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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Isto já o sabe todo aquele que conhece a imutabilidade do vosso Verbo,<br />

imutabilidade que eu já conhecia quanto me era possível, e de que não duvidava<br />

absolutamente nada. Com efeito, mover agora pela vontade os membros do corpo, e logo<br />

depois não os mover; sentir agora um afeto e logo depois já o não sentir; exprimir, por<br />

meio de sinais, sábias idéias, e logo voltar ao silêncio são características da mutabilidade da<br />

alma e da inteligência. Se isso que d'Ele se escreveu fosse falso, também tudo o mais<br />

correria risco de ser mentira, e nenhuma fé salvadora subsistiria nestes livros, para o<br />

gênero humano. Porque tais escritos são autênticos, reconhecia apenas em Cristo um<br />

homem completo: não só um corpo humano ou um corpo e uma alma sem mente 274, mas<br />

um homem real, que eu julgava avantajar-se aos restantes mortais, não por ser a<br />

personificação da Verdade, mas por motivo da grande excelência de sua natureza humana<br />

e de sua mais perfeita participação quanto à Sabedoria.<br />

Alípio, porém, supunha que os católicos acreditavam num Deus, revestido de<br />

carne, de modo que além de Deus e da carne não havia em Cristo uma alma. Não julgava<br />

que Lhe atribuíssem uma inteligência humana. Porque estava bem persuadido de que as<br />

ações de Jesus Cristo, transmitidas à posteridade, não se dariam n'Ele sem uma criatura<br />

vital provida de razão, Alípio, com demasiada preguiça, se ia aproximando da mesma fé<br />

cristã. Mas depois, reconhecendo que tal erro era próprio dos hereges apolinaristas 275,<br />

jubiloso, juntou-se à fé católica.<br />

Confesso, porém, que só um pouco mais tarde aprendi de que modo a verdade<br />

católica se aparta do erro de Fotino, a respeito de "o Verbo se ter feito homem 276". Por<br />

isso a reprovação dos hereges, dá azo a que se manifeste claramente o que sente a vossa<br />

Igreja e o que contém a sã doutrina. "Foi necessário haver hereges para que os fortes se<br />

manifestassem entre os fracos 277."<br />

274<br />

O texto latino traz: "sine mente animum". Mens, na filosofia de <strong>Santo</strong> <strong>Agostinho</strong>, compreende a Ratio, ou faculdade discursiva, de cujo<br />

exercício resulta a ciência; e a inteligência, de cujo exercício resulta a Sabedoria (conhecimento intuitivo do imutável ou puro inteligível).<br />

Mens é o que há de mais sublime na alma. <strong>Agostinho</strong> desconhecia então a inteligência humana de Cristo. (N. do T.)<br />

275<br />

Apolinário, bispo de Laodicéia, viveu no século IV. Negou que em Jesus Cristo houvesse inteligência humana, afirmando que o Verbo<br />

fazia as vezes desta. (N. do T.)<br />

276<br />

Fotino, herege do século IV e bispo de Sírmio, negou a união substancial do Verbo com a natureza humana, de tal forma que Jesus<br />

Cristo era filho adotivo de Deus e puro homem. (N. do T.)<br />

277 1 Cor 11, 19.

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