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D.Quixote de La Mancha - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Nisto, chegaram à venda, quando já ia a anoitecer, e Sancho ficou mui<br />

satisfeito por ver que seu amo a tomou por verda<strong>de</strong>ira venda e não por castelo,<br />

como costumava. Apenas entraram, logo D. <strong>Quixote</strong> perguntou ao ven<strong>de</strong>iro pelo<br />

homem das lanças e das alabardas, e o ven<strong>de</strong>iro disse-lhe que estava na cavalariça<br />

a acomodar o macho; o mesmo fizeram Sancho e o guia aos seus jumentos, dando<br />

a Rocinante o melhor lugar da estrebaria.<br />

CAPÍTULO XXV<br />

On<strong>de</strong> se conta a aventura dos zurros, e o gracioso caso do homem dos<br />

títeres, com as memoráveis adivinhações do macaco.<br />

Não <strong>de</strong>scansou D. <strong>Quixote</strong> enquanto não pô<strong>de</strong> ouvir e saber as maravilhas<br />

prometidas pelo almocreve das armas. Foi-o buscar ao sítio on<strong>de</strong> o ven<strong>de</strong>iro lhe<br />

dissera que ele estava; encontrou-o e instou-o para que lhe dissesse logo o que lhe<br />

havia <strong>de</strong> dizer <strong>de</strong>pois, acerca do que lhe perguntara no caminho.<br />

O homem respon<strong>de</strong>u-lhe:<br />

— Mais <strong>de</strong>vagar, e sem ser <strong>de</strong> pé, hei-<strong>de</strong> contar as minhas maravilhas; <strong>de</strong>ixeme<br />

Vossa Mercê, meu bom senhor, acabar <strong>de</strong> tratar do macho, que eu lhe direi<br />

coisas que o espantem.<br />

— Lá nisso não esteja a dúvida — respon<strong>de</strong>u D. <strong>Quixote</strong> — que eu vos<br />

ajudarei em tudo.<br />

E assim o fez, começando logo a tratar da ração do animal e da limpeza da<br />

manjedoura, humilda<strong>de</strong> que obrigou o homem a contar-lhe com muito boa vonta<strong>de</strong> o<br />

que ele lhe pedia; e sentando-se num poial, e D. <strong>Quixote</strong> junto <strong>de</strong>le, tendo por<br />

senado e auditório o primo do licenciado, o pajem, Sancho Pança e o ven<strong>de</strong>iro,<br />

principiou a dizer <strong>de</strong>sta maneira:<br />

— Saberão Vossas Mercês que num lugar que fica a quatro léguas e meia<br />

<strong>de</strong>sta venda suce<strong>de</strong>u que a um regedor, por indústria e engano duma rapariga sua<br />

criada (e isto são contos largos), lhe faltou um burro; e, apesar <strong>de</strong> o tal regedor fazer<br />

as possíveis diligências para o encontrar, não o conseguiu. Teriam passado quinze<br />

dias, segundo é pública voz e fama, quando uma vez, estando ele na praça, outro<br />

regedor do mesmo povo lhe disse:<br />

— Dai-me alvíssaras, compadre, que o vosso jumento apareceu.<br />

— Eu vo-las mandarei, e boas, compadre — respon<strong>de</strong>u o primeiro — mas<br />

saibamos on<strong>de</strong> é que ele está.<br />

— No monte o vi eu esta manhã — tornou o outro — sem albarda nem<br />

aparelho <strong>de</strong> espécie alguma, e tão magro, que era uma compaixão; quis ver se o<br />

apanhava, e se vo-lo trazia; mas está já tão bravio e montês, que apenas me<br />

cheguei a ele fugiu a sete pés e sumiu-se; se quereis que vamos ambos procurá-lo,<br />

<strong>de</strong>ixai-me pôr esta burrica lá em casa, que eu já volto.<br />

— Gran<strong>de</strong> favor me fareis — tornou o dono do burro — e eu procurarei pagarvo-lo<br />

na mesma moeda.<br />

Com estas circunstâncias todas, e do modo que eu vou contando, o referem<br />

os que estão inteirados da verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste caso. Enfim, os dois regedores foram a pé<br />

até ao monte e, chegando ao sítio on<strong>de</strong> supuseram encontrar o jumento, não o<br />

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