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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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não podem ter sabor. É ridículo considerar estas coisas como idênticas. Contudo, também<br />

não são inteiramente dessemelhantes.<br />

22. Reparai que me apóio na memória, quando afirmo que são quatro as perturbações<br />

da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza 460. Qualquer que seja o raciocínio que<br />

possa fazer, dividindo cada uma delas pelas espécies dos seus gêneros e definindo-as, aí<br />

encontro que dizer e declaro-o depois. Mas não me altero com nenhuma daquelas<br />

perturbações, quando as relembro com a memória. Ainda antes de eu as recordar e<br />

revolver, já lá estavam. Por isso consegui, mediante a lembrança, arrancá-las dali.<br />

Assim como a comida, graças à ruminação, sai do estômago, assim também elas<br />

saem da memória, devido à lembrança. Então por que é que o disputador, ou aquele que<br />

se vai recordando, não sente, na boca do pensamento, a doçura da alegria, nem a<br />

amargura da tristeza? Porventura nisto é dessemelhante o que não é semelhante em todos os<br />

seus aspectos?<br />

Quem de nós falaria voluntariamente da tristeza e do temor, se fôssemos<br />

obrigados a entristecer-nos e a temer, sempre que falamos de tristeza ou temor? Contudo,<br />

não os traríamos a conversa se não encontrássemos na nossa memória, não só os sons<br />

destas palavras, conforme as imagens gravadas em nós pelos sentidos corporais, mas<br />

também a noção desses mesmos sentimentos. As noções não as alcançamos por nenhuma<br />

porta da carne, mas foi o espírito que, pela experiência das próprias emoções, as sentiu e<br />

confiou à memória; ou então foi a própria memória que as reteve sem que ninguém lhas<br />

entregasse.<br />

15<br />

A memória das coisas ausentes<br />

23. Quem poderá facilmente explicar se esta recordação se produz por meio de<br />

imagens ou não? Pronuncio o nome, por exemplo, de "pedra", ou de "sol", quando tais<br />

objetos me não estão presentes aos sentidos. É claro que as suas imagens estão-me<br />

presentes na memória. Evoco a dor corporal: se nada me dói, não a posso ter presente.<br />

Contudo, se a sua imagem me não estivesse presente na memória, eu não sabia o que<br />

dizia, e, ao raciocinar, não a distinguiria do prazer. Profiro o nome de "saúde" corporal,<br />

quando estou bom de saúde. Aqui já tenho presente o próprio objeto. Porém, se a sua<br />

460 Estas perturbações são o que a psicologia moderna chama paixões fundamentais. Cícero também as denomina perturbações<br />

(Tusculanas, IV, 6). (N. do T.)

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