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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Eis-me nos campos da minha memória, nos seus antros e cavernas sem número,<br />

repletas, ao infinito, de toda a espécie de coisas que lá estão gravadas, ou por imagens,<br />

como os corpos, ou por si mesmas, como as ciências e as artes, ou, então, por não sei que<br />

noções e sinais, como os movimentos da alma, os quais, ainda quando a não agitam, se<br />

enraízam na memória, posto que esteja na memória tudo o que está na alma. Percorro<br />

todas estas paragens. Vou por aqui e por ali. Penetro por toda parte quanto posso, sem<br />

achar fim. Tão grande é a potência da memória e tal o vigor da vida que reside no homem<br />

vivente e mortal!<br />

Que farei, ó meu Deus, ó minha verdadeira Vida? Transporei esta potência que se<br />

chama memória. Transpô-la-ei para chegar ate Vós, ó minha doce Luz? Que me dizeis?<br />

Subindo em espírito até Vós, que morais lá no alto, acima de mim, transporei esta<br />

potência que se chama memória. Quero alcançar-Vos por onde podeis ser atingido, e<br />

prender-me a Vós por onde for possível. Os animais e as aves têm também memória.<br />

Doutro modo não poderiam regressar aos covis e ninhos, nem fariam muitas outras<br />

coisas a que estão acostumados. Sem a memória não poderiam contrair hábitos nenhuns.<br />

Passarei, pois, além da memória, para poder atingir Aquele que me distinguiu dos<br />

animais e me fez mais sábio que as aves do céu. Passarei, então, para além da memória,<br />

para Vos encontrar. Mas onde, ó Bondade verdadeira e suavidade segura? Para Vos<br />

encontrar, mas onde? Se Vos encontro sem a memória, estou esquecido de Vós. E como<br />

Vos hei de lá encontrar se me não lembro de Vós?<br />

18<br />

A lembrança do objeto perdido<br />

27. A mulher que perdera a dracma 462 e a procurou com a lanterna não a teria<br />

encontrado se dela se não lembrasse. Tendo-a depois achado, como saberia se era aquela,<br />

se dela se não recordasse já? Lembro-me de ter procurado muitos objetos perdidos, e de<br />

os ter encontrado. Sei-o porque, se ao procurar algum desses objetos me perguntavam: "É<br />

este? Não será talvez aquele?", respondia sempre: "Não é", até aparecer o que buscava.<br />

Se já me não recordasse desse objeto, fosse ele qual fosse, poder-mo-iam<br />

apresentar, que eu não o descobriria, por não o poder reconhecer. É sempre o que sucede<br />

quando procuramos e encontramos alguma coisa perdida. Se, por acaso, um objeto —<br />

462 Lc 15.8.

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