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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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felicidade real não é grega nem latina, mas os gregos, os latinos e os homens de todas as<br />

línguas têm um desejo ardente de a alcançar. E assim, se fosse possível perguntar-lhes a<br />

uma só voz se "queriam ser felizes", todos, sem hesitação, responderiam que sim.<br />

O que não aconteceria, se a memória não conservasse a própria realidade,<br />

significada nessa palavra.<br />

21<br />

A lembrança da felicidade<br />

30. Quem recorda esta felicidade, recordá-la-á como a cidade de Cartago, quem a<br />

viu? Não; a felicidade não é um corpo, e por isso não se vê com os olhos.<br />

Lembramo-la, então, como quem lembra números? Não; porque a estes, quem já<br />

os conhece, não os procura adquirir. Ora, nós, tendo conhecimento da felicidade, amamo-<br />

la. Mais ainda: queremos possuí-la, para sermos felizes.<br />

Lembramo-la talvez como a eloqüência? Também não, porque muitos, ao ouvirem<br />

pronunciar a palavra "eloqüência", recordam logo a sua realidade e desejam ser<br />

eloqüentes, eles, que ainda o não são, e que possuem já qualquer idéia de eloqüência.<br />

Pelos sentidos corporais, prestaram atenção a outros oradores. Foi por isso que se<br />

deleitaram, e agora desejam também ser eloqüentes. É certo que não se deleitariam com a<br />

eloqüência se não a conhecessem por qualquer noção interior, nem a quereriam alcançar,<br />

se com ela se não deleitassem. Porém, não é pelos sentidos corporais que descobrimos a<br />

vida feliz nos outros.<br />

Recordá-la-emos, então, como a alegria? Sim, talvez. Eu lembro-me da alegria<br />

passada, mesmo quando estou triste, e penso na felicidade, quando me encontro<br />

desolado. Nunca vi, nem ouvi, nem cheirei, nem gostei, nem apalpei a alegria com os<br />

sentidos corporais. Simplesmente a experimentei na alma quando me alegrei.<br />

A idéia de alegria enraizou-se-me na memória para mais tarde a poder recordar,<br />

umas vezes com enfado, outras com saudade, segundo as circunstâncias em que me<br />

lembro de ter estado alegre. Assim, por exemplo, inundei-me de gozo em ações torpes<br />

que agora, ao lembrá-las, detesto e aborreço; ou então, alegrei-me em atos legítimos e<br />

honestos, que lembro agora com saudade. Como os não tenho já presentes, evoco com<br />

tristeza essa antiga alegria.

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