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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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ecordar: pois, ainda quando interrogamos, não pretendemos nada mais do que fazer<br />

saber a quem for interrogado o que dele queremos ouvir; depois vimos que, quando<br />

cantamos, aquilo que fazemos apenas por prazer não pertence propriamente à locução; e<br />

quando na oração nos dirigimos a Deus, a quem não cremos poder ensinar ou recordar<br />

algo, as palavras têm valor ou para admoestar a nós mesmos ou para, por nós, admoestar<br />

e instruir aos outros. Sucessivamente, depois de suficientemente teres demonstrado que as<br />

palavras nada mais são do que sinais e que não pode existir sinal sem significar algo,<br />

apresentaste um verso, cujas palavras procurei explicar, no seu significado, uma por uma;<br />

o verso era: "Si nihil ex tanta superis placet urbe relinqui". Quanto à sua segunda palavra (nihil)<br />

apesar de conhecidíssima, não conseguimos, no entanto, encontrar o que significava, pois<br />

a mim me parecia que nós, quando falamos, não a empregamos inutilmente, mas para<br />

ensinar algo a quem nos ouve; isto é, parecia-me que com esta palavra se indicasse, talvez,<br />

o estado mesmo da mente, quando acha que não existe a coisa que procura ou que julga<br />

tê-la achado, e tu me respondeste evitando com uma brincadeira aprofundar não sei de<br />

que maneira a questão, e adiando para outro momento o esclarecimento: não acredites,<br />

pois, que eu me esqueça dessa tua dívida para comigo. Depois, enquanto eu procurava<br />

explicar a terceira palavra do verso, fui por ti convidado a não indicar outra palavra que<br />

tivesse o mesmo valor, mas, pelo contrário, a mostrar a própria coisa significada pelas<br />

palavras. Depois de responder, durante a nossa conversação, que isto não seria possível,<br />

passamos para aquelas coisas que podem ser indigitadas aos nossos interlocutores.<br />

Pensava eu que tais fossem todas as coisas corpóreas, mas achamos serem assim somente<br />

as visíveis. Daí passamos, não sei de que modo, aos surdos e aos histriões, observando<br />

que significam pelo gesto e sem a voz não apenas as coisas visíveis, senão muitas outras e<br />

quase todas as que expressamos com a palavra, e concordamos em que os gestos também<br />

são sinais. Então recomeçamos a indagar como poderíamos indicar, sem sinal algum, as<br />

mesmas coisas que se indicam pelos sinais, sendo que aquela parede e aquela cor e tudo o<br />

que é visível e que se indica apontando o dedo, devemos convir que é sempre indicado<br />

por certo sinal. Aqui, eu, errando, disse que nada de semelhante poderíamos encontrar, e,<br />

não obstante, ficou assentado entre nós que se poderia demonstrar sem sinal aquelas<br />

coisas que nós não fazemos no momento em que somos interrogados, mas que podemos<br />

fazer depois da interrogação; a locução, porém, não é desta espécie, pois se, quando

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