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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Com que açoites de palavras não flagelei a alma, para que seguisse o impulso que<br />

eu fazia para ir atrás de Vós? Mas ela, renitente, recusava sem se escusar. Todos os<br />

argumentos estavam desfei-<br />

tos e refutados. Só ficara nela um mudo temor. A alma tinha medo, como da<br />

morte, de ser desviada da corrente do vício em que ia apodrecendo mortalmente.<br />

8<br />

No jardim de Milão. Luta espiritual<br />

19. Então, no meio daquela grande refrega que, na minha casa interior, no meu<br />

quarto — o coração —, violentamente tinha travado contra a alma, precipito-me sobre<br />

Alípio, exclamando, perturbado no rosto e no espírito: "Por que sofremos? Que significa<br />

o que acabas de ouvir? Os ignorantes levantam-se e arrebatam o céu 344, e nós, com<br />

doutrinas insensatas, eis como nos revolvemos na carne e no sangue! Teremos vergonha<br />

de os seguir, porque nos precederam, e não nos envergonhamos sequer de os não seguir?"<br />

Tais foram algumas das palavras que disse. A perturbação arrancou-me de Alípio.<br />

Ficou calado e atônito, a olhar-me, por eu falar dum modo insólito. A fronte, as faces, os<br />

olhos, a cor, o timbre da voz descreviam mais o estado da minha alma, do que as palavras<br />

que proferia.<br />

Na habitação de que usávamos, bem como do resto da casa — pois o hospedeiro,<br />

o dono, não a habitava —, havia um pequeno jardim. Para lá me levara o tumulto do meu<br />

peito, onde ninguém era capaz de evitar a ardente luta que eu travara comigo e que se<br />

prolongaria até se resolver o assunto conforme Vós sabíeis e eu ignorava. Esta minha<br />

loucura seria salutar e esta morte, vivificante. Eu sabia o que tinha de mal, e ignorava o<br />

bem que havia de ter pouco tempo depois.<br />

Afastei-me para o jardim e Alípio seguiu-me, passo a passo. Mesmo com ele<br />

presente, a minha solidão continuava. Como me havia ele de deixar, naquele estado?<br />

Sentamo-nos o mais longe possível de casa.<br />

Eu rangia em espírito, irando-me com turbulentíssima indignação, por não poder<br />

seguir o vosso agrado e aliança, ó meu Deus, pela qual todos os meus ossos clamavam,<br />

erguendo-Vos louvores até ao céu. Para lá chegar não se vai de navio, de carro ou a pé,<br />

nem sequer para andar o caminho que tinha percorrido desde casa ao lugar onde<br />

344 Mt 11, 12.

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