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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Receio muito as minhas venialidades ocultas, que vossos olhos conhecem e os<br />

meus não vêem. Nos outros gêneros de tentações, posso examinar-me sem dificuldade;<br />

mas neste, quase nada. A facilidade que alcancei em refrear a alma quanto aos prazeres da<br />

carne e quanto à vã curiosidade, reconheço-a quando me abstenho dessas paixões, quer<br />

seja voluntariamente, quer porque as não tenha diante de mim. Nestes casos, pergunto a<br />

mim mesmo se me causa maior ou menor pena o não tê-las.<br />

Quanto às riquezas que se ambicionam para satisfazer uma ou duas ou mesmo três<br />

concupiscências, se acaso a alma, ao possuí-las, não pode sentir se as despreza, ainda pode<br />

afastá-las para provar o seu desapego. Mas para carecer de louvores e experimentarmos se<br />

podemos passar sem eles, precisaremos nós de entregar-nos a uma vida pecaminosa tão<br />

perdida e brutal que ninguém nos conheça sem nos detestar? Que maior loucura se pode<br />

dizer ou imaginar?<br />

Se o louvor deve ser habitualmente companheiro da vida sã e das boas obras, nesse<br />

caso não nos podemos abster do convívio do louvor que acompanha a vida santa. A<br />

verdade, porém, é que não distinguimos se a privação dum bem nos é indiferente ou<br />

molesta, senão na ausência desse bem.<br />

61. Que Vos hei de eu, Senhor, confessar, neste gênero de tentações? Que me<br />

deleito muito com os louvores? Mas ainda me deleito mais com a verdade do que com os<br />

louvores! Pois, se me dessem à escolha ou ser um doido que se engana em todas as coisas,<br />

mas que é louvado por todos, ou ser um homem seguríssimo da verdade, mas por toda<br />

gente escarnecido, bem sei o que escolheria. Portanto, não quereria que o louvor saído<br />

duns lábios alheios aumentasse o gosto que experimento pela boa obra, seja ela qual for.<br />

Porém, tenho de confessar que não só o louvor lhe aumenta o deleite, mas também que o<br />

vitupério lho diminui.<br />

Quando me perturbo com esta minha miséria, penetra-me na mente uma desculpa<br />

cuja natureza Vós conheceis, meu Deus. Torno-me duvidoso e perplexo ante ela.<br />

Pois Vós não só nos ordenastes a continência, que nos ensina que coisas devemos<br />

afastar da nossa afeição, mas também preceituastes a justiça, que nos ensina para onde<br />

havemos de dirigir o nosso amor. Não quisestes que nos amássemos somente a nós, mas<br />

também ao próximo. Ora, muitas vezes, quando retamente me deleito no louvor que é<br />

dado por uma pessoa inteligente, parece que me comprazo no aproveitamento e nas

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