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D.Quixote de La Mancha - Unama

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Naquele dia e naquela noite caminharam, sem lhes suce<strong>de</strong>r coisa digna <strong>de</strong> se<br />

contar, a não ser o ter acabado Sancho a sua tarefa, com o que ficou D. <strong>Quixote</strong><br />

contentíssimo, e esperava que rompesse o dia, para ver se topava pelo caminho, já<br />

<strong>de</strong>sencantada, Dulcinéia, sua dama; e não encontrava mulher nenhuma, que não<br />

fosse reconhecer se era Dulcinéia <strong>de</strong>l Toboso, tendo por infalível não po<strong>de</strong>rem<br />

mentir as promessas <strong>de</strong> Merlin.<br />

Com estes pensamentos e <strong>de</strong>sejos, subiram por uma encosta arriba, don<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scobriram a sua al<strong>de</strong>ia e, vendo-a Sancho, pôs o joelho em terra e disse:<br />

— Abre os olhos, <strong>de</strong>sejada pátria, e vê que a ti volve Sancho Pança, teu filho,<br />

não muito rico, mas muito bem açoitado. Abre os braços e recebe também teu filho<br />

D. <strong>Quixote</strong> que, se vem vencido pelos braços alheios, vem vencedor <strong>de</strong> si mesmo, o<br />

que, segundo ele me tem dito, é o melhor vencimento que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar. Trago<br />

dinheiro, porque, se bons açoites me davam, muito bem mos pagavam.<br />

— Deixa-te <strong>de</strong>ssas sandices — acudiu D. <strong>Quixote</strong>; — vamos entrar no nosso<br />

lugar com pé direito e lá daremos largas à nossa imaginação e pensaremos no modo<br />

como havemos <strong>de</strong> exercitar a nossa vida pastoril.<br />

Com isto, <strong>de</strong>sceram a encosta e foram para a sua povoação.<br />

CAPÍTULO LXXIII<br />

Dos agouros que teve D. <strong>Quixote</strong> ao entrar na sua al<strong>de</strong>ia, com outros<br />

sucessos que são adorno e crédito <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> história.<br />

À entrada do povo, contou Cid Hamete que viu D. <strong>Quixote</strong> dois pequenos,<br />

renhindo um com o outro; e disse um <strong>de</strong>les:<br />

— Não te canses, Periquito, que nunca a hás-<strong>de</strong> ver nos dias da tua vida.<br />

Ouviu-o D. <strong>Quixote</strong>, e disse para Sancho:<br />

— Não reparas, amigo, que disse aquele pequeno: nunca a hás-<strong>de</strong> ver em<br />

dias da tua vida?<br />

— Mas que importa — respon<strong>de</strong>u Sancho — que o rapaz dissesse isso?<br />

— Que importa? — tornou D. <strong>Quixote</strong> — pois não vês que, aplicando aquela<br />

palavra à minha intenção, quer significar que não tenho <strong>de</strong> ver nunca mais a minha<br />

Dulcinéia?<br />

Ia Sancho para lhe respon<strong>de</strong>r, quando viu que vinha fugindo pela campina<br />

fora, uma lebre, seguida por muitos galgos e caçadores, que veio acolher-se,<br />

receosa, e acachapar-se <strong>de</strong>baixo dos pés do ruço.<br />

Apanhou-a Sancho sem dificulda<strong>de</strong> e apresentou-a a D. <strong>Quixote</strong>, que estava<br />

dizendo:<br />

— Malum signum, malum signum: lebre foge, galgos a seguem, Dulcinéia não<br />

aparece.<br />

— Vossa Mercê é esquisito — disse Sancho; — suponhamos que essa lebre<br />

é Dulcinéia <strong>de</strong>l Toboso, e estes galgos, que a perseguem, são os malandrinos<br />

nigromantes que a transformaram na lavra<strong>de</strong>ira: ela foge, eu apanho-a e entrego-a a<br />

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