o diabo, homem! — replicou D. <strong>Quixote</strong> — em que se parece um<br />

elmo com um maço <strong>de</strong> pisoeiro?<br />

— Não sei — respon<strong>de</strong>u Sancho — mas afirmo-lhe que, se pu<strong>de</strong>sse agora<br />

falar tanto como era o meu costume, talvez <strong>de</strong>sse tais razões, que Vossa Mercê<br />

veria que se enganava no que diz.<br />

— Como enganar-me no que digo, traiçoeiro escrupulizador? — exclamou D.<br />

<strong>Quixote</strong> — dize-me: não vês aquele cavaleiro que para nós vem sobre um cavalo<br />

ruço rodado, e traz na cabeça um elmo <strong>de</strong> ouro?<br />

— O que eu vejo — respon<strong>de</strong>u Sancho — não é senão um homem<br />

escarranchado num asno pardo, cor do meu, e que traz na cabeça uma coisa que<br />

reluz.<br />

— Pois essa "coisa que reluz" é que é o elmo <strong>de</strong> Mambrino — respon<strong>de</strong>u D.<br />

<strong>Quixote</strong>. — Arreda-te para um lado e <strong>de</strong>ixa-me só com ele; vais ver como eu, sem<br />

proferir palavra, por não esperdiçar tempo, concluo esta aventura, e me aposso do<br />

elmo que tanto <strong>de</strong>sejava.<br />

— O apartar-me eu por minha conta fica — replicou Sancho — mas queira<br />

Deus, torno a dizer, que este mato nos não saia ouregãos, em lugar <strong>de</strong> pisões.<br />

— Já vos hei recomendado, irmão — disse D. <strong>Quixote</strong> — que nem por<br />

pensamentos me torneis a amentar isso dos pisões, que voto... (e não digo mais)<br />

apisoar-vos a alma.<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!