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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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perfume dos lírios do das violetas, ou então, sem provar nem apalpar, apenas pela<br />

lembrança, prefiro o mel ao arrobe e o macio ao áspero.<br />

14. Tudo isto realizo no imenso palácio da memória. Aí estão presentes o céu, a<br />

terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos, exceto os<br />

que já esqueci. E lá que me encontro a mim mesmo, e recordo as ações que fiz, o seu<br />

tempo, lugar, e até os sentimentos que me dominavam ao praticá-las. É lá que estão<br />

também todos os conhecimentos que recordo, aprendidos ou pela experiência própria ou<br />

pela crença no testemunho de outrem.<br />

Deste conjunto de idéias, tiro analogias de coisas por mim experimentadas ou em<br />

que acreditei apoiado em experiências anteriores. Teço umas e outras com as passadas.<br />

Medito as ações futuras, os acontecimentos, as esperanças. Reflito em tudo, como se me<br />

estivesse presente. "Farei isto e aquilo", digo no meu interior, nesse seio imenso do<br />

espírito, repleto de imagens de tantas e tão grandes coisas. Tiro esta ou aquela conclusão:<br />

"Oh! se sucedesse tal e tal acontecimento! Afaste Deus esta ou aquela calamidade !"<br />

Eis o que exclamo dentro de mim. Ao dizer isso, tenho presentes as imagens de<br />

tudo o que exprime, hauridas do tesouro da memória, pois, se faltassem, absolutamente<br />

nada disto poderia dizer.<br />

15. É grande esta força da memória, imensamente grande, ó meu Deus. É um<br />

santuário infinitamente amplo. Quem o pode sondar até ao profundo? Ora, esta potência<br />

é própria do meu espírito, e pertence à minha natureza. Não chego, porém, a apreender<br />

todo o meu ser. Será porque o espírito é demasiado estreito para se conter a si mesmo?<br />

Então onde está o que de si mesmo não encerra? Estará fora e não dentro dele? Mas<br />

como é que o não contém?<br />

Este ponto faz brotar em mim uma admiração sem limites que me subjuga.<br />

Os homens vão admirar os píncaros dos montes, as ondas alterosas do mar, as<br />

largas correntes dos rios, a amplidão do oceano, as órbitas dos astros: e nem pensam em<br />

si mesmos! Não se admiram de eu ter falado (agora) de todas estas coisas num tempo em<br />

que as não via com os olhos! Ora, não poderia falar delas se, dentro da minha memória,<br />

nos espaços tão vastos como se fora de mim os visse, não observasse os montes, as

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