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D.Quixote de La Mancha - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Saragoça podiam encontrar. Apearam-se, e recolheu Sancho a sua <strong>de</strong>spensa num<br />

aposento, <strong>de</strong> que o estalaja<strong>de</strong>iro lhe <strong>de</strong>u a chave. Levou os animais para a<br />

cavalariça, <strong>de</strong>itou-lhes as rações, saiu para receber as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> D. <strong>Quixote</strong>, que<br />

estava sentado num poial, e <strong>de</strong>u graças especiais ao céu por seu amo não ter<br />

tomado aquela venda por castelo. Chegou a hora da ceia; foram para os seus<br />

quartos, e perguntou Sancho ao seu hospe<strong>de</strong>iro o que tinha para lhes dar <strong>de</strong> cear, e<br />

o estalaja<strong>de</strong>iro respon<strong>de</strong>u que podiam pedir por boca; que, <strong>de</strong> pássaros dos ares,<br />

aves do céu e peixes do mar, estava fornecida a sua venda.<br />

— Não é preciso tanto — respon<strong>de</strong>u Sancho — com dois frangos que nos<br />

assem, ficaremos satisfeitos, porque meu amo é <strong>de</strong>licado e come pouco, e eu não<br />

sou nenhum glutão por aí além.<br />

Replicou o estalaja<strong>de</strong>iro que não havia frangos, porque lhos tinham roubado<br />

os milhafres.<br />

— Pois man<strong>de</strong> o senhor estalaja<strong>de</strong>iro assar uma franga que seja tenra.<br />

— Franga! Pai do céu! — respon<strong>de</strong>u o estalaja<strong>de</strong>iro — olhe que man<strong>de</strong>i<br />

ontem à cida<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r mais <strong>de</strong> cinqüenta; mas, a não serem frangas, peça Vossa<br />

Mercê o que quiser.<br />

— Então — disse Sancho — já vejo que há-<strong>de</strong> ter vitela ou cabrito.<br />

— Em casa agora não há nem cabrito, nem vitela — respon<strong>de</strong>u o<br />

estalaja<strong>de</strong>iro — porque se acabaram; mas, para a semana, há-<strong>de</strong> os haver a rodo.<br />

— Lucramos muito com isso! — observou Sancho — Espero ao menos que<br />

todas estas faltas se reme<strong>de</strong>iem com fartura <strong>de</strong> toucinho e <strong>de</strong> ovos.<br />

— Por Deus! Que fraca memória tem o meu hóspe<strong>de</strong>! — tornou o<br />

estalaja<strong>de</strong>iro — Pois se eu já lhe disse que não tenho nem frangas, nem galinhas,<br />

como quer que tenha ovos! Discorra por outros manjares <strong>de</strong>licados, mas não peça<br />

criação.<br />

— Acabemos com isto — tornou Sancho; — diga-me, finalmente, o que tem e<br />

<strong>de</strong>ixe-se <strong>de</strong> histórias.<br />

— Senhor hóspe<strong>de</strong> — redarguiu o ven<strong>de</strong>iro — o que tenho, real e<br />

verda<strong>de</strong>iramente, são duas unhas <strong>de</strong> vaca, que parecem mãos <strong>de</strong> vitela, ou duas<br />

mãos <strong>de</strong> vitela, que parecem unhas <strong>de</strong> vaca. Cozeram-se com grão <strong>de</strong> bico, cebolas<br />

e toucinho, e agora estão mesmo a dizer: Comei-me! Comei-me!<br />

— Já não vão para mais ninguém, senão para nós — disse Sancho — que as<br />

havemos <strong>de</strong> pagar melhor do que quaisquer outros; porque eu por mim não podia<br />

esperar coisa <strong>de</strong> que mais gostasse, e não se me daria que fossem mãos <strong>de</strong> vaca,<br />

em vez <strong>de</strong> serem só unhas.<br />

— Ninguém lhes tocará — afirmou o ven<strong>de</strong>iro — porque outros hóspe<strong>de</strong>s que<br />

tenho são tão principais, que trazem consigo cozinheiro, <strong>de</strong>spenseiro e mantearia.<br />

— Se falamos em principais — disse Sancho — ninguém exce<strong>de</strong> meu amo;<br />

mas o ofício que ele tem não permite <strong>de</strong>spensas; assim, esten<strong>de</strong>mo-nos no meio<br />

dum prado, e ali enchemos a barriga com bolotas ou nêsperas.<br />

Esta foi a prática que Sancho teve com o ven<strong>de</strong>iro, sem querer ir mais adiante<br />

em respon<strong>de</strong>r às perguntas que ele lhe fazia sobre a profissão <strong>de</strong> seu amo. Chegou,<br />

pois, a hora da ceia; recolheu-se ao seu aposento D. <strong>Quixote</strong>, e quando veio a olha,<br />

sentou-se a cear tranqüilamente. Parece que no outro aposento, que estava ao pé<br />

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